Roberto Benjamin, um pesquisador maior

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A egressa de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e ex-professora dos cursos de Jornalismo e Relações Públicas da Instituição, Dr. Maria Salett Tauk Santos da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), fez homenagem ao seu ex-professor, seu amigo e seu colega de trabalho, no dia 25 de outubro, por ocasião da missa em respeito ao seu falecimento, no dia 20 do mesmo mês. A celebração foi realizada na Unicap, pelo Pró-reitor Comunitário Pe. Lúcio Flávio Cirne, S.J. Reproduzimos o texto da homenagem.

 

“ROBERTO BENJAMIN, um pesquisador maior

Roberto Benjamin é hoje, sem dúvida, a figura maior dos estudos das culturas populares no Brasil. Intelectual no sentido pleno construiu a sua trajetória de pesquisador urdindo uma alquimia que combina o rigor de sua formação jurídica, exercida brilhantemente no Ministério Publico de Pernambuco, à formação em jornalismo que favoreceu a sua sensibilidade privilegiada para explicar os fenômenos que envolvem a vida, a arte, a mentalidade popular.

Iniciou a sua carreira de professor no curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco, onde fez a sua formação em Jornalismo. Ensinou Radialismo, sua paixão à época; Comunicação Rural; além de disciplinas do campo do Direito. Foi coordenador do curso de Jornalismo da Unicap, período no qual o Curso se consolidou como melhor do Norte e Nordeste.

Na Universidade Federal Rural de Pernambuco criou o Curso de Mestrado em Administração Rural e Comunicação Rural, que constitui a origem seminal do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local da UFRPE, onde ensinou Folkcomunicação e orientou muitos alunos até 2012.

Entre as múltiplas contribuições de Roberto Benjamin ao estudo e interpretação da cultura brasileira, particularmente as culturas populares, destaca-se a sua militância política em prol da cultura quando exerceu a presidência da Comissão Nacional do Folclore e a Comissão Pernambucana de Folclore; como diretor do Departamento de Cultura da Secretaria de Educação de Pernambuco; e como ocupante da Cátedra nº 16 da Academia de Artes e Letras de Pernambuco.

Arte

O compromisso político com a educação fundamental é outro tipo de militância visível na obra de Roberto. Nesse sentido escreveu nos anos 1980 Arte- educação em Pernambuco, para ensinar aos meninos e meninas das escolas públicas os sentidos das artes, da literatura à arquitetura; e das manifestações populares do São João ao Mamulengo. Nesta obra, Benjamin trata também da influência da cultura popular na telenovela brasileira, chamando atenção para um fenômeno que emergia: o engendramento do popular massivo. Tornando-se um dos pioneiros a atentar para a questão da hibridização do popular e a cultura de massas.

Ainda na perspectiva do seu compromisso com a educação de crianças e jovens, Benjamin produziu uma obra densa A África Está em Nós (2005), em dois volumes, que se tornou texto obrigatório no ensino fundamental e médio em todo território nacional. Os livros tratam da história e cultura afro-brasileira, traçando um panorama que vai desde a exploração da África pelos europeus, passando pelo tráfico negreiro e inserindo o Brasil na diáspora africana. A originalidade da obra se dá pela valorização da produção da oralidade, quando trata da literatura afro. A sua atualidade se expressa nas abordagens que falam da resistência à exclusão social dos negros, por meio dos movimentos sociais e das políticas afirmativas.

África

Ampliando a matriz cultura e história, Benjamin lança em 2011 o livro Cultura Pernambucana, obra que trata das heranças culturais indígenas, africanas, holandesas, judaicas e ciganas e suas manifestações em território pernambucano, abordando da música à dança, da literatura à culinária; do teatro aos ciclos religiosos.

A obra de Roberto Benjamin se ancora em muitos campos de estudo. A pesquisa histórica funciona na sua produção como uma espécie de matriz, a partir da qual ele vai urdindo as origens e interpretando os fenômenos. Assim se dá quando trata, em O Almanaque de Cordel informação e educação do povo, da função dos almanaques populares do Nordeste; quando explica o “Lunário Perpétuo” cuja 1ª edição remonta ao ano de 1703; quando utiliza argumentos para distinguir a poesia popular da poesia matuta; quando analisa a Folkcomunicação a partir da recriação das ideias de Luiz Beltrão; ou ainda quando coteja os itinerários dos santos portugueses, a partir do romanceiro tradicional ibérico, e a passagem desses santos no Brasil, como é o caso da sua pesquisa mais recente sobre Santa Iria, São Gonçalo e Santo Antonio de Lisboa.

A comunicação para o desenvolvimento rural faz parte das preocupações de pesquisa de Benjamin. Nessa perspectiva produziu e orientou trabalhos acadêmicos sobre o rádio em contextos rurais e publicou, entre outros, Folkcomunicação e Difusão de Inovações (1984).

Com a sensibilidade de observador do cotidiano a etnografia é uma perspectiva teórico-metodológica que utiliza para explicar a arte, a vida, a mentalidade popular, como pode ser observado em obras como: Literatura de Cordel, produção e edição (1999); Os discursos do mamulengo, uma proposta de análise da influência da plateia; A fala e o gesto: ensaios de folkcomunicação sobre narrativas orais; Carnaval, cortejos e improvisos; ou A festa do rosário de Pombal.

O conjunto da obra de R. Benjamin credencia-o como autor maior da folkcomunicação no Brasil e um dos responsáveis pela atualização desse campo, como podemos constatar no livro de sua autoria Folkcomunicação na Sociedade Contemporânea (2004).

Robeerto Benjamin - manuscrito final

Há um estilo literário que pouca gente sabe que Roberto Benjamin é um craque. Trata-se dos relatos de viagem. Tenho o privilegio de guardar um desses manuscritos sobre uma das viagens que realizou à Paris em 1999, cuja narrativa lembra a de Gustave Flaubert em Les chemins de Felicité.

Para finalizar, quero dizer que Roberto ensinou a seus alunos muitas coisas que carregam na vida profissional, entre elas o compromisso político com as culturas populares. Dele admiro, e tentamos imitar, o gesto amoroso de compartilhar saberes, bem no sentido de Clarice Lispector quando diz que ‘amar os outros é a única salvação individual que conheço’  ” .

Maria Salett Tauk Santos

mstauk@hotmail.com

 

2 Respostas so far.

  1. Parabéns pelo texto e iniciativa da homenagem ao grande pesquisador e professor da Folkcomunicação.

  2. Nice Lima disse:

    Grande mestre que muito me ensinou e que faz falta. As palavras da Profa. Sallet refletem a importância desse ilustre homem que definiu e exercitou o que acredito ser a verdadeira comunicação.






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