“Já consigo reconhecer meus pensamentos negativos”

Matheus Souza tem 17 anos e sempre evitou situações em que poderia se sentir observado pelos outros. Inseguro, teme pelo seu desempenho e se preocupa com o que poderão pensar dele naquele estado. O grau de ansiedade que Matheus sente é muito intenso, podendo chegar a uma crise aguda. Estes sintomas são caracterizados pela fobia social e é o que tem afastado o jovem das pessoas ao seu redor. Na entrevista a seguir, concedida na casa do jovem, ele revela como é sua vida diante deste problema.

O BERRO Acredito que o primeiro passo para se enfrentar um problema como este é aceitar e entender o que é para buscar algum tipo de tratamento. Como foi o processo de aceitação do problema?

Matheus Souza: Nunca foi fácil para mim lidar com situações sociais onde eu tivesse que me expor de alguma forma. Sempre temi situações como escrever na frente dos outros, falar em público, comer em locais públicos ou entrar em lugares cheios, por exemplo. Tudo isso é muito difícil, às vezes tento me aproximar de alguém que não sejam meus pais, para estabelecer algum vinculo de amizade, mas durante a situação a ansiedade que sinto persiste e traz algum sofrimento. Por isso procuro sair das situações que me colocam diante de outros. E foi a partir desses sintomas que minha mãe começou a ver que minhas dificuldades não eram apenas timidez. Era algo que deveria ser tratado.

O BERRO: Como foi o processo de identificação do problema e a busca por ajuda?

Matheus Souza: Como falei anteriormente, minha mãe começou a prestar mais atenção em mim e identificou algumas dificuldades que eu tinha de me relacionar com as pessoas e de me envolver em situações sociais simples, como atender alguém que batesse na porta da minha casa procurando por alguém ou pedindo alguma informação. Então, ela pesquisou muito sobre essas dificuldades e chegou ao conceito de fobia social. Todos os sintomas e tudo que eu estava vivendo se caracterizava realmente como este transtorno. Foi então, que ela começou a procurar orientação médica para mim e formas de tratamento.

O BERRO: Qual tipo de tratamento você faz e qual melhora já foi alcançada?

Matheus Souza: Faço uso de medicamentos e da psicoterapia. O médico psiquiatra que faço minhas consultas acredita que a combinação de ambas pode me trazer um resultado mais eficaz. E é o que de fato está acontecendo. Há um ano, vou uma vez por semana para as consultas e faço uso da medicação prescrita pelo médico e já consigo sentir uma pequena mudança em meu comportamento. Ainda não é algo que me dê total confiança no meu convívio, mas é um começo. Já consigo reconhecer meus pensamentos negativos e estou me esforçando para mudá-los. Com o uso também de antidepressivos já me sinto melhor.

O BERRO: Como todo jovem de 17 anos, você deve estudar e possui algum objetivo de formação acadêmica para o futuro. Como você vê sua vida daqui a alguns anos?

Matheus Souza: Neste momento eu parei de estudar. Cursava o 1º ano do ensino médio em uma escola pública perto da minha casa, mas comecei a sofrer algumas perseguições por conta do meu jeito. Sempre fui calado e não tenho amigos, por isso sempre fui motivo de bullying. Não estava conseguindo fazer nenhuma atividade e minhas notas eram ruins. Não consigo falar em público ou até mesmo escrever, então conversei com meus pais e decidi ficar um ano fora da escola. Tenho sonhos como qualquer outro jovem, gosto muito da área de tecnologia e ciência da computação, pretendo concluir o ensino médio e quem sabe ingressar no ensino superior.