Muito além da tradicional família brasileira

Novas formas de união têm conquistado espaço na sociedade atual e demonstram que o amor é maior do que a configuração familiar fortalecida ao longo de séculos.

A realidade na vida de muita gente vem mudando de acordo com o tempo, com isso, diferentes maneiras de convivência têm renovado antigas formas de relacionamento. Resumir uma família ao tradicionalismo construído por uma sociedade arcaica não é mais uma prática totalmente aceita na atualidade e, por isso, outras configurações familiares vêm ganhando mais espaço e direitos. A constituição de uma família não perdeu sua força; é justamente pelo grande simbolismo que ela carrega ao longo de séculos que muita gente opta por lutar pelo reconhecimento de seus relacionamentos, sejam eles tradicionais ou não.

Um exemplo disso é o casamento da dona de casa Erivânia Cristina da Silva, 33, conhecida como Ninha, e da ambulante Juliana Ferreira de Assis, 27. A relação ainda não foi oficializada, mas o casal vive junto há oito anos e cria três crianças, fruto do primeiro relacionamento de Ninha: Lucas Cristiano da Silva, 11; Ester Cristiane da Silva, 4, e Mateus Vitor Silva, 10. “Nosso casamento é como qualquer outro. Nós lutamos juntas, construímos as coisas juntas e pagamos nossas contas também. Alguns vizinhos nos tratam como aberração, não tem respeito, mas isso não nos abala”, revela a dona de casa.

Um levantamento dos matrimônios oficializados no Recife e na Região Metropolitana (RMR) aponta pouco mais de 720 registros em cartório de 2013 a 2015 – dentre os quais as casamentos entre pessoas do mesmo sexo estão em maior número, de acordo com o Segundo Cartório Civil do Recife. Entretanto, Ninha e Juliana não registraram a união porque não consideram o fato relevante. “A gente se ama e isso é a única coisa que importa. Nossa família não nos aceita, mas estamos felizes e isso é a única coisa que vale pra gente”, diz Juliana sobre a falta de apoio dos parentes.

Além das uniões homoafetivas, também há casais que optam por não morarem sob o mesmo teto.  A tendência é incomum, mas vem crescendo nos últimos anos – motivada, muitas vezes, pelo simples prazer da individualidade.  O casamento do professor e ator Antônio Silvio Pinto e da jornalista Ivna Borges é um exemplo dessas novas configurações de união.

Juntos há mais de 22 anos, eles optaram por viver em casas separadas desde o princípio do relacionamento. A decisão, no início, foi por conta dos filhos que já tinham do relacionamento anterior. “Achávamos na época que não seria saudável para eles. Os dela já eram adolescentes e os meus ainda crianças. Certamente, haveria uma incompatibilidade de gerações. Com o tempo, vimos que acertamos”, conta Silvio.

“Muitas vezes tivemos vontade de morar juntos, mas a conjuntura inicial solidificou a relação”, disse Silvio. Ele também comenta os prós e contra desse tipo de relacionamento e revela que a individualidade é um dos pontos fortes. “Do lado positivo o respeito à individualidade e à privacidade, que a meu ver, perde-se muitas vezes no casamento tradicional. No negativo, a necessidade, muitas vezes, de ter a companheira em sua casa em situações do dia a dia”, reconheceu o professor. Quanto a um dia unir as escovas, Silvio foi categórico. “O tempo e o sentimento já oficializou nossa relação. Até o momento estamos bem assim. Talvez na velhice, quem sabe?”

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