Poucos recursos desde a infânica

Quando questionado sobre uma área que gostaria de trabalhar ou com que sonhou quando criança para ser uma futura profissão, o reeducando Cleyton Silva dá uma resposta inesperada: “a profissão de pedreiro ‘tava’ bom”, diz. A mesma pergunta foi feita para Romário Lins, também reeducando, e a resposta também surpreendeu: “Eu queria trabalhar em escritório. ‘Palitozado’ e de gravata, sabe?!”, descreve.

Uma infância vivida sem muitas perspectivas de futuro e sem muitos sonhos vem à tona. É evidente, durante uma conversa com Cleyton e Romário essa realidade de um desesejo de ser alguém.

Em busca de um emprego através do Instituto de Desenvolvimento e Reintegração Social (Ideres), ambos esperam melhora de vida. Romário, por exemplo, quer dar sustento para a família. Com uma filha que completou recentemente um ano de vida e mais um bebê chegando em breve, não é fácil manter todos em um condição boa de vida.

De acordo com Marcelo Ribeiro, psicólogo do Ideres, o instituto chega a receber 150 ex-presidiários por mês, incluindo homens e mulheres. O Ideres faz uma espécie de mediação entre eles e as empresas que estão em busca de funcionários. Assim fica mais fácil proporcionar mais oportunidades para os reeducandos e mais facilidades para as empresas contratantes.

Para conseguir se inscrever, o reeducando precisa ir até o instituto e participar de uma entrevista, dinâmicas e avaliação com o psicólogo. Em seguida, à medida que as vagas vão surgindo, eles são encaminhados.

Luiz Antônio Alberto da Silva, também recorreu ao Ideres depois de 9 anos recluso. Completando 7 meses solto, ele declara que sua mudança de vida se deve a sua fé em Jesus. Hoje, se tornou pastor e junto com sua esposa, mora num assentamento no Cabo de Santo Agostinho, do lado da igreja que construiu para pregar aquilo que acredita.

Tive mais força para respirar e vi como pensar melhor no dia de amanhã. Jesus me ajudou a tirar esses anos todinhos de cadeia. Muitos saem piores mas eu hoje dou alegria a minha mãe que já tinha chorado demais com um filho que roubava e matava”, desabafa Luiz Antônio.

Sem tempo para estudar quando mais novo, Luiz acredita que isso é o que mais o prejudica hoje, na tentativa de arrumar um emprego, além da condição de ex-detento, que de forma recorrente é vista preconceituosamente. Trabalhando desde muito novo, o seu lápis era o facão e o papel era a folha da cana de açúcar. Então, o tráfico, as drogas e o mundo do crime se apresentaram de forma sedutora.

Os planos para o futuro se tornam limitados por causa da realidade. Pai de 4 filhos e com trigêmeos que chegarão em breve, o sonho de estudar é transformado pela necessidade de colocar a comida na mesa. “A minha prioridade é arrumar um emprego para cuidar da minha família”, explica.

Os casos, em maioria, são parecidos. Pessoas sem oportunidades entram no mundo do crime e passam a ser ressocializados dentro da prisão, um lugar sem estrutura para oferecer capacitação, por exemplo. Fora das grades, passando por outra ressocialização, a força de vontade deve ser maior do que as dificuldades que surgem no caminho, sejam elas por falta de recursos como emprego e cursos ou por causa do preconceito.