por Patrícia Gomes

“Qualquer mudança tem de começar necessariamente dentro do homem. Para depois atingir o todo. A modificação externa, a alteração da sociedade, vem da transformação interior”. O trecho do livro “Não Verás País Nenhum”, de Ignácio Brandão, mostra a situação radical pela qual passou o protagonista do romance. Diferentemente do que a obra narra, o medo não se restringe apenas a situações radicais: há pessoas que tiveram depressão porque mudaram de Estado, por exemplo.

Uma situação simples como mudar de uma casa para outra pode mudar a vida de uma pessoa de forma que tanto pode ser benéfica como maléfica. E isso só depende de uma coisa: adaptação. A mudança mexe com vários aspectos da vida das pessoas, pois antes dela existia a rotina e, também, todo um planejamento. Logo de início, muitos têm dificuldade em se adaptar a essas novas experiências. Foi o que aconteceu com a paciente da psicóloga Conceição de Fátima: “Tenho medo de começar um relacionamento porque, querendo ou não, vou mudar o meu estilo de vida. É desconfortável”, conta Camila Eufrásio, 20 anos.

 

O medo da mudança é caracterizado pelo desconhecido. A mutação em si é algo novo e essa novidade provoca certa ansiedade, que é natural quando está dentro daquilo que se aguarda – faz parte, pois gera alguma expectativa. Nesse cenário, o que leva um indivíduo a mudar pode ter naturezas bem distintas: uma doença, uma perda, um novo relacionamento, um novo trabalho, etc. “Os motivos que fazem uma pessoa sair da sua zona de conforto são diversos: de ordem emocional, de ordem afetiva, ou até mesmo da área de trabalho. Pode ser até o que a pessoa deseje, pois nunca refletiu no que poderia acontecer com ela”, diz a psicóloga Patrícia Cruz. Quando temos medo, desenvolvemos muitas vezes o instinto de defesa.

O medo pode ajudar de certa forma quem está mudando, mas, na situação cotidiana, a falta de conhecimento paralisa em si: sendo assim, o medo não ajuda, atrapalha. E, naturalmente, as situações de novidade acabam levantando dúvidas. As interrogações resistem e elas podem acabar prejudicando o indivíduo. Quais são as consequências disso? Positivas ou negativas? Camila, por exemplo, sente desconforto quando precisa mudar: “Você não sabe o que está te esperando, então você não gosta da sensação que a mudança traz”, conclui.

Em geral, o indivíduo é muito precavido, logo ele tem medo de ousar. Isso acaba sendo prejudicial a partir do momento no qual a pessoa não consegue sair do ciclo onde ela se encontra. “Quando alguém começa a sentir que aquilo é prejudicial para ela, é que realmente precisa procurar um tratamento”, esclarece a estudante de psicologia Amanda Cavalcanti.

Mudar não é fácil. Requer tempo e adaptação. Quando a gente quer mudar, tudo na gente muda. “O medo é muito grande, mesmo em uma situação que é preciso mudar; se eu conheço a circunstância em que me encontro, pode ser menos assustadora”, conta Patrícia.