Um projeto sem exclusão

A situação de exclusão social e falta de oportunidades de estudo e crescimento pessoal também alcançam as crianças e adolescentes, que muitas vezes, estão expostos a riscos no dia a dia. Os obstáculos a serem vencidos são grandes: observa-se em vias públicas crianças em trabalhos infantis, dormindo nas ruas e consumindo drogas. A libertação das opressões vivenciadas e o estímulo a autoestima parecem difíceis. Mas há quem se empenhe em batalhar por essas crianças.

Para garantir os direitos sociais e inserir os jovens na sociedade, a Organização Não-Governamental Ruas e Praças, do Recife, tem trabalhado há 28 anos com crianças que moram na rua e que vivem de forma precária em comunidades da Grande Recife. Por meio de um acompanhamento sociopsicológico com os pais e crianças e realização de atividades com os alunos e debates sobre a violência urbana e as drogas, o grupo atende cerca de 450 meninos por ano no projeto. São oficinas diárias de capoeira, percussão, futebol, informática, que auxiliam no aprendizado.

Um dos participantes do projeto é Anderson Alves, 11 anos, morador de uma comunidade no bairro de Santo Amaro, no Recife. Através da indicação dos próprios amigos, o menino sentiu vontade de participar. “Eu pedia sempre a minha mãe e ela achava que eu queria ir para as ruas cheirar cola. Mas eu fiquei pedindo e depois ela deixou eu participar. Gosto muito dos jogos e do futebol”, disse Anderson.

“Nosso grande objetivo, é despertar nas crianças a vontade de sair da rua, voltar para a casa de suas famílias e procurarem formação escolar e emprego. Com isso, tentamos sempre pleitear vagas para eles nos abrigos de prefeituras através dos conselhos tutelares e também preparamos a família psicologicamente para a volta dos seus filhos”, contou o coordenador do Ruas e Praças, Iran Alves. Os educadores sociais do grupo vão até os locais de rua para apresentar o projeto e levar os meninos para a ONG.

Participante do projeto, Wenny Batista, 17 anos, enxerga como uma vitória o aprendizado que vem tendo ao longo dos anos e sente cada vez mais vontade de continuar na ONG. Ela conheceu o projeto quando os organizadores do grupo foram até sua escola apresentar o trabalho. “Já considero a ONG como minha casa. É melhor ficar participando dos projetos do que viver na rua com a violência que existe”, relatou.

De acordo com a educadora social e professora da oficina de capoeira, Maria Nazaré de Siqueira, “através da promoção da arte e da cultura, a ONG consegue lutar pelos meninos nas suas dificuldades do dia a dia”. Os mecanismos para que esses jovens se sintam também protagonistas da vida podem não ser distantes. É preciso a sociedade resgatar os valores de solidariedade e gentileza para a obtenção das igualdades sociais.