AÇÃO ATEMPORAL. A iniciativa “Betinho: o beija-flor social” é parte do evento/debate Empresa e Comunidade: pluralidade singular, realizado por egressos do curso de Relações Públicas da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Na época, os autores definiram como título do trabalho as “Abelhas Universais”, conteúdos que versam sobre a prática do voluntariado.
Participaram do evento representantes do Programa de Voluntariado da Fundação Altino Ventura (FAV), Doula Comunitária: atenção humanizada à mulher, da Prefeitura do Recife e do Recife Voluntário. Na ocasião, os ex-alunos definiram e realizaram – como atitude reverenciosa -, homenagem ao sociólogo Herbert José de Souza, o Betinho.
Marca: “enxuta” por Alfredo Sotero, a partir do “layout” de ex-alunos de Relações Públicas.
Betinho: o beija-flor social
Existe uma fábula, contada por Hebert José de Souza, o Betinho em que um beija-flor tentando apagar um incêndio na floresta, carregando água com seu fino bico, tem sua ação questionada pelo leão. Por sua vez, lembra ao beija-flor que, sozinho não poderá solucionar o problema. A resposta do beija-flor é dizer que está fazendo sua parte. Essa fábula reflete no repertório de conduta cidadã, do narrador, que é mais conhecido por Betinho. Personalidade que procurou melhorar a realidade do país, com suas ações sociais.
Betinho nasceu em 3 de novembro de 1935, em Bocaiúva, interior de Minas Gerais. Formou-se em Sociologia e Política pela Universidade Federal de Minas Gerais. Desde jovem participou de movimentos estudantis, buscando ser um cidadão prático. Com apenas 27 anos foi um dos fundadores da Ação Popular (AP), organização política baseada na ideologia marxista. Também foi fundador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), e ajudou a fundar a Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), da qual presidiu por 11 anos.
Foi mentor de diversas campanhas e movimentos políticos e sociais, como a Campanha do Emprego, Natal Sem Fome e Ação da Cidadania contra a Miséria, Fome e pela Vida. Resistente à Ditadura Militar, foi exilado até ser reinstaurada a democracia no país. Participou do Movimento pela Ética na Política, uma das forças que levaram ao impeachment do presidente Fernando Collor. Teve papel importante na luta pela reforma agrária e preservação da floresta Amazônica, recebendo por isso o Prêmio Global 500 da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1991.
As três características mais evidentes de Betinho, foram a utopia, o altruísmo e a liderança. Ele era utópico por acreditar numa sociedade sem diferenças, a partir da ação cidadã. Altruísta, pela determinação de fazer algo pelo próximo, buscando amenizar os problemas sociais. E líder, por desde cedo exercer grande capacidade de fomentar opiniões e conquistar grande números de parceiros e seguidores.
Betinho foi voluntário em essência. Buscou ter olhar crítico sob a sociedade e tomar uma atitude para ajudar a suprir as necessidades observadas. Focalizou seus esforços em diversos segmentos de deficiência social, não se detendo a uma única frente de luta. Tornou-se símbolo da cidadania brasileira, deixando o exemplo de conduta ética, responsável e indispensável a uma sociedade.
Esse texto “base” foi entregue ao jovem e talentoso poeta Antônio Marinho do Nascimento – graduado em Direito pela Unicap deste 2010 -, natural de São José do Egito, Sertão de Pernambuco -, celeiro de poetas e cantadores de contextos populares, que o transformou em Betinho: o homem beija-flor.
Marca: Breno Carvalho.
Um incêndio arruinava uma floresta
E enquanto animais em multidão
Fugiam, um beija-flor com o seu bico
Pegava água de um ribeirão
E um irônico leão falou a rir:
Achas mesmo que irás tu conseguir
Apagar este fogo com esta arte?
O beija-flor lhe disse: Eu não sei
Mas sei que com a água que joguei
Eu conseguir fazer a minha parte!
Século vinte, ano trinta e cinco
No interior de Minas um menino
Nasceu, em Bocaiúvas, e com ele
A beleza que tinha o seu destino
Era Betinho que chegava ao mundo
Tornando este muito mais fecundo
Em amor e solidariedade
No dia três de um mês de novembro
Vinha até nós o mais louvável membro
Da militância da fraternidade.
Cresceu e desde cedo demonstrou
A importância que dava ao ajudar
E fundou junto a outros companheiros
A inesquecível AÇÃO POPULAR
Fundou o IBASE, fundou a ABIA
E se formando em Sociologia
E Política na Federal de Minas
Despertou para o caos capitalista
E então definiu-se marxista
Pra reerguer o mundo das ruínas.
Foi ativo pela preservação
Radical da Floresta Amazônica
Movimento por Ética na Política
Teve na sua luta mesma tônica
E protagonizando estes eventos
Mereceu o Prêmio Brasil 500
Lhe dando a ONU em 91
Foi homem que previu os amanhãs
E que lutou com as ações cidadãs
Pela chegada de um bem comum.
Comandaram seu mundo de idéias
Utopia, altruísmo e liderança
Pois sonhando com um mundo igualitário
Se vestiu e a todos de esperança
Envolve-se nas lutas sociais
Inclinando o rigor dos ideais
Para a vida dos mais necessitados
Veio o Golpe calando o meu Brasil
E vendo a flor cair ante o fuzil
Engrossou o cordão dos exilados.
Correu o mundo sempre na saudade
De voltar e lutar pelo Brasil
Enquanto aqui o povo não podia
Sonhar com a volta do irmão de Henfil
Mas com a anistia se cantou
E aquele que um dia se alcunhou
De irmão de Henfil fez seu caminho
Com suas próprias armas combateu
De maneira que a ordem se inverteu
E Henfil virou o irmão de Betinho.
Disse não à palavra segregar
E um sim eterno pro fazer o bem
Numa ação que jamais pediu em troca
Recompensa ou serviço de alguém
Quis ser só que foi, um operário
Do agir, do trabalho voluntário
Nos deixando a semente bem plantada
Sigamos pois um exemplo como esse
E lutemos com um único interesse:
Uma vida mais justa e partilhada.
Com grandeza ele fez a sua parte
E hoje aqui nós fizemos a nossa
E você o que é que está esperando
Pra também se juntar a esta troça?
Que com bravura firma um ideal
E o decanta neste carnaval
Que é a nossa vida e nossa história
Pois permitindo o bem em seu caminho
Você conseguirá tal qual Betinho
Ter honrado a sua trajetória.
A homenagem aqui é justa e séria
Mas só palavras não trazem justiça
É preciso coragem nas ações
Pra combater o ódio e a cobiça
Se o incêndio tem porte de gigante
Cada gota de água é importante
Se unidas no embate com o calor
Deixe o leão se acovardar sozinho
E venha unir-se ao mundo de Betinho
Pra ser também um homem beija-flor.
Antônio Marinho, 2007
São Autores: Bruno Tabatinique, Daysiane Alinne, Diego Siqueira, Gabriela de Andrade, Igo Bione, Janine Burgos, Maria Alana, Núbya Varela, Paula Volpe, Rochana Tatiani, Sabina Siqueira, Sandra Nunes, Sheila de Melo, Tainá Luiggi, Thiago Azevedo, Tiane Santana, Ubiratan Costa e Vanessa Fernanda. O trabalho foi orientado pelo prof. Alfredo Sotero e coorientação da profª Theresa Sampaio.
