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IV Fórum Eptic debate comunicação alternativa

 

Texto: Rafaella Magna / Foto: Jackie Feitosa 

O IV Fórum Eptic, que aconteceu nesta sexta-feira (2), às 9h, no XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Intercom 2011, realizado na Universidade Católica de Pernambuco, teve como objetivo debater a comunicação alternativa. O Fórum, que foi coordenado pelo professor Valério Brittos (Unisinos), teve como mediador o professor Ruy Sardinha (USP). Os palestrantes tiveram uma média de 15 minutos para apresentar as pesquisas que vêm sendo realizadas, traçando paralelos sobre o assunto.

Com o tema “Digitalização, alternativas e direito à comunicação”, o professor Valério Brittos (Unisinos) deu início ao debate. Para ele, o alternativo, atualmente, é aquilo que propõem outras falas partindo do audiovisual e do padrão técnico estético. “Esse conjunto de características são baseados em relações estabelecidas pelo público sobre o que é e o que parece ser”, explica Brittos. Saber como essa comunicação quer se posicionar no mercado é algo fundamental. 

Segundo ele, o padrão técno-estético se traduz num mercado midiático. “Esse padrão passa pelas lógicas sociais, como empresas, Estado, consumidores e sociedade”, diz o palestrante, afirmando, ainda, que a visão desse mercado é que os produtos culturais têm potencial quando geram riqueza. Além disso, ele passa por uma fase de multiplicidade da oferta, como a “ampliação do número de canais”.

Mas junto com a oferta maior dessa comunicação, quais são os impactos e desafios sistemáticos que serão gerados? Foi com essa indagação que o professor Paulo Faustino (Universidade do Porto), deu continuidade ao fórum. De acordo com Faustino, existem dois aspectos que mostram esse impacto. O primeiro é na indústria, “quando a produção midiática começa a ganhar expressividade chegando a colocar assuntos na agenda midiática tradicional”. O segundo é na comunidade, através do forte impacto, sobretudo, em regimes repressores, “com pouca liberdade de expressão e forte contraste de estado sobre a atividade midiática comum”. 

Contudo, a mídia alternativa permite questionar formas de dominação. “Passando de um ecossistema de mídia cêntrico para um ecossistema de mídia excêntrico em que o indivíduo tem mais conhecimento e poder sobre a informação que consome”, explica Paulo Faustino. “Essa mídia ajuda a identificar e desenvolver modelos alternativos que favoreçam a cooperação, potenciando a transformação e luta social”, conclui Faustino. 

Tendo como base o Brasil e outros países da América Latina, a professora Cicília Peruzzo (Umesp) acredita que a comunicação alternativa nunca chegou a ser uma opção de canal de comunicação. “Ao longo da história, percebemos que ela é uma busca de uma nova possibilidade de informação”, afirma Peruzzo. Para ela, essa comunicação passa por um patamar que não chega a suprimir a necessidade de informação. “O alternativo se configura como uma comunicação diferenciada, que passa pela mídia comercial e conservadora”, fala.

De acordo com Peruzzo, há características que indicam essa outra comunicação, como a proposta editorial, linha política crítica e conteúdos que não são tratados pela grande mídia. “Um outro aspecto é sobre a organização que tende a ser participativa”, diz a professora. Segundo Cicília, essa comunicação alternativa vem contestar um “status-quo” e, do ponto de vista do modo de produção, ela é colaborativa visando à liberdade de expressão daqueles que não têm vez na mídia tradicional. 

As tecnologias digitais trouxeram novas possibilidades de produção no contexto comunicacional, de acordo com o professor Bruno Fuser (UFJF). “A ponto de muitos pesquisadores se sentirem além de consumidores, também produtores de informação e comunicação”, afirma. Porém, para ele, mais do que os meios, o que importa é o uso. “O uso crítico e criativo podem ser indicadores de uma comunicação alternativa. Ao ser criativo há uma maior mobilização incentivando, assim, a reflexão”, acredita Fuser. O fato de ser um conceito de diálogo é mais uma contribuição para a análise desses problemas.

Confira resumos dos trabalhos apresentados:

Tema: Comunicaçao Alternativa 

Coordenação: Valério Brittos (Unisinos) e Cesar Bolaño (UFS)Mediaçao: Ruy Sardinha (USP)Participantes: Bruno Fuser (UFJF); Adilson Cabral (UFF); Maria Luiza Cardinale Baptista (UCS) e César Bolaño (UFS); Valério Brittos (Unisinos); Cicília Maria Krohling Peruzzo (Umesp)  

Digitalização, alternativas e direito à comunicação 

Valério Cruz Brittos (Unisinos) 

O trabalho discute a comunicação alternativa, no âmbito das dinâmicas de digitalização contemporânea e de reconfiguração capitalista. Concebe-se comunicação alternativa como aquela que efetivamente contrapõe-se ao sistema, posicionando-se de forma contra-hegemônica e, por isso, comprometida com a construção do direito à comunicação. Como forma de construção de processos midiáticos libertadores, propõe-se a necessidade de aproximação dos projetos de comunicação alternativa das ideias de Paulo Freire, assumidas no âmbito da Economia Política da Comunicação, eixo teórico-metodológico de análise do fenômeno em questão. É neste circuito que se projetam os esforços de um padrão tecno-estético alternativo, o que passa pela socialização das formas de produção e distribuição cultural, estimuladas pelo barateamento de custos trazidos pela digitalização. 

Comunicação alternativa 

Cicília M. Krohling Peruzzo (Umesp) 

Conceitos de comunicação alternativa, das origens às novas configurações. Especificidades do jornalismo alternativo e suas feições no universo das tecnologias da informação e comunicação. Proximidades e interfaces com outras vertentes ou denominações da comunicação do “povo”, tais como a comunicação popular, comunicação comunitária e comunicação cidadã. Comunicação não-hegemônica: (in)coerências entre práticas e conceito? Comunicação “alternativa” hoje: diversidade, possibilidades, limites e avanços. 

Prosumidores ou neoconsumidores? 

Bruno Fuser (UFJF) 

As tecnologias digitais trouxeram (e a cada dia trazem mais) novas possibilidades de produção no contexto comunicacional, a ponto de muitos pesquisadores apontarem sermos todos prosumidores: não apenas consumidores, mas também produtores de informação e comunicação. Tal perspectiva, se encontra respaldo no cotidiano de muitíssimas pessoas, é apenas uma promessa para um número ainda maior de cidadãos, seja porque são excluídos do acesso à internet, seja porque têm acesso a uma internet de segunda categoria (lenta, incapaz de acompanhar as inovações das tecnologias digitais que permitem a utilização de determinadas dimensões da produção de informação), seja, finalmente, porque não dominam e/ou não têm interesse em dominar as técnicas de produção de informação. Pesquisas como do Observatório Nacional de Inclusão Digital e do IBGE mostram como a perspectiva de produção de informação, essencial para uma inclusão sociodigital,ainda está longe de ocorrer no Brasil. 

 A digitalização das iniciativas de comunicação comunitária: apropriação dos processos regulatório e tecnológico 

Adilson Cabral (UFF) 

A adoção do Sistema Brasileiro de TV Digital e o debate sobre o sistema brasileiro de rádio digital evidenciam uma mobilização hercúlea por parte das iniciativas de comunicação comunitária, se submetendo a orçamentos limitados ou mesmo inexistentes e sem condições profissionais de manutenção de suas atividades. A proposta dessa palestra é apresentar perspectivas relacionadas às demandas de apropriação do processo regulatório, que incidem na formulação ampla de políticas que atendam às necessidades socioculturais e político-econômicas desses grupos, bem como às demandas de apropriação do processo tecnológico, que dizem respeito às definições sobre faixas de frequência, infraestrutura e gestão, além de áreas relacionadas a conteúdo, como programação, produção e elaboração de formatos e narrativas capazes de engajar a sociedade em geral nos processos de afirmação dessas iniciativas. 

 

Faço Parte! Territórios de afeto e investimentos desejantes da comunicação sindical no cenário da acumulação via espoliação

Maria Luiza Cardinale Baptista (UCS) 

O texto apresenta a reflexão sobre a comunicação sindical contemporânea, a partir da experiência de consultoria e produção do livro “Faço Parte: 30 Anos – Histórias e Personagens do Sindicato dos Comerciários de Carazinho e Região”, no Rio Grande do Sul. Atualiza a discussão sobre a comunicação sindical, realizada em pesquisa anterior, pela autora, junto aos metalúrgicos de Porto Alegre e apresentada à ECA/USP. O referencial teórico é transdisciplinar, envolvendo a Comunicação; a Esquizonálise, para aspectos da subjetividade maquínica e dispositivos de subjetivação, bem como a noção de territórios de afeto – neste caso, associada à Geografia contemporânea. A proposição alia-se, ainda, à Economia Política, na medida em que discute a Comunicação Sindical e a necessidade de um novo padrão tecnoestético, no contexto do capitalismo de acumulação via espoliação. 

Os novos movimentos sociais e a utilização da Internet

César Bolaño (UFS) 

O trabalho propõe uma discussão sobre a mudança estrutural do capitalismo e o impacto deste fenômeno sobre os movimentos sociais, considerando deslocamentos transcorridos a partir dos anos 2000. Compreende-se que os novosmovimentos sociais surgem no final do século XX e seguem reproduzindo-se até o momento, tendo por característica a organização da juventude através de redes sociais e da Internet em geral. Trata-se de uma incógnita, de algo ainda definido, pois se afasta muito do velho movimento operário e da organização classista. Este estudo, então, pretende analisar os caminhos desta realidade, debatendo flashes  do que está acontecendo, o que foge dos instrumentos clássicos da política, ao mesmo tempo em que o funcionamento das redes coloca desafios intelectuais para o pensamento de esquerda e a Economia Política. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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