por Felipe Bueno

Aposentadoria. Talvez essa seja a última fase da vida em que há uma mudança drástica no cotidiano do indivíduo. Mudança exatamente para deixar de haver mudanças: estacionar. Depois de cumprir o tempo necessário de serviço, o trabalhador tem direito de interromper a carreira para aproveitar o tempo da maneira que quiser. Mas nem todos encaram a nova fase da mesma forma. Sem nenhuma ocupação, a depressão e o desânimo são obstáculos a serem driblados, assim como a nova realidade financeira. Enquanto uns aguardam ansiosamente a folga, outros preferem adiá-la cada vez mais.

APOSENTADORIA Deixar o emprego de lado o mais cedo possível não é a regra (Foto: Felipe Bueno)
APOSENTADORIA Deixar o emprego de lado o mais cedo possível não é a regra (Foto: Felipe Bueno)

No Censo 2010 – último realizado no Brasil -, a população acima de 65 anos alcançou um número superior a 14 milhões de indivíduos, representando 7,4% da população nacional. Essa faixa etária tem crescido de acordo com o aumento da expectativa de vida do brasileiro e é nela que a maioria dos trabalhadores ganha o direito à aposentadoria. Atualmente, é possível se aposentar de acordo com a idade ou com o tempo de contribuição: as mulheres com trabalho urbano podem deixar os serviços aos 60 anos ou após trabalhar durante 30 anos; os homens, aos 65 ou quando somados 35 anos de contribuição. Para os trabalhadores rurais, o número é inferior: 55 anos para as mulheres e 60 para os homens. Mas deixar o emprego de lado o mais cedo possível não é regra.

Nelita Pessoa, 79, e ex-funcionária pública, é uma das que preferiram aposentar-se na idade mínima. “É um alívio poder viver sem se preocupar com horário, tempo de férias, de serviço e essas coisas. De acordo com o que a saúde permite, a gente é livre para fazer o que quiser”, argumenta. Contudo, a pressa que ela teve pode ser prejudicial em alguns casos. Um estudo publicado em 2005 pelo British Medical Journal aponta que profissionais que se aposentam cedo têm uma expectativa de vida notavelmente menor que os demais. A pesquisa foi realizada com 3,5 mil trabalhadores aposentados aos 55, 60 e 65 anos, entre 1973 e 2003. O resultado apontou que a mortalidade mais alta se dá pela inatividade logo após a aposentadoria. “Depois de parar de trabalhar, manter-se física e mentalmente ativo pode ser vital para o idoso ter uma vida satisfatória”, afirma o reumatologista aposentado Geraldo Freitas.

Pensando nisso, há quem adie o máximo possível o fim do tempo de serviço. O professor alemão radicado no Recife Helmut Gress preferiu se aposentar “tarde” (aos 72 anos) e não deixar a vida ativa de vez: não quis dar chance à depressão. “Já fui padre – mas deixei o exercício -, professor e, mesmo depois de me aposentar, participei de projetos sociais no interior. Trabalhar gera autoestima, interação social e é um exercício físico e mental. Deixar tudo isso de uma vez pode ser perigoso e fazer com que não seja essa maravilha toda”, comentou, hoje aos 93.

É consenso que o descanso depois de uma vida de trabalho é esperado e merecido. Porém, aqueles que contribuíram durante tantos anos merecem ter um tempo para gozar de seus privilégios – e é necessário se cuidar. Seja trabalhando com o que gosta ou com outras atividades, é preciso se manter ativo para espantar o envelhecimento precoce.