Cuidados com o bebê

Desde o nascimento, o bebê com microcefalia necessita de cuidados especiais. Muito se fala em sessões de Fisioterapia, Terapia Ocupacional ou Fonoaudiologia, mas nem todo mundo entende para que serve exatamente cada uma desses tratamentos. Inicialmente, é preciso compreender o que ocorre no cérebro deles.

As crianças que se apresentam nesta condição possuem um atraso em todo o seu desenvolvimento neuropsicomotor e, por isso, as funções mais básicas relacionadas a um desenvolvimento normal não se desenvolvem ou são adquiriras com atraso em relação à idade cronológica.

Todo cérebro possui uma determinada capacidade de aprendizado, mais conhecida como neuroplasticidade. Ela se dá nos dois primeiros anos de vida, então, nessa fase ocorre um “boom” de neurônios dentro da gente. Em bebês com microcefalia, esse padrão é considerado anormal, o que os terapeutas costumam chamar de “não funcionais”. É aí que o trabalho dos profissionais da saúde precisa começar com todo o gás.

Dentro do campo da fisioterapia, o tratamento da criança com microcefalia inicialmente está baseado no desenvolvimento motor normal, como ocorre em bebês e crianças que têm outras patologias. “A depender do quadro apresentado, serão escolhidos os objetivos principais para cada fase. O que está impedindo que ela alcance determinado padrão de movimento, por exemplo, e trabalhar em cima disso”, explica a fisioterapeuta Ana Carolina Aretakis. Ela ressalta, ainda, a importância de começar com as sessões o mais cedo possível. “Quanto mais se demora na busca do tratamento, mais se perde na questão da neuroplasticidade. De maneira geral, eu recomendaria o mínimo de dois atendimentos por semana”, concluiu.

Apesar da importância de começar o tratamento cedo, é preciso tomar cuidado com o excesso de terapias, uma vez que o exagero pode causar o efeito contrário e atrapalhar o desenvolvimento do paciente, então é preciso conhecer os limites e respeita-los. O ideal é unir as terapias em um só tratamento, de modo que o trabalho em conjunto possa estabelecer um desenvolvimento de maior qualidade e segurança para o paciente.

A terapia ocupacional entra com um papel fundamental no que diz respeito ao desempenho da criança. Por trabalhar com atividades cotidianas, a terapia se adequa à realidade da criança e se utiliza muitas vezes o brincar como recursos para conquistar o desenvolvimento do paciente em questão. De acordo com a terapeuta ocupacional Talita Melo, se inicialmente a atividade cotidiana da criança é o brincar, então a terapia vai utilizar o brincar como recurso para conquistar os marcos do desenvolvimento dessa criança. “Do mesmo modo, quando a atividade for escolar, também podemos trabalhar o contexto escolar”, afirmou. Para a profissional, os casos de microcefalia através do Zika Vírus têm sido mais graves por geralmente estarem associado a algum problema de visão, tornando a estimulação visual uma particularidade no tratamento.

Do ponto de vista fonoaudiológico, a contribuição pode ser iniciada desde o nascimento do bebê, a fim de estimular a primeira função motora oral que é a sucção e consequentemente o aleitamento materno. O fonoaudiólogo realiza terapias que auxiliam outras fases da alimentação através da introdução de novos estímulos sensoriais, sem risco de broncoaspiração e com aporte nutricional eficaz.

É responsável, sobretudo, pelo desenvolvimento da linguagem oral, que ocorre paralelamente aos tratamentos acima. De modo geral, as três terapias, têm como objetivo principal o favorecimento de uma melhor qualidade de vida e inserção social destes pacientes. E em todos os casos, o papel da família se faz fundamental.