por Júlia Teles

Os motivos são muitos e vão desde questões filosóficas e éticas até ambientais. O vegetarianismo surgiu há cerca de cinco milhões de anos e, mesmo pouco adotado, se compararmos com a totalidade da população mundial, é um tema que mais do que nunca vem sendo questionado. No Brasil, país no qual um “churrasquinho” é quase irrecusável, estima-se que 17,5 milhões de pessoas optem por uma dieta livre da carne. É o que diz uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) realizada em 2010.

RECUSA Episódio durante a adolescência fez Emerson parar de comer carne (Foto: Carol Andrade)
RECUSA Episódio durante a adolescência fez Emerson parar de comer carne (Foto: Carol Andrade)

Mas há um fato curioso e cada vez mais comum: enquanto uns decidem mudar os hábitos alimentares abolindo a dieta carnívora de suas vidas, outros optam justamente por abandonar o vegetarianismo. Aos 18 anos, o biólogo Ravi Rocha, 24, decidiu tornar-se vegetariano após assistir a um documentário sobre a situação em alguns abatedouros e os diversos malefícios do consumo da carne. “Eu sempre ouvi muitos comentários sobre como se dava o processo da produção desse tipo de alimento e esse modelo consumista no qual a nossa sociedade está inserido, mas depois de assistir ao filme, não consegui mais comer carne. Aquilo tudo me tocou muito”, revela.

Ravi, que antes não simpatizava com legumes e vegetais, contou que depois que optou pela dieta vegetariana passou a consumir esse tipo de alimento com frequência e até se acostumou com a ideia. “O vegetarianismo abriu minha cabeça e meu paladar para tentar coisas novas. É realmente uma questão de hábito”, conta. Ele, que sempre comeu carne em grande quantidade, movido por motivos culturais e familiares, disse que foi apenas uma questão de tempo até se acostumar e começar a inserir saladas, grãos e frutas nas refeições diárias.

Após três anos de vegetarianismo, Ravi passou a questionar-se sobre a escolha de sua dieta e, então, pesquisou sobre o assunto. “Foi quando eu incluí a meditação na minha vida. Comecei a perceber o meu corpo de uma forma diferente, com mais atenção ao que ele estava tentando me dizer”. Segundo o biólogo, o fato de ter passado a ouvir mais seu próprio corpo o fez perceber que estava na hora de voltar a inserir carne na alimentação. “Aprendi a andar de bicicleta recentemente e, desde então, é um dos meus principais meios de locomoção. Comecei a sentir mais fome e a necessidade de uma alimentação que me deixasse satisfeito por mais tempo. Percebi que o meu corpo estava pedindo isso”.
Ravi, que até hoje não se acostumou a comer carne com frequência, revela que a volta à vida carnívora ocorreu numa fase de autoconhecimento. Em compensação, o vegetarianismo, segundo ele, abriu seus olhos para novas questões da vida e o paladar em relação a outros sabores.
O músico Emerson Sarmento optou pela dieta vegetariana por causa de uma situação vivenciada quando adolescente. “Quando eu tinha 15 anos, me engasguei com um pedaço de carne que me asfixiou por alguns segundos, isso me causou certo pânico de comer carne novamente. A partir daí, em uma pesquisa na internet, vi abatimentos de animais. Comecei, então, a sentir nojo e recusar carne”, revela.

Segundo ele, com o passar do tempo, alguns problemas de saúde foram surgindo. “Perdi muito peso e beirei uma anemia. O médico responsável por meus exames alertou a importância da carne no meu organismo. Também esclareceu que meu corpo já estava habituado às substâncias que esse alimento oferecia para minha imunidade”, contou o músico. Depois da consulta, Emerson voltou a inserir a carne em sua alimentação. Apesar do medo de engasgar novamente, começou comendo peixe e foi retornando ao mundo carnívoro aos poucos.

Emerson também revelou que, apesar de degustar pratos vegetarianos vez ou outra, descobriu-se um grande fã da carne. ”A carne está praticamente em todas as minhas refeições. Acredito que superei alguns traumas e passei a enxergar a necessidade desse tipo de dieta em minha fisiologia”.