por Mariana Azevedo

Ao tomar a decisão de se tornar padre, um homem precisa estar à altura de certos requisitos. Ter mais de 25 anos, ser solteiro, precisa ter feito oito anos de seminário ou cursado teologia e, na maioria das vezes, também filosofia, e precisa ter sido ordenado diácono. Acima de tudo, é necessário que o homem tenha vocação. Porém, o que acontece quando, após enfrentar todos os passos e exercer o sacerdócio, o padre decidir que não quer mais ser padre? O que deve fazer caso decida abandonar o sacerdócio? Como se reajustar à sociedade?

Segundo o padre Cosmo Francisco, pároco da Igreja Nossa Senhora da Paz, o desprendimento da Igreja muitas vezes é um processo lento e que envolve muita ponderação. “A maioria dos padres se prepara a vida inteira para o exercício do sacerdócio, por isso demora meses, até mesmo anos a tomar a decisão de ‘deixar de ser padre’ definitivamente”, explica.

O padre que decide deixar de exercer o sacerdócio deve solicitar sua desvinculação no Tribunal Diocesano, com desdobramento em Roma. Em seguida, é obrigado pelo Vaticano a assinar uma carta de desligamento. A última etapa é o certificado de dispensa emitido pelo Papa, que permite que ele se case. Se quiser retornar a exercer a atividade, o padre terá de reiniciar o ministério, o que torna o processo de desligamento com a Igreja muito mais difícil e definitivo.

Na maioria das vezes, o fator determinante para a saída do sacerdócio é o celibato. O Movimento das Famílias dos Padres Casados, que engaja os sacerdotes e suas famílias, existe desde 1986 e já tem mais de 5 mil membros no Brasil. Nele, são realizados encontros a cada dois anos, além de possuir um jornal próprio e discussões diárias sobre os mais diversos assuntos. O apoio mútuo é um dos fatores que ajuda os sacerdotes no processo de reintegração à sociedade.

Além da mudança de rotina, quem deixa o trabalho de padre para seguir a voz do coração enfrenta a mudança de pensamento. Para o professor de teologia Ismael Sanches, durante o processo, houve várias reviravoltas. Após exercer a profissão em Portugal, seu país natal, ele deixou o sacerdócio, casou, teve uma filha e ficou viúvo. Passou, então, anos dedicando sua vida de novo à teologia de maneira acadêmica. Até que, aos 75 anos, conheceu uma brasileira, começaram a namorar e ele casou novamente.

Apesar de todas as mudanças serem espontâneas, sempre fica a saudade. “Nunca me arrependi da minha decisão. Continuo, todavia, com muitas saudades das alegrias que o sacerdócio me trouxe”, conta Ismael. Mesmo não podendo mais ministrar missas ou casamentos, os padres nunca deixam a fé e o contato com a Igreja. Segundo Ismael, é impossível viver sem laços estreitos com Deus. “Hoje, apesar de encarar a Igreja com um sentido muito crítico, também tenho a veneração que lhe devo como mãe e mestra”.