Transmissão de Cargo
Pe. Theodoro Peters,S.J

Autoridades presentes.
Senhoras e Senhores s.
Meus amigos, colaboradores, conselheiros, docentes, discentes, corpo funcional.

Padre PetersDepois de tanto tempo nesta casa, nesta função, talvez eu não devesse dizer mais nada. Não é mais o momento de falar. O tempo se esgotou. O que não foi dito antes perdeu sua força. Tornam-se dilemas para quem decide. A palavra, entretanto, existe para ser proferida, usada generosamente. E a minha palavra hoje é de gratidão, de esperança, de boa sorte. Há mais de vinte anos eu estava em final de mandato após seis anos como superior da comunidade e reitor do Colégio São Luís e suas Faculdades. E o então provincial veio falar comigo e consultou-me sobre vir para a Unicap, visando a atender a solicitação do então provincial do Nordeste P. Manuel Madruga. Eu respondi que necessitaria de três dias. Ele me perguntou: para refletir? - Não, para passar o cargo para quem vier substituir-me na atual função. Não hesitei. Não porque confiasse em minha preparação, mas confiante de que um superior não exporia um súdito a uma situação de vexame. No caso, consultado, ele me disse que pensara muito bem, consultara a quem de direito e que tinha segurança em enviar-me; por outro lado, o Nordeste também me aceitava. Assim foi a minha resposta. Foi de manhã. À noite, na hora de deitar, sentei-me na cama e perguntei-me o que Deus queria de mim? Não conhecia muita coisa do Recife, apenas uma passagem rápida. Deus não respondeu na hora, mas percebi claramente que minha missão terminara em São Paulo, e que, no final, ela estava clara. Eu realizei em São Paulo o que deveria realizar. Deus sempre esteve ao meu lado. Ajudou-me e me ajudará sempre. Foi assim que aqui cheguei. O tempo correu dia a dia e, hoje, comemoro 20 anos desde que o Pe. Antônio Amaral e o Pe. Manuel Madruga me nomearam e transmitiram-me o cargo.

Cheguei emprestado, uma vez que os jesuítas entram para a Companhia e são registrados em uma Província. O Provincial exerce a autoridade delegada do Geral em seu território. Para sair de uma província centro leste e vir para o Nordeste, foi necessário o termo jurídico de “aplicado”. Fui aplicado para quatro anos e, como acontece com livros emprestados, estou aplicado automaticamente cinco vezes quatro anos. Por isso tudo, é necessário dizer muito obrigado a todos os senhores e senhoras, a vocês que me ajudaram a não errar, a avançar em meio às dificuldades. Ajudaram-me a transformar a Unicap, no dizer de Pe. Paulo, numa polifonia de diálogos. Sinto-me muito feliz nesta cidade lendária, neste estado encantado, com seu povo, sua gente, seus professores, estudantes, colaboradores, amigos, antigos alunos, autoridades, gente simples e necessitada. Agradecendo a vocês agradeço à própria Companhia de Jesus que me chamou e ofereceu-me os meios adequados. Lembram-me, aqui, as sábias palavras de Isaac Newton: “Se enxerguei mais longe foi porque me apoiei em ombros de gigantes.” Meu primeiro superior foi o Pe. Paulo Meneses, que me preparou os aposentos que utilizo até hoje, um quarto especial que fica justamente sobre a capela, de modo que, mesmo deitado, sei que o Sacrário está próximo e sempre me senti seguro e em boa e verdadeira companhia.

Ao mencionar Paulo Meneses, não é indiscrição recordar que ele fazia parte da terna proposta para a escolha do reitor em 1985: o Provincial de então lhe dissera que seria a vez de ele assumir a Unicap. Ele declinou do convite, oportunizando a minha nomeação. Assim procedendo, enxergou além, trazendo alguém que com ele somaria no trabalho pela qualificação da Unicap. Paulo continua a pesquisar, a iniciar na pesquisa e análise crítica de textos; colocou Hegel em vernáculo nacional, acessível a todos os estudiosos. Ganhou a população de língua portuguesa graças ao seu trabalho sistemático e continuado. Em equipe com o Pe. Machado, multiplicou sua energia e produção. Foi muito sábia a decisão. O filósofo de Stuttgart com sua dialética, com a proposta da passagem tese, antítese e síntese, abriu caminhos para ultrapassar Cila (Scyllas) e Caribides (Charybide), dando segurança na rota aparentemente instransponível da oposição entre ciência e fé, lógica e mística, ação e contemplação. Sim, é possível analisar as temáticas segundo óticas próprias e enxergar o invisível nas leis naturais e nas experiências milenares da humanidade em busca da eternidade. O Deus sem príncipio nem fim, pré-existente, criou na matéria a possibilidade de receber seu sopro espiritual, sua faísca incandescente capaz de ver tirando conseqüências, criando história, legando experiências no presente e memorizando-as para o futuro. Ultrapassando o instintivo, evoluindo para o dedutivo, amparando-se no intuitivo. A percepção de ouvir que é pó, e pó inteligente, capaz de pensar e concluir raciocínios práticos e abstratos. És pó e ao pó retornarás. Esta poeira, animada pelo sopro divino, é capaz de amar reciprocamente, de ultrapassar barreiras, gerar cultura, raciocinar sobre o que faz, refletir sobre o que pensa, o que sucede, prevendo o que acontecerá. É um pó que se distingue de outros pós, animados ou inanimados, é detentor da inteligência. Conhece sua origem e sabe para onde caminha. Essa inteligência da ação própria de Deus e de sua atuação humana, atitudes que, bem discernidas, permitem concluir que Deus gera vida autônoma participante de sua fonte original. Geração no amor revelando paternidade. Paternidade reconhecida como iluminadora. “Todo dom perfeito provém do Pai das Luzes”, do Pai do “insight”, da faísca inteligente alumiada, de todas as ‘eurecas’ gestadas ao longo da história humana após Arquimedes. Graças a tais instrumentais, a Universidade está à vontade para tratar de todas as temáticas sem falsear disjuntivas, respeitando a especificidade de cada área e campo do conhecimento. O Deus criador da natureza é o mesmo Deus da História da Salvação. O que permite esperar a revelação dos filhos de Deus em sua inteireza quando Deus for tudo em todos. Como se percebe facilmente, Paulo Meneses ajudou, através da ponte instrumental da filosofia contemporânea, o acesso acadêmico a todas as áreas do conhecimento. “O esplendor da verdade brilha em todas as obras do Criador, particularmente no homem criado à imagem e semelhança de Deus: a verdade ilumina a inteligência e modela a liberdade do homem, que deste modo é levado a conhecer e a amar o Senhor. Por isso reza o salmista: ‘Fazei brilhar sobre nós a luz da vossa face.’” (sl. 4, 7) (abertura da encíclica Veritatis Splendor de J.P.II – 1993).

O agradecimento a Deus e a Virgem do Carmo também é verdadeiro, espontâneo e gerador de esperança. Ele sabe que deixei tudo por amor a Ele e O coloco acima de tudo: eis a medida para amar a Deus: amá-Lo sem medida. O próprio Jesus no Evangelho necessitou testemunhar: “eu não estou só, o Pai está comigo.” A segunda palavra é de esperança. A Unicap é uma universidade forte no tempo, vai comemorar seus 55 anos e se consolida nas expectativas constitucionais em ensino, pesquisa e extensão. Para isso, preparou-se institucionalmente e está com seus mestrados já implantados a partir da massa crítica gerada pela qualificação de seu corpo docente e de pesquisa. O que foi conseguido é profecia do que resta conseguir. O caminho está aberto, o futuro está sempre em construção. Desejo que não se pare na pista, mas que se avance com visão de conjunto, ‘a certeza na mão’, vontade de acertar, diálogo para atingir o equilíbrio necessário a tudo que se deseja sustentável e suscitador de novos projetos. Sempre com o olhar adiante, em consonância com a etimologia do próprio termo “pro+jeto” (jogado adiante). Ou como recomenda o evangelista: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus.”

A terceira palavra é que aconteça como se sonha. Que os sonhos se realizem na busca da qualidade, na geração de expectativas verdadeiras e portadoras de ações conseqüentes com os altos valores que se deseja testemunhar em todas as ações, partilhar com todos com quem interagem na ação educativa de ensino, pesquisa, extensão e espiritualidade. O Pe. Pedro Rubens, “um outro soldado a serviço do seu Senhor”, como queria Inácio, é acolhido por uma comunidade que sabe o que quer, que trabalha com qualidade, exigência, tenacidade e segurança. Certamente, no exercício de sua função, saberá perceber que não está só, que uma comunidade de vida e de trabalho está ao seu lado para os momentos difíceis e para as boas e necessárias comemorações. Que fique bem claro: muitos ombros fortes o sustentarão.

Conte sempre comigo, Unicap, Pe. Pedro Rubens, amigos, colaboradores, professores, estudantes, corpo funcional. Amigos da Unicap serão sempre meus amigos. Em São Paulo, o reitor poderá contar com representante para o que lhe parecer de interesse. A todos que não hesitaram em me ouvir até o fim o meu agradecimento, a minha alegria, as preces e as bênçãos. Honrado pela atenção de todos, não conseguirei despedir-me por completo, porque o Pe. Pedro Rubens já me convidou com insistência para acompanhar, com todos, a próxima semana de estudos docentes, a de número 16 no início de fevereiro. “ói eu aqui de novo... falando... eu venho para falar”....

17/01/2006


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