Uma história de superação

Edson Ramos, 34 anos, é fascinado pela arte desde que era criança. Em casa, sempre desenhou e pintou, e, aos 12 anos teve o primeiro contato com o grafitti. Foi aí que começou a trajetória de Lotto, seu nome artístico. Nunca estudou nem fez curso, foi movido pelo interesse e paixão, aprendeu tudo na rua.

Edson mora em Camaragibe, acorda todos os dias por volta tas 9h, toma café da manhã, se arruma e sai para trabalhar. Ele trabalha no Hospital do Servidor como atendente de telefone, de segunda a sexta. Nos finais de semana ele se dedica à música. Lotto também é DJ, apaixonado pelo hip-hop e gosta de tocar aquele som “fuleiragem”, como ele mesmo chama o funk e o brega. A realidade de Edson tem uma grande diferença, ele faz tudo isso sem enxergar.

Em 2011, aos 19 anos, uma fatalidade aconteceu em sua comunidade, e no meio de uma discussão, ele levou 3 tiros que afetou diretamente a sua visão. Depois disso ele não enxergou mais nada. A superação não foi tão dura para Edson, que se adaptou da melhor maneira possível. Nunca aprendeu a ler em braille, mas em compensação, desenvolveu uma técnica semelhante para continuar pintando. “Se as pessoas podem ler através de pontos, eu também posso pintar através de marcações na parede. Peguei uma fita e fiz uma marcação, só para testar, para sentir o cheiro. E na minha cabeça eu estava fazendo um palhaço, e quando a galera viu, sem eu ter dito nada, falaram: ‘esse palhaço ficou massa’, então aquilo que estava na minha cabeça, acabou na parede e foi aprovado. Foi daí que veio a motivação para eu continuar”, explica Lotto.

A música também esteve muito presente em sua vida. Depois de muito refletir sobre dar continuidade àquilo que ele sempre amou (o grafitti) ou encontrar outro caminho para seguir, ele acabou se encontrando mais ainda na música. Chegou um momento em que ele decidiu investir em equipamentos e comprou um toca-discos. A partir daí, se jogou nessa nova arte, a música, e se dedicou para ser DJ. Está dando certo até hoje.

Lotto também tem um estúdio musical, a Saudosa Maloca, no bairro da Mostardinha. Lá ele reúne artistas para ensaios e também aluga equipamentos. Além de todas essas atividades, Edson ainda viaja para vários lugares do Brasil, para convenções de grafitti e hip-hop, e é chamado para palestras aqui no Recife. A falta de visão nunca o impediu de ir atrás de seus sonhos.

A arte é ferramenta fundamental para transformar vidas e tornar o ser humano ainda mais presente no mundo. Edson fala um pouco sobre isso na comunidade em que vive: “Se existisse um investimento de trazer algum curso de dança, de música, pintura… Se houvesse um movimento na comunidade, salvaria muitas vidas. Tem muita gente nova que ainda não sabe o que quer, e acaba escolhendo o caminho ruim. Talvez se as coisas acontecessem, o mundo com certeza seria um lugar melhor”.