Esta edição do jornal “O Berro” é dedicada ao lado negativo e sombrio da cultura digital. Costumeiramente saudado na mídia como um desenvolvimento maravilhoso que facilita a vida dos seres humanos, barateia o aceso à informação e integra as pessoas, o mundo dos computadores tem também um outro lado, cheio de problemas, que não pode mais ser escondido. É o que mostram as reportagens desta edição, todas pautadas, apuradas e escritas pelos estudantes de Jornalismo que estão no meio do furacão, desfrutando das vantagens e presenciando os dramas que afetam a sociedade digital.
Nas reuniões de pauta feitas durante a preparação do jornal, surgiram dezenas de ideias que abordavam problemas gerados ou intensificados pelo fenômeno digital nos últimos quinze anos, que inclui, além da internet, os celulares, os games e outros apetrechos tecnológicos. As reportagens aqui publicadas são uma amostra desse conjunto de problemas sociais graves que afetam Pernambuco e boa parte do mundo: os riscos para crianças que, bem cedo, já são expostas ao mundo online; o vício gerado pelos jogos eletrônicos e pelo uso do computador em casa; a prática do cyberbullying nas escolas; o aumento da pedofilia e o risco para as crianças que usam as redes sociais; os danos para a saúde de quem trabalha no computador todos os dias; o lixo eletrônico provocado pelo descarte de monitores e celulares que geram uma verdadeira tralha tecnológica; a pirataria, que afeta a economia da música e elimina empregos; as e-drugs, uma nova forma de entorpecente que circula na internet e pode trazer riscos à saúde.
A lista de mazelas é enorme. Importante é perceber que os problemas não são apenas pontuais. Eles são parte integral do pacote de novidades que a sociedade “comprou” ao adotar a cultura dos computadores sem muita preocupação, há duas décadas.
E, ao que tudo indica, os problemas não serão superados com o desenvolvimento tecnológico. Afinal, os contraventores estarão sempre alguns pessos à frente de quem tenta colocar ordem no caos. A experiência recente mostra que, quanto mais a tecnologia digital se dissemina, maiores são os problemas.
Para além da mera fascinação com as luzes da novidade, é essencial que sejam tratadas pela imprensa as consequências psicológicas, cognitivas e políticas de um mundo em conexão permanente.
Este jornal tem a pequena ambição de mostrar um lado menos badalado da cultura digital, que, muita vezes, passa despercebido porque não traz consigo os atrativos que dominam muitas publicações, pautadas por interesses comerciais. O Berro teve a liberdade de procurar histórias que mostram os aspectos negativos da cultura digital que ainda vão dar muito o que falar nos próximos anos.