
por Gabriel Petter
O clima era de festa. A meninada em polvorosa tomava os assentos e lotava a exibição. Dançarinos de São João e praticantes de artes marciais se misturavam à velhos, mulheres, adolescentes e jovens, na geleia geral que marcou o último dia da II Mostra Curta Vazantes. Fogos rasgavam os céus do pequeno distrito, estourando nos ares como a euforia geral de que teve um dia à parte na sua rotina: um dia de cinema – de alto nível.
Se o equilíbrio na seleção das obras já foi uma característica marcante da segunda edição da mostra Curta Vazantes: Cinema em Comunidade, a qualidade dos trabalhos em disputa deve ter dado dores de cabeça etílicas ao corpo de jurados. O destaque absoluto foi para o curta que fechou a mostra, o catarinense O Segredo da Família Urso (BRA, 2014), de Cíntia Domit Bittar, um tremendo horror movie ambientado no período do regime militar no Brasil. Mas, ainda antes, o fino Quebra de Contrato (BRA, 2013), do carioca Lindebergue Vieira, o divertido Doido Lelé (BRA, 2008), de Ceci Alves, e o experimental Moradores do 304 (BRA, 2007), de Cata Preta (sic), tornaram quaisquer especulações acerca da premiação mais incertas.
Mas quem acabou mesmo levando o prêmio de melhor curta-metragem de ficção foi o pernambucano João Heleno dos Brito, de Neco Tabosa, sem dúvida um dos melhores filmes em disputa. O mineiro Joana (BRA, 2013), de Daniel Pinheiro Lima, levou o prêmio similar na categoria cinema de animação.
Além das exibições habituais, o último dia da mostra trouxe também uma divertida série de filmes curtíssimos produzidos por alunos das oficinas promovidas pelo evento. Embora a meninada estivesse mais interessada em identificar os amigos que surgiam em cada curta (sempre se manifestando com irreverentes aplausos e gaitadas), foi comovente perceber o quão importante foi para aquelas crianças e jovens a experiência do fazer cinematográfico numa terra sem cinema. Sem dúvida, uma linda herança de um festival de caráter jovem e popular, mas que proporciona, ao mesmo tempo, a difusão e fruição de excelentes obras da nova safra cinematográfica do efervescente cinema nacional de curtas-metragens.
Sim, o cinema pode (e deve) ser democrático. A esperança na possibilidade de formação de (e do) público a partir da sétima arte nunca foi vã, e se reforça em eventos dessa natureza. Toda arte só é válida, se for socialmente útil. Que venham as próximas edições.
A MOSTRA CURTA VAZANTES: CINEMA EM COMUNIDADE é incentivada pelo Ministério da Cultura, através da Lei Rouanet e patrocinada pelo Armazém Coral.
Confira a premiação:
Categoria Curta-metragem ANIMAÇÃO:
Melhor Filme
Joana, de Daniel Pinheiro Lima
Melhor Direção
Fuga Animada, de Augusto Bicalho Roque
Melhor Fotografia
Elmando, de Anton Octavian
Melhor Montagem
Elmando, de Anton Octavian
Melhor Roteiro
A Pequena Vendedora de Fósforos, de Kyoko Yamashita
Categoria Curta-metragem FICÇÃO:
Melhor Filme
João Heleno dos Brito, de Neco Tabosa
Melhor Direção
Caradecaballo, de Marc Martínez Jordán
Melhor Fotografia
O Segredo da Família Urso, de Cíntia Domit Bittar
Melhor Montagem
Caradecaballo, de Marc Martínez Jordán
Melhor Roteiro
Doido Lelé, de Ceci Alves
Menção Honrosa:
Fotografia
Ilha, de Ismael Moura