por Millena Araújo

“É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós”. Essa frase do escritor português José Saramago traduz o sentimento de mudança e determinação de muitos, em especial da intercambista Raphaela Barbosa, 23, que trabalhou durante dois anos como vendedora em um shopping na Zona Sul do Recife para realizar o sonho de conhecer o mundo. Concretizar esse desejo exigiu mudança e coragem, já que a pernambucana “deixou para trás” família, amigos, cultura e cidade natal.

Tudo começou quando, ainda menina, ela escrevia em seu diário uma lista de “um dia farei”. Entre os projetos, desejou viajar, desbravar o mundo. Para conseguir o dinheiro, Raphaela trabalhava seis dias por semana no Shopping Center Recife. E ainda fazia hora extra no tempo livre. A pernambucana tentava conciliar a rotina de trabalho com estudos. Cursou moda, letras e tentou duas vezes concluir marketing, mas não conseguia agregar uma graduação ao seu cotidiano. Sua meta de conhecer o mundo parecia distante. Enquanto morava no Recife, não conheceu nenhum país e foram poucos os Estados brasileiros visitados por ela. “Fui apenas a São Paulo e Alagoas. No Brasil, a vida é muito dura”, conta.

PÉ NO MUNDO Há pouco, Raphaela realizou o sonho de ir à Grécia (Foto: Acervo pessoal de Raphaela Barbosa)
PÉ NO MUNDO Há pouco, Raphaela realizou o sonho de ir à Grécia (Foto: Acervo pessoal de Raphaela Barbosa)

Após juntar o dinheiro, a recifense entrou em contato com uma agência de intercâmbio e escolheu como destino a Holanda por ter o pacote de investimento mais barato comparado à América e outros países da Europa e por se identificar com o país. Em novembro de 2013, Raphaela embarcou pelo programa Au Pair, morou em casa de família, na cidade de Haia, próximo a capital Amsterdam. Em sua primeira experiência sozinha na cidade, ela se perdeu e pensou em desistir. “E, para piorar, não entendia holandês. E meu inglês não era bom o suficiente. Me senti frustrada, mas não queria desistir do meu sonho”, conta.

PÉ NO MUNDO Angélica largou tudo para morar em Zurique
PÉ NO MUNDO Angélica largou tudo para morar em Zurique

Na mesma lista de “um dia farei”, havia vários lugares que almejava conhecer. Um mundo que até então existia apenas na própria imaginação e força de vontade. Em aproximadamente uma semana, aconteceu a adaptação na Europa. Embora muitos pensem o contrário, durante esse período, ela relata que trabalhou bastante para conseguir conhecer outros países. “Para falar a verdade, europeu também trabalha, mas a diferença é que aqui tudo funciona. Não passei um ano e meio contando tulipas e conhecendo o mundo, mas continuei porque é meu sonho”, diz.

Durante o período em terras holandesas, Raphaela fez amizades com outras brasileiras intercambistas e com elas visitou Paris, Milão, Londres, Gottigen, Hannover, Kassel, Hann Müden, Ellershausen e Zurique. “Amei conhecer esses lugares. Recentemente realizei o sonho de ir à Grécia”.  Sobre a experiência no intercâmbio, a pernambucana assume que a parte mais difícil é conhecer e despedir-se  rapidamente das pessoas. “Fiquei apegada ao menino que cuidava em Haia”. Porém, ressalta outra peculiaridade do programa. “Intercâmbio é muita liberdade. Saia todo final de semana sem dar satisfação. No Recife, não dava para fazer isso”, afirma.

Depois de passar um ano e meio na Holanda, a recifense decidiu estudar francês na Bélgica, voltou ao Brasil para visitar parentes, conseguiu o visto e viajou em julho deste ano para Soumagne, distrito de Liège. “Quero continuar conhecendo o mundo. Pra mim, a única parte negativa é a saudade da família e dos amigos, mas não existem pontos negativos quando saímos em busca de nós mesmos”, finaliza.