Por Maria Nilo
A sociedade tem uma forte ligação com a arte, seja ela traduzida em pintura, fotografia, literatura, música, dança, teatro ou cinema. Muitas vezes, essa ligação é inconsciente e por isso nunca paramos para pensar sobre qual é o verdadeiro papel da arte na construção da sociedade. Mas, ela permite um diálogo entre os dois lados: de quem cria e de quem aprecia.
A “arte engajada”, por exemplo, é uma ferramenta que os artistas usam suas habilidades para transmitir opiniões sobre temas importantes para o convívio coletivo. Ela é usada normalmente para manifestações, denúncias e impasses sociais, onde esses artistas se comportam como atores sociais ativos. Este tipo de arte reflete a realidade social, o tempo histórico em que é produzida, a cultura de uma determinada sociedade e sua complexidade. Ela também é ideologizada e muito além da “arte pela arte”, pode estimular o pensamento crítico, a reflexão e a desconstrução de padrões culturais e sociais.
Para a professora do curso de Artes Visuais da UFPE, Maria do Carmo Nino, sempre vão existir artistas produzindo a denominada ‘arte engajada’. “Eles atuam indiretamente, não necessariamente de forma clara, evidente. Ou seja, eles interferem quase sempre metaforicamente, fazendo você pensar a partir do universo poético. E ainda bem que esses artistas existem, porque é nestas expressões que podemos encontrar a mais sincera beleza”.
A arte também assume um papel reflexivo na vida das pessoas, quando elas são interferidas por alguma das formas artísticas. A grande magia é quando ela assume o papel de fazer o outro raciocinar e não pensar no lugar dele. O seu propósito varia de acordo com o que as novas sociedades apresentam, porque sempre vai ter um novo esquema econômico, social e de governo, portanto, novas funções e formas de artes.
É interessante ressaltar o papel ativo que o espectador adquire no processo de construção da imagem, e também é legal desconstruir a ideia de que a arte não passa de uma estética do belo. Muitas vezes pensamos que uma das funções da arte deveria ser a de iludir quem aprecia e fazer com que ele, ao observar uma obra, por exemplo, se encontre diante da própria natureza e que ele apenas se limite a isso. Sob o fascínio da beleza, o espectador acaba olhando com um olhar desinteressado. É necessário olhar a obra de arte pelo ponto de vista do criador, através de uma inversão da perspectiva. A ideia de uma representação pode servir de ferramenta para gerar determinados sentimentos no espectador, e nem sempre esses sentimentos são confortantes, muitas vezes são perturbadores, e é neste sentido que ela adquire um papel engajador.
A ARTE SALVA?
As pessoas se influenciam intensamente com a arte, provavelmente alguma coisa na vida delas de compreensão do dia-a-dia mudou a partir de algum contato artístico. Não tem como não ver a arte como esse veículo possível de epifania.
O artista plástico e estudante de arquitetura Heron de Barros, mais conhecido como Azul, trabalha com o grafiti e já participou de vários projetos sociais. Ele conta que existe sim na arte, uma transformação social: “Precisamos sair daquele argumento clichê de que a arte salva vida porque é uma ocupação na cabeça da pessoa, vai além disso. É estimular um jovem que está precisando de um espaço, de um momento para expor tudo aquilo que está em sua mente, independentemente de classe social. É saber convidar a pessoa, molda-la para que ela possa canalizar tudo o que está dentro dela, transformando em arte”, diz.
Para saber mais, leia.
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