por Ana Alessandra

DIETA Hayley (esq.) descobriu aos 16 que tinha alergia à lactose e ao glúten (Foto: Ana Alessandra)
DIETA Hayley (esq.) descobriu aos 16 que tinha alergia à lactose e ao glúten (Foto: Ana Alessandra)

“Eu sentia muita dor de estômago, desde sempre. Procurava médicos, eles faziam exames de gastrite e não dava nada”, conta a estudante Camila Perazzo, 21. Essa foi sua rotina por cerca de três anos, até que um dos endocrinologistas que visitou suspeitou que seu problema era de intolerância à lactose e confirmou a condição através de exames. Disfunções digestivas como a celíaca (doença autoimune que impede a absorção de nutrientes essenciais a partir dos alimentos com glúten), alergia ao glúten, intolerância ao açúcar, ou alergia à proteína do leite são cada vez mais comuns de serem desenvolvidas na idade adulta. Estima-se que 7% da população mundial seja alérgica ou sensível ao glúten, mas muitos casos ainda não foram diagnosticados, como foi discutido no Congresso Internacional de Doenças Causadas pela Ingestão de Glúten de 2012.

Descobrindo cedo ou tarde, a solução para se sentir bem novamente é cortar da dieta produtos que contenham glúten, no caso do celíaco, e lactose, no caso do intolerante ao açúcar do leite. A nutricionista funcional Gorette Albuquerque aponta a importância de levar a nova dieta a sério. “Às vezes não fica só nesse patamar, vão-se formando novos problemas e as pessoas acabam também desenvolvendo outras doenças mais graves, como a obesidade, diabetes, hipertensão. Até o próprio câncer pode estar ligado a isso”, explica.

COMEÇO DIFÍCIL Camila Perazzo lembra que o paladar teve que se acostumar (Foto: Ana Alessandra)
COMEÇO DIFÍCIL Camila Perazzo lembra que o paladar teve que se acostumar (Foto: Ana Alessandra)

Quando essas doenças são diagnosticadas até a infância, a adaptação pode ser mais fácil. “Foi bem difícil no início, primeiro porque o meu paladar teve que se acostumar com outras coisas, você já está habituado com o sabor forte de sempre e, quando começa a fazer substituições, acha tudo ruim, tudo sem gosto, fica sem saber o que pode comer”, explica Camilla. “Mas, se me dissessem hoje ‘você já pode voltar a consumir lactose’, eu não voltaria”.

A estudante Vanessa Araújo, 26, descobriu que era celíaca há três anos e, desde então, ainda não conseguiu se desligar completamente dos alimentos com glúten. “Eu acho que já me adaptei, porém se eu tiver vontade de comer um biscoito, eu não vou comer a embalagem inteira, mas um, sim, eu como. Então, nas outras refeições eu volto a seguir a dieta”, explica.

Existem produtos especialmente produzidos sem lactose e sem glúten que ganham cada vez mais espaço no mercado. Para a estudante americana Hayley Drury, 21, esses alimentos fazem grande diferença, já que aos 16 ela descobriu que tinha alergia a ambas as proteínas. “A minha mãe sempre foi interessada em saúde, então desde que éramos pequenos, nós (os irmãos e ela) comemos muito bem, mas eu sempre tive um estômago muito sensível”, conta Hayley. “Os alimentos glúten e lactose free são bem mais caros, mas eu sempre compro”.

Nos Estados Unidos, pode ser um pouco mais fácil encontrar alimentos livres de glúten e lactose, mas por aqui, apesar da popularização, Camilla conta que a rotina de compras mudou em sua casa: “Meus pais fazem no supermercado apenas a feira de frutas e verduras, e também de arroz e feijão que são alimentos que eu posso consumir sem problema, mas as coisas mais específicas temos que comprar em lojinhas saudáveis e fazer uma outra feirinha. É mais caro, muito mais caro. Por exemplo, se antes eu comprava um pacote de bolacha tipo cream cracker por uns R$ 3, hoje eu gasto R$ 20”.