por Ticiana Machado

Foto-Aninha
DATA POPULAR Apenas 8% dos brasileiros acham que eleitos farão as transformações necessárias (Foto: Ticiana Machado)

Em setembro de 2014, o Data Popular e o Instituto Ideia Inteligência realizaram uma pesquisa com a missão de descobrir o pensamento do cidadão sobre a política brasileira. Cerca de 30 mil pessoas foram entrevistadas via telefone em 129 cidades. O resultado do levantamento deixou evidente a descrença do eleitor de todo o país. Três perguntas foram feitas: Se os candidatos eleitos farão as mudanças necessárias ao país; o que essa modificação significaria; e quais as áreas do Brasil que mais precisam dela. Apenas 8% dos entrevistados acreditam em que os designados promoverão as transformações necessárias. Na segunda questão, 63% dos eleitores afirmaram que se deve mudar o governante e a forma como se governa. A economia foi apontada como o setor mais preocupante por 41% dos questionados.

Um governo voltado às causas sociais desejado pela população nas grandes manifestações de 2013 é quase impossível, de acordo com o jornalista político do Diario de Pernambuco Josué Nogueira. “Há exceções, mas grande parte dos políticos priorizam interesses pessoais, familiares e partidários que costumam vir primeiro. A conquista do próximo mandato é sempre mais importante que qualquer causa social”, afirma.

Para o deputado estadual reeleito pelo PSB-PE Waldemar Borges, o distanciamento de alguns governantes não é suficiente. “Não é o afastamento de personagens individuais que vai resolver a política fechada sem a participação do povo e o controle social”, diz. Ele também afirma que não se deve alimentar expectativas de que a atividade política vai conseguir, por si só, superar todos os problemas do Brasil, pois o governo depende dos cidadãos.

Não é o afastamento de personagens individuais que vai resolver a política fechada sem a participação do povo e o controle social.

A reformulação de toda a estrutura do Estado brasileiro pode ser uma fórmula para o fracasso, como observa o cientista político Vitor Diniz. “O Brasil é uma democracia estável. É preciso definir quais pontos devem ser reformados. Uma mudança geral dificultaria uma mobilização em torno de algum tema específico”, argumenta.

Apesar de parecer uma novidade, a modificação na forma de governar é um desejo antigo dos que já passaram por diferentes momentos políticos e ainda esperam por mudanças. O aposentado Ricardo Breno, 80, se encaixa nessa situação. Ele afirma que houve avanços no Brasil, mas que o sistema ainda deixa espaço para diversos problemas. “A política brasileira é complicada, houve uma melhora nos últimos anos principalmente nos programas sociais voltados aos brasileiros mais necessitados, porém ela abre espaço para casos de corrupção, poder centralizado e ainda falta um diálogo mais próximo da população”.

Dona Severina Cavalcanti, 82 anos, lembra o Golpe de 1964 e compara com a estrutura do regime atual. “A maior mudança por que já passei foi sem dúvida a ditadura militar. Saímos dela com muita luta por parte do povo, que conquistou a democracia para o país. Por ser uma forma de governo ainda nova no Brasil, é de se esperarem aprimoramentos e alterações nos setores que realmente necessitam, como o da saúde e educação”. A lição, nessas poucas décadas de abertura do regime, segue: se há uma desconfiança entre os eleitores e políticos, faz-se necessário que os governantes tirem as propostas do papel e dialoguem com as pessoas. Assim se faz a democracia.