por Jéssica de Lima

FÉ RENOVADA O Alcorão faz parte da leitura diária de Kamila (Foto: Jéssica de Lima)
FÉ RENOVADA O Alcorão faz parte da leitura diária de Kamila (Foto: Jéssica de Lima)

Kamila Bezerra é fisioterapeuta, tem 25 anos, e recentemente passou por uma mudança drástica. Depois de muito tempo como seguidora da religião católica, ela conheceu o islamismo e se converteu. Quando criança, Kamila frequentava uma igreja protestante por influência dos pais. Na adolescência, aproximou-se do catolicismo, no qual permaneceu até 2013, quando se tornou muçulmana.

A conversão para o Islã é feita através de um ritual em que é recitada a sharada, testemunho individual pelo qual o fiel afirma que há um Deus único e que Muhammad é seu profeta, na presença de duas testemunhas muçulmanas. A partir daí, a pessoa pode ser considerada convertida ao Islã. Kamila conta que a transição foi mais tranquila do que ela imaginava e não houve atrito algum com sua família. “Alguns me chamaram de louca, disseram que minha mãe não deveria aceitar uma coisa dessas, outros fizeram piadas sobre as novas roupas, mas a maioria dos amigos e da família me aceitou bem e respeitou minha decisão”, conta.

“Minha vida mudou praticamente em tudo. Viver em shows, festas, beber e dançar não faz parte da escolha que fiz ao seguir o Islã”

Para quem vê de fora, a vida e a rotina da fisioterapeuta mudaram completamente por conta da nova religião, mas ela afirma que tudo aconteceu de forma muito natural. Depois de ter-se tornado muçulmana, ela teve que passar a obedecer a algumas regras religiosas, como não ter contato físico com homens que não pertençam à sua família, não usar roupas que marquem o corpo e usar o hijab, lenço que cobre os cabelos. Apesar de ter-se adequado tranquilamente aos preceitos da religião, ela admite que, realmente, muita coisa mudou. “Minha vida mudou praticamente em tudo. Viver em shows, festas, beber e dançar não faz parte da escolha que fiz ao seguir o Islã”, conta, sem arrependimento.

Depois que passou a seguir a doutrina islâmica, Kamila afirma que começou a ver a vida de outra forma. “Foi como descobrir que as pessoas não são apenas mais uma no mundo”. Sobre a morte, ela ainda acredita que cada um colhe o que planta. “O Islã vê a morte como uma passagem. Se seguirmos os pilares da religião, se formos boas pessoas em nossas vidas terrenas, teremos uma vida boa no céu, porém, se fizermos o mal, praticarmos haram (pecado), iremos para um lugar ruim, para pagar pelos nossos mal feitos, assim como no cristianismo”, explica.

Apesar da conversão, ela ainda tem contato com sua religião anterior, o catolicismo. Em datas como Natal e Páscoa ela participa dos rituais com a família, mas não há envolvimento espiritual com as comemorações. Ela conta que seus pais pedem que ela esteja presente e, no islamismo, os filhos devem sempre obedecer-lhes.

Segundo o filósofo Harim Britto, a importância que a crença ocupa na vida da pessoa é definida por ela mesma. Ele explica que a religião pode influir nas suas expectativas diante da vida e das pessoas, nas aspirações pessoais, ou, levando para uma escala social maior, ter ou não uma crença e proferi-la publicamente pode ser uma espécie de salvo-conduto ou carta de aceitação para o meio em que a pessoa se encontra. “Muitas pessoas, mesmo que não tenham a vida de um religioso praticante, mantêm o status, para não se verem apartados da sociedade onde convivem”, afirma. Para ele, mudar de religião significa uma mudança de perspectiva diante da vida, podendo indicar a transformação de alguns ideais e crenças. De maneira mais ampla, essa mudança pode resultar uma ressignificação de próprio mundo do indivíduo.

Ter ou não uma crença não faz de ninguém mais ou menos especial, aos olhos da tradição filosófica, explica Harim. Como exemplo, ele cita que, na história da filosofia, grandes pensadores possuíam concepção religiosa, como, por exemplo, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino e outros que se diziam sem religião como, por exemplo, Friedrich Nietzsche, Jean-Paul Sartre e Theodor Adorno.