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04

Congressistas do Intercom fazem fila para ver Michel Maffesoli

Por Filipe Falcão / Foto: Ivan Alecrim

Um dos temas considerados mais delicados por acadêmicos é referente a pesquisa empírica. Diferente da análise teórica, o estudo empírico vai além do ambiente acadêmico e é realizado em qualquer ambiente através de investigações muitas vezes práticas e feitas em locais que vão além da biblioteca. Não por outro motivo, a questão foi escolhida como tema do Intercom 2011: Quem Tem Medo de Pesquisa Empírica? E foi com o objetivo de aumentar o debate sobre essa questão que o painel Comunicação, Pesquisa e Experiência Interdisciplinar reuniu pesquisadores do Brasil, da França e do México.

O painel aconteceu na manhã do domingo (4) e foi coordenado pela professora da UMESP Cicilia Peruzzo. A mesa foi formada pelo francês Michel Maffesoli (IUC) com o tema “Comunicação Pós-Moderna e Experiência Tradicional”; pelo mexicano Octavio Islas, da Universidade de Monterrey, com o tema “Os Caminhos da Pesquisa Empírica em Comunicação no México”; e pelo brasileiro Juremir Machado (PUCRS) com o tema “As Ciências Sociais como Narrativas do Imaginário”.

Dos três palestrantes, coube ao sociólogo francês  Michel Maffesoli dar início ao debate apresentando um paralelo da pesquisa científica com o que os acadêmicos chamam de era da pós-modernidade. De acordo com ele, a sociedade de hoje vive em um período muito mais de dúvidas do que de certeza. Além disso, a ideia de pós-modernidade pode ser vista como uma metamorfose das atuais crises que acontecem no planeta e que são refletidas diretamente na comunicação. “Não é uma crise apenas econômica ou política. Trata-se de uma crise da ideia do que não serve mais. Trata-se de um processo continuo de reinvenção e readaptação”, explica Maffesoli.

O pesquisador francês ainda vai além da questão de identidade atual para lembrar que a sociedade e a comunicação dentro dela são paradoxais e com ideias muitas vezes contrárias e que isso é refletido diretamente na pesquisa acadêmica. “A verdade é que todo descobrimento surge das dúvidas que temos no nosso cotidiano e que refletem os questionamentos da sociedade de hoje e por isso tornam-se tão importante dentro de questões acadêmicas”, afirma Maffesoli. De acordo com ele,  é por essa proximidade da realidade que a pesquisa empírica provoca medo.

Na sequência foi a vez do mexicano Octavio Islas, que utilizou o seu trabalho de mestrado, sobre um perfil do usuário de internet no México, para ilustrar como a pesquisa empírica e a experiência interdisciplinar já fazem parte da realidade dos trabalhos acadêmicos. “O objetivo é mostrar como um simples trabalho de pesquisa, seja de mestrado ou doutorado, utiliza questões práticas e de campo ao mesmo tempo em que nos encoraja a irmos além de referências bibliográficas”, completa Islas.

Por fim, coube ao brasileiro Juremir Machado encerrar os debates apresentando a sua interpretação sobre o tema proposto. Autor de mais de 20 livros sobre pesquisa acadêmica, Machado declarou que não existe medo na pesquisa empírica, mas sim desprezo. Com bom humor, ele explicou que muitas pessoas ainda acreditam que a única pesquisa válida é a teórica. “Isso seria correto se conseguíssemos desenvolver novas teorias, mas isso raramente acontece”, afirma Machado.

“O pesquisador de comunicação deve sair da sala de aula ou da sua casa e tais pesquisas devem ir além do óbvio”, completa Machado ao defender a importância do trabalho de campo. De acordo com ele, tal compromisso deve ser ainda mais verdadeiro para jornalistas, que por natureza, devem sair de suas redações para apurarem as matérias que irão escrever. “O objetivo da reportagem é trazer algo a tona e o da pesquisa, seja ela empírica ou teórica também” completou Machado.

Ao final, a mediadora abriu o debate para as perguntas do público presente, que se mostrou bastante interessado pelas ideias apresentadas. O estudante de mestrado da PUC-SP Renato Figueiredo não escondeu a animação em ter participado da palestra de  Maffesoli. “Acho que não apenas eu, mas todos os presentes tiveram a oportunidade de aprender um pouco mais com a fala dele. Esse foi com certeza um dos destaques do Intercom 2011”, completou Renato.

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