por Bartolomeu Bittencourt

Eduardo Galeano escreveu certa vez: “Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos”. Para muitos dos que vivem com arte, seja na música, literatura ou artes plásticas, este fazer e mudar é constante e importante para o crescimento. Decisões fortes para os que abdicaram de um emprego e salários fixos por uma busca de qualidade de vida na forma em que acreditam.

Daaniel-Araujo-(1)
Daaniel Araujo

Para o artista plástico e designer gráfico Daaniel Araujo, 29, o momento da mudança é um descobrimento. “Me considero um artista em formação. A escolha de viver de arte era um sonho antigo, pois sempre adorei pensar sobre arte e fazer arte, logo uma hora me percebi munido de capacidade de gerar trabalhos para atender às minhas próprias ideias”, afirma. Daaniel, que também trabalhou com música, juntou as experiências. “Comecei a trabalhar com artes gráficas quando comecei a me envolver com música. Antes, na escola, gostava de ficar desenhando no caderno. Mas foi quando montei minha primeira banda que comecei a pensar no visual”, recorda.

O ambiente de trabalho requer do funcionário dedicação exclusiva naquele horário e obriga uma constante relação com os colegas e chefes. Uma rotina que afasta um pouco o artista da sua criação. O veterinário e artista plástico Raul Luna, 28, buscou folgas no emprego para poder trabalhar nos seus projetos. “Saía de casa às 7h da manhã, para ir ao interior e só voltar de noite para o Recife. Consegui liberar minhas quintas-feiras para poder passar o dia pintando e estudando”, destaca. “Essa flexibilidade que encontrei é importante para que eu possa desenvolver meu trabalho como artista”.

A tranquilidade de ter um emprego fixo pode causar um desconforto no artista que anseia por mudanças. “É um sentimento complicado para mim, quando se fala em quesitos de trabalho. Trabalhei por muitos anos em empresas de design e publicidade. Em algum momento, a situação confortável da rotina me deixou muito inquieto”, afirma Daaniel.

Para a publicitária de formação Nathalia Queiroz, que também por anos trabalhou em empresas da área, essa busca de externar os sentimentos tornou-se seu dia a dia. “Trabalho com ilustração, fotografia, design gráfico. São vários meios e começos que eu vou me inspirando e colocando para fora. Meus projetos vêm de mim, das coisas que vejo, das coisas que vivi. Eu tenho a necessidade de transformar essas coisas em arte”.

NOVA ROTINA

No campo dos músicos, a mudança também é complicada. Os horários do trabalho costumam ser o inverso do comercial, além do dinheiro que não é uma garantia. “No começo, é possível juntar as duas profissões, mas chega uma hora na qual se tem que decidir”, afirma Lucas Dombroysk, 25, que usa o nome artístico de Fro-u no seu projeto musical. “Trabalhava em banco e tinha a certeza do salário certo no fim do mês. Mas a qualidade de vida da forma em que acredito, encontrei na música”. Lucas também trabalha como produtor de eventos musicais.

O salário parece não ser um incômodo para as novas experiências. “No começo, o que eu recebia com meus quadros era bem menos do que na agência. Precisei de um suporte familiar para poder me manter. Conversei com meus pais, expliquei a situação”, relembra Daaniel. “Mas com o tempo, as coisas começaram a surgir. Hoje, têm meses que consigo duplicar aquilo que ganhava dentro do escritório”, destaca. Para o músico Endi Amaral, 26, na mudança atual, o salário fica em segundo plano. “Hoje, recém-formado, o que ganho com música era o mesmo que recebia nos estágios que tive. Mas tenho a consciência de que dificilmente ganharei com música o que poderia ganhar crescendo no meu antigo trabalho”, compara.

“Para mim, a liberdade está ligada à arte. Mudar pelo bem-estar do ser humano é o que importa”, afirma Daaniel, que idealizou uma exposição com outros artistas no seu ateliê em Olinda, durante a Mimo (Mostra Internacional de Música de Olinda), intitulada “Algo além de um Mimo”. Daaniel também já mostrou seus quadros na Casa do Cachorro Preto, além de ter feito exposições no Festival de Inverno de Garanhuns. E, durante o mês de setembro de 2014, seus quadros estiveram expostos no evento “Hiato Figurado”, no Parque Dona Lindu.