De luta e conquista é feito o Morro da Conceição

Por Jaelson Abreu

No auge da ditadura militar, em 1964, enquanto uma comunidade do Recife clamava por igualdade, D. Helder Câmara era nomeado Arcebispo de Olinda e Recife. Cinco anos depois, ele criou o Movimento de Evangelização e Encontro de Irmãos, despertando nos moradores do Morro da Conceição, na Zona Norte, a força de lutar pelos seus direitos. A iniciativa reunia jovens, adolescentes, mulheres e idosos para discutir as mazelas locais. “Nos encontrávamos nas ladeiras para analisar com os moradores as necessidades do bairro. A gente tinha aula uma vez por semana com as “irmãs estrangeiras”. Depois disso, o Morro tornou-se essa comunidade viva, uma comunidade de luta. Que sofre, mas que tem vitórias. Nós somos uma comunidade em que o pobre acredita no pobre!”, contou Dona Seví.

Dona Severina Paiva de Santana, 80, mora no Morro há mais de sessenta e cinco anos. Chamada carinhosamente como Dona Seví pelos moradores, é coordenadora do Grupo União de Idosos do Morro da Conceição que reúne, todas as quartas-feiras, cerca de sessenta idosos na igreja de Nossa Senhora da Conceição. A organização valoriza os idosos a partir de atividades como passeios culturais, pintura em tecidos, artesanatos com produtos recicláveis, dança e acompanhamento psicológico.

Já Alba Helena, também moradora do bairro, deu um grande passo ao ajudar pessoas com deficiência física e mental da comunidade. Diagnosticada com Síndrome de Down desde o nascimento, Gisele, hoje com 32 anos, necessitava de tratamentos fisioterapeuticos para desenvolver a coordenação motora e outras habilidades. Ela despertou em Alba a vontade de ajudar outras crianças especiais.

Junto às iniciativas de saúde, Alba visitou muitas famílias e descobriu crianças com deficiência mental que viviam presas em casa sob o efeito de medicamentos antidepressivos. Foi aí, então, que nasceu o CERVAC (Centro de Reabilitação e Valorização da Criança). Formada em fonoaudiologia, Alba Helena coordena o núcleo de saúde da instituição. São trinta funcionários com carteira assinada e mais de cem voluntários entre pessoas da comunidade e mães de crianças cadastradas. O centro oferece terapia para mais de trezentas crianças de todo o Estado e também realiza atividades lúdicas, musicais e esportivas.

Desde sua criação, o CERVAC se mantém por meio de doações de produtos de limpeza e higiene pessoal, alimentação, brinquedos, roupas, entre outras necessidades. Para uma das coordenadoras do centro, Michele Souza, foi graças aos movimentos sociais que a comunidade virou referência na luta pelos direitos do povo. “Não é de hoje que a comunidade se mobiliza na luta pela consciência política, pelos direitos essenciais do cidadão que muitas vezes é marginalizado pelo poder público. Nós tivemos muito apoio do poder público depois que fomos buscar esse apoio. Senão, até hoje, o Morro da conceição era uma favela, e não uma comunidade!” respondeu.

Resultado desse engajamento social, a comunidade conta atualmente com um terminal de ônibus, duas escolas públicas, creche, um núcleo de polícia militar, além de grupos culturais de maracatu, samba, repentista e uma igreja histórica conhecida em todo o Brasil.

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