Muitos carros a menos

Esta edição do jornal O Berro é dedicada a um objeto que tem mil e uma utilidades na sociedade contemporânea. Mais do que um simples meio de transporte, um brinquedo de criança, um instrumento para manter a forma física, a bibicleta é uma verdadeira declaração de modernidade por parte de quem a usa.

No final dos anos 80, grupos de ativistas e defensores da bicicleta nos Estados Unidos adoratam o slogan “One less car” (Um carro a menos) nas suas campanhas para lutar por um espaço nas grandes cidades. O slogan, hoje também usado pelo Bicicletada, associação de grupos que lutam pelo mesmo objetivo no Brasil, resume, de forma perfeita, o que defendem os ciclistas. Num mundo saturado de automóveis, engarrafamentos, poluição e estresse, as bicicletas, se adotadas em larga escala, significariam muitos carros a menos nas ruas. A bicicleta é, portanto, um assunto político.

A gravura usada na capa desta edição foi tirada do livro “Na garupa do meu tio”, do cartunista belga David Merveille, que se inspirou no personagem Hulot, do filme do francês “Meu Tio”, um dos clássicos absolutos do cinema universal, criado pelo genial Jacques Tati. No filme, de 1958, Tati interpretou um atrapalhado tio bonachão, que, vivendo em um mundo boçal, tecnológico e estressado, circulava despreocupadamente em sua bicicleta velha e era feliz nos subúrbios de uma grande cidade.

Curioso como, desde o filme, o papel da bicicleta só cresceu nas últimas cinco décadas. Com a crise ambiental, ela passou a ser considerada como um meio de transporte cada vez mais civilizado, um contraponto à loucura do transporte motorizado que polui o meio ambiente.

Apesar dessa visão ainda ser minoritária, o uso da bicleta vai-se fortalecendo na sociedade de toda forma, por motivos muito práticos, como mostram as reportagens a seguir. São amigos que se reúnem para passeios noturnos que combatem o estresse de um dia de trabalho; são grupos que partem nos fins de semana para fazer turismo de aventura. É o vendedor ambulante que enxerga uma  melhor alternativa para deslocamentos rápidos e baratos. É a companhia de entrega que percebe a vantagem do meio de transporte para deslocamentos curtos. É o trabalhador humilde que se desloca cedo da manhã para o trabalho sem pagar passagem de ônibus. É também o jovem que pratica esportes radicais como o BMX.

É uma experiência local e universal. A China, por exemplo, teve na bibicleta sua principal estratégia de transporte de massa, infelizmente abadonada nos últimos anos com o crescimento econômico.  Por outro lado, a população de alguns países do norte da Europa nunca abandonou as bicicletas e elas cada vez estão mais na moda.

Numa cidade plana como o Recife e que vive um processo de saturação de carros nas ruas, a bicicleta pode vir a ser parte essencial do futuro. Nesse sentido, abrindo com uma gravura inspirada num filme de 1958, este jornal está de olho também no presente e no futuro da paisagem urbana.

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