por Cristina Maria

As bicicletas sempre foram sonho de consumo de grande parte da população. Quando criança, quem não desejou que o Papai Noel trouxesse uma “magrela” como presente de Natal? Contudo, as “bikes” mudaram bastante: deixaram de ser apenas equipamento de lazer e se transformaram em meio de transporte, instrumento de trabalho e opção de exercício físico. Um símbolo de mudança, para os que estão na busca de uma vida mais saudável.

O técnico em informática Ricardo do Rêgo Barros, 56, é exemplo de quem utilizou o equipamento para mudar a atitude. Passou a praticar ciclismo como atividade física, pois tinha sido diagnosticado pré-diabético e com colesterol alto. Das recomendações médicas, emagrecer era a principal. Por não ser adepto das academias, comprou a bicicleta, passou a pedalar nos fins de semana, perdeu peso e descobriu novo hábito. “Hoje participo de competições na categoria amadora. Junto com um grupo de amigos, pedalamos longas distâncias, nos finais de semana, saindo das fronteiras do Recife”, conta, feliz com a escolha, a mudança e, principalmente, a saúde.

NECESSIDADE Bikes deixaram de ser equipamentos de lazer e passaram a transporte (Foto: Cristina Maria)
NECESSIDADE Bikes deixaram de ser equipamentos de lazer e passaram a transporte (Foto: Cristina Maria)

Também conhecidas como “camelos”, as bicicletas ganharam designs arrojados, passaram a ser fabricadas em diferentes materiais (titânio, fibra de carbono, alumínio e madeira), foi investido nos seus acessórios (segurança e decoração) e sua existência deixou, de fato, de ser relacionada ao “desejo de presente de Natal”. Hoje, são usadas para diversos fins: entregar jornais, alimentos, correspondências, entre várias outras encomendas.

Ronaldo José de Souza, 21, trabalha como “carregador” de compras em frente a um mercadinho, no bairro do Cordeiro. “Comecei a carregar pacotes porque minha namorada ficou grávida, eu precisava ganhar dinheiro, não consegui trabalho, então comprei a bicicleta de segunda mão. Hoje, levo dinheiro para casa e, junto com o da minha mulher, que é vendedora, sustentamos a família”, relata. O modelo da bicicleta com a qual Ronaldo trabalha tem bagageiro dianteiro, específico para transporte de mercadorias. Segundo ele, recebe em média R$ 5 por entrega.

Trabalhadores com poucos recursos financeiros também utilizam como locomoção até o local de trabalho.Contudo, as mudanças novamente apareceram e, atualmente, não apenas a população de classe baixa, mas a média também tem recorrido às bicicletas na busca de fugir do trânsito caótico das cidades, além de aproveitarem a pedalada para entrar em forma, melhorando a saúde. Com a implantação das ciclofaixas e estações de bike,o número de ciclistas cresceu consideravelmente.

Quem usa o transporte frequentemente fala da necessidade de melhorias. “As mudanças realizadas são boas no lazer, mas quem usa a bicicleta no dia a dia, como para trabalhar, é prejudicado. As ciclofaixas não são respeitadas pela maior parte dos motoristas, colocando em risco a vida do ciclista. Para melhorar, é necessária a criação de uma ciclovia. Porém, torna-se quase impossível numa cidade já projetada”, observa o editor de imagens Diego Bertolini, 27.

O rapaz descobriu o novo hábito de pedalada através de amigos. Ele saiu das quatro paredes da academia, comprou a bicicleta e há pouco mais de um ano explora as ruas do Recife em cima da sua “magrela”. O grupo pedala cerca de 40 km em aproximadamente 4h, duas vezes por semana. “A vida sobre duas rodas é fantástica. Você se sente livre e de bem com a vida. Sempre bate uma vontade de ir ainda mais longe”, destaca.

Mudar é uma necessidade presente nos seres humanos. Buscar hábitos diferentes faz parte do processo de construção de personalidade e aprendizado. Às vezes, o uso de equipamentos e objetos, ou adaptação, modernização dos existentes, faz parte desse processo transformador. Dessa forma, aconteceu com as bicicletas e seus usuários. “As magrelas” mudaram visualmente, na utilidade e, atualmente, vêm “criando” pessoas mais ativas, saudáveis e menos estressadas.