Desafio constante

Karoline Gomes

Muitas vezes pessoas com deficiência são vistas com um olhar de pena ou de preconceito pela sociedade. Independente de qual necessidade especial elas precisem, viver numa cidade que não é preparada para acolher todas as pessoas é um desafio constante. A dificuldade de acessibilidade, de locomoção, de sinalização e a falta de mercado de trabalho são alguns obstáculos encontrados no dia a dia. Mas, isso não abala pessoas como Renata Maia.

Pg11_DEFICIENTES_KAROL_2Renatinha, como é chamada pelos mais próximos, consegue ilustrar bem a palavra superação. Formada em serviço social pela UFPE, a moça de 26 anos teve um diagnóstico de paralisia cerebral, aos nove meses de idade “na verdade, foi negligência médica. Eu passei da hora de nascer e tive hipóxia cerebral que é a falta de oxigênio no cérebro”, diz. Renata tem a fala e a parte motora comprometida por causa da paralisia, e desde bebê começou a fazer tratamentos para ajudar a melhorar o seu desempenho. Para muita gente, essas dificuldades poderiam ser um empecilho para realizar sonhos, mas está errado quem pensa que pessoas com algum tipo de deficiência não são capazes de serem competentes no que se propõem a fazer. Ao contrário do que diz a palavra “deficiência”, há muitos exemplos que mostram a eficiência dessas pessoas.

Segundo o último censo do IBGE, cerca de 6,2% da população tem algum tipo de deficiência. O levantamento em parceria com o Ministério da Saúde mostrou que a deficiência visual é a mais representativa e atinge cerca de 3,6% dos brasileiros, seguida por 1,3% da população com algum tipo de deficiência física, 1,1% com deficiência auditiva e 0,8% com alguma deficiência intelectual.

Quando transformamos essas porcentagens em milhares, ou até milhões, de pessoas, é possível notar que é uma fatia considerável da população do país. Renata faz parte desse grupo e faz questão de lutar pelo o que ama “Eu sempre estudei em escola regular, sempre acompanhei a minha turma, mas nunca tive tempo de estudar porque me dedicava integralmente ao meu tratamento. Quando fiz dezoito anos, resolvi me dedicar aos estudos. Fiz cursinho e passei na federal. Fiz serviço social, que foi e que é uma das paixões da minha vida”, comenta. Renata usa o conhecimento do curso para sempre debater a temática da pessoa com deficiência e os direitos como âmbito de políticas públicas.

Outro exemplo que também entra no hall de pessoas que superam obstáculos constantemente, é Rosangela Santos. Para a auxiliar administrativa, de 71 anos e cadeirante, a cidade tem que melhorar muito para que todos consigam mobilidade. “Eu saio sempre acompanha, de carro ou táxi, nunca posso contar com os ônibus adaptados, pois são poucos e não tem um horário certo, por isso fico mais em casa, o custo fica muito alto. Para melhorar essa situação seria bom se tivéssemos mais transportes adaptados”, diz.

Viver em sociedade não é uma tarefa fácil, ainda mais quando se é deficiente. A cidade não é adaptada para atender as necessidades de todos e isso complica ainda mais a vida dessas pessoas. “O fato de ser cadeirante não me impede de realizar meus desejos, o que me impede é a acessibilidade nos lugares, isso sim me atrapalha muito”, comenta Rosangela. Apesar de toda a dificuldade, a auxiliar administrativa se considera realizada no trabalho e diz que não para na primeira barreira que encontra.

Além do transtorno físico, outro problema encontrado é o preconceito. Muitas vezes velado na sociedade, esse comportamento é corriqueiro na vida de pessoas como João Rodrigues, 27, portador da Síndrome de Down. João faz faculdade de pedagogia e sente o olhar das pessoas sobre ele “Eu percebo que me olham diferente. Isso já me incomodou muito, hoje eu estou mais acostumado, mesmo assim ainda é muito desagradável”, comenta.

O estudante alega que muitas vezes é julgado pela síndrome que tem, e não pelo seu lado profissional. Mas, não deixou que isso o abalasse “Eu percebo que as pessoas têm preconceito na hora de contratar alguém com deficiência. É muito difícil. Faço minha faculdade porque acredito e quero ter uma vida como qualquer outro”, explica João.

Os empecilhos encontrados para fazer coisas, aparentemente fáceis para quem não tem algum tipo de deficiência, mostra o quão difícil é viver em sociedade. Estar à margem da coletividade é difícil para quem tenta se inserir nela. Mas, não é impossível. Renata, Rosangela e João são exemplos disso.

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