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Por Raissa Matias

Nos dias de hoje, existem várias doenças que, de maneira indireta, podem afetar o humor das pessoas. Algumas delas são consideradas pelos profissionais de saúde (se devidamente controladas e acompanhadas) como não muito graves, algo em nível passageiro. No entanto, a depressão, o transtorno bipolar e o de personalidade múltipla são as que se qualificam especialmente como “doenças de humor”. A Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata) divulga, em seu site, que cerca de 340 milhões de pessoas no mundo sofrem de algum tipo de transtorno afetivo. A Organização Mundial de Saúde (OMS), inclusive, classifica a depressão como a quinta maior questão de saúde pública a ser tratada até 2020.

As causas exatas do desenvolvimento dos transtornos de humor não são totalmente conhecidas. Na maioria das vezes, o portador as desenvolve porque sofreu uma perda irreparável, não consegue se adaptar à realidade ou não consegue superar uma grande frustração e inúmeros problemas externos. Para alguns cientistas, as doenças da mente podem ser, também, um sinal de um desequilíbrio químico cerebral.

Os sintomas são muitos, mas facilmente identificáveis. Entre os mais comuns da depressão, por exemplo, estão a falta de ânimo, irritabilidade, desespero, falta de capacidade de sentir alegria, memória ruim e cansaço fácil.

Além do fator biológico, um dos maiores desafios que cercam as doenças de humor é o convívio com elas, tanto para quem a porta quanto para quem cerca o portador. De acordo com a psicóloga Nina Paranhos, o paciente do transtorno bipolar acorda de mau humor e, antes do primeiro gole de café, ele já está experimentando um estado de euforia. Além da imprevisibilidade do humor ou da sua total previsibilidade, no caso exclusivo da depressão, a doença pode trazer ao doente perdas irreversíveis, que se estendem para a vida profissional e para os estudos.

ALCANCE Segundo a Abrata, 340 milhões de pessoas no mundo têm algum transtorno afetivo (Foto: Raíssa Martins)
ALCANCE Segundo a Abrata, 340 milhões de pessoas no mundo têm algum transtorno afetivo (Foto: Raíssa Martins)

A estudante Camila Souza, 18, já sofreu com a depressão. “Lembro que os sintomas começaram a surgir quando eu estava prestes a fazer 15 anos. Meu cotidiano era invadido por uma eterna sensação de incapacidade e infelicidade. Eu não tinha vontade de executar as atividades mais básicas do dia a dia, como comer. Só sentia um desejo incontrolável de ficar o dia inteiro na cama. Nada que os meus pais e amigos fizessem me deixava feliz”.

Camila conta que a situação chegou ao limite quando sua aparência foi ficando muito comprometida. “Perdi uns 16kg, cheguei a pesar 43kg. Estava esquelética, beirando a desnutrição. Foi aí que minha família resolveu intervir e me colocar em acompanhamento psiquiátrico e psicológico ao mesmo tempo. Ter amigos ao meu lado foi essencial para a minha recuperação”.

Hoje, quatro anos depois de um tratamento intenso, Camila está se redescobrindo. Perto de completar 19 anos, a estudante faz planos para o futuro e comemora a saída de uma fase soturna da sua vida. “Eu quero ser arquiteta”, confessa. Além do acompanhamento clínico, ela se permitiu redescobrir as atividades ao ar livre. “Nos fins de semana, me perco por cachoeiras, praias e andanças de bicicleta em grupo. Essas atividades foram essenciais para a minha reintegração social e foi com elas que eu aprendi a viver bem e esperar o futuro com boas expectativas”.

A psicóloga Fabiana Nascimento alerta que quanto mais cedo for iniciado o tratamento contra as doenças de humor, menos danos na vida do paciente ela deixará. “É crucial que a família ou amigos estejam atentos aos primeiros sinais das doenças, porque, quando elas são identificadas logo no início, fica mais difícil evoluir para estágios mais dramáticos”.