REVISTA DE BÍBLIA EM HOMENAGEM A COMBLIN

Número: 119. • Data: Jul/Set 2013

Editora Vozes

A esperança de um mundo novo:

Estudos Bíblicos em memória do profeta José Comblin

 

SUMÁRIO

EDITORIAL, 239

ARTIGOS

Adenilton Tavares de Aguiar. Engajamento social e compaixão solidária: Carta de apelo a um rico dono de escravos, 241.

Aíla Luiza Pinheiro de Andrade. O sacdrdócio de Cristo e a laicidade do sacerdócio conforme a Carta aos Hebreus, 248.

Jair Rodrigues Melo. A simbologia da resistência política em textos sagrados: Hermenêutica a partir de Ap 17, 1-18, 257.

João Luiz Correia Júnior. Os fundamentos do amor solidário para com os pobres. Estudo da bem-aventurança de Mt 5, 3 em homenagem ao teólogo José Comblin, 266.

José Artur Tavares de Brito (Artur Peregrino). O Evangelho do Padre Comblin, 280.

José Comblin (in momeriam). Cidadania, lei e liberdade, 293.

José Raimundo Oliva. A boa-nova que tudo renova. Um olhar a partir de Jesus. “Quem é que dizem que eu sou?” (Mc 8, 27-30), 305.

Sebastião Armando Gameleira Soares. Três palavras que fazem lembrar o Pe. José Comblin, 317.

 Lançamento:

Data: Quinta-feira, 22 de maio
Horário: Das 17h30 às 18h30
Local: Espaço Loyola, térreo do bloco B da UNICAP.

 

JOSEPH MOINGT… E JOSÉ COMBLIN!

MOINGT, Joseph.
Deus que vem ao homem – Vol. I: do luto à revelação de Deus.

São Paulo: Loyola, 2010.

Este livro (em português) é o primeiro de quatro volumes já publicados (em francês) de uma obra de teologia cristã ainda inacabada de Joseph Moingt: Deus que vem ao homem. O autor, com mais de 90 anos, foi descoberto por José Comblin nos últimos anos de sua vida e acabou sendo o mais citado na sua obra póstuma (que deve sair no próximo mês pela Nhanduti), como “o teólogo que tem um método que nem o meu”.

Nesse primeiro volume, Moingt investiga a identidade pela qual Deus se revela na história de Jesus de Nazaré. O livro aborda o problema de Deus na filosofia, afim de ressaltar os caminhos pelos quais a descrença se espalhou e de observar as reações da teologia e suas tentativas de conciliação entre fé e razão. No segundo livro, disponível em português, o autor segue o itinerário do Verbo de Deus atravessando a opacidade silenciosa da “Carne do mundo”. Essa travessia proporciona o encontro com os grandes dogmas da fé cristã: trindade, criação, encarnação, pecado original e revelação de Deus na história. Trata-se de traduzir a aparição de Deus no tempo em termos de ser e de eternidade, de confrontar a linguagem bíblica da criação com a das ciências do universo, ou o discurso do pecado com o problema do mal estudado pelos filósofos, e, mais ainda, de falar da humanização do Verbo. Os outros livros já estão sendo traduzidos pela Loyola. Mais informaçõesaqui, no site da editora.

E para quem lê em francês mesmo, o autor acabou de lançar pela Desclée de Brouwer uma nova obra: Faire bouger l’Eglise catholique (Fazer mover a Igreja católica). Aí o editor pergunta (veja aqui na Amazon): “Devemos nos resignar a ver a Igreja Católica voltada sobre si mesma, como por um estranho efeito de glaciação? Ela pode separar-se a tal ponto das pessoas de hoje? Não, diz o teólogo Joseph Moingt, dedicado nesse livro à defesa de um novo impulso para a Igreja. Dinâmica que necessariamente requer uma profunda mudança: promover verdadeiras comunidades do evangelho, através da redução da instituição, para oferecer às mulheres um lugar digno desse nome, retornar às intuições do Concílio Vaticano II. Não é esse o sentido de um autêntico humanismo evangélico? Há uma urgência de avançar. É urgente registrar uma nova esperança, longe de medos e tensões do passado”.

Joseph Moingt é jesuíta, nasceu em 1915 em Salbris (Loir-et-Cher, França). Depois dos estudos de filosofia e teologia na Companhia de Jesus, ele seguiu a École Pratique des Hautes Études e defendeu uma tese de teologia no Institut Catholique de Paris. Foi professor de teologia sucessivamente na Faculdade jesuíta de Lyon-Fourvière, no Institut Catholique de Paris e nas Facultés de Philosophie et de Théologie de la Compagnie de Jésus à Paris (Centre Sèvres). Também dirigiu a prestigiosa revista Recherches de Science Religieuse, de 1968 à 1997. Entre as suas obras: Théologie trinitaire de Tertullien (Aubier-Montaigne, 4 vol, 1966-1969), Le Devenir chrétien (DDB, 1973), La Transmission de la foi (Fayard, 1976), L’Homme qui venait de Dieu, Le Cerf, coll. Cogitatio fidei n° 176, 1993), Les Trois visiteurs (DDB, 1999), Plusieurs contributions dans des ouvrages collectifs, notamment «Le Dieu des chrétiens» dans La Plus belle histoire de Dieu (Le Seuil, 1997).
Veja aqui uma carta de Moingt aos estudantes brasileiros,
 sobre os desacordos entre a pregação de Jesus e a da Igreja.

BIBLIOTECA DE COMBLIN NA UNICAP

O padre belga José Comblin foi um dos mais importantes representantes da Teologia da Libertação. Trabalhou na América Latina desde 1958. A convite de Dom Helder Câmara veio para o Recife, onde foi professor do Instituto de Teologia – ITER. A partir de 1969 esteve à frente de seminários rurais em Pernambuco e na Paraíba. A metodologia que desenvolveu foi da formação na ação, adaptada ao ambiente social dos seminaristas, e essa experiência lançou as bases para a sua Teologia da Enxada. Suas ideias atraíram a suspeita do regime militar. Foi expulso do Brasil em 1971. Exilou-se no Chile durante 8 anos. No seu livro A Ideologia da Segurança Nacional, publicado em 1977, destrinchou a doutrina que servia de base para os regimes militares na América Latina.
Foi expulso por Pinochet em 1980. Ao desembarcar no Recife, foi preso na Polícia Federal, considerado ainda “persona non grata” já em tempos de redemocratização! Ultimamente morava na cidade de Barra, no interior da Bahia. Levava vida simples e comprometida com uma Igreja humilde e a serviço dos pobres. Sua dedicação maior sempre foi à formação de comunidades de base, além de escrever muitos e importantes livros, onde avivou a profecia da liberdade. Para ele, liberdade é a base da vocação evangélica, a conclusão final de toda a história bíblica e o fundamento da nova existência para a humanidade toda. Entendia que anunciar o evangelho é anunciar a liberdade, pois “No início do cristianismo, evangelizar era despertar para a liberdade e passar a pensar livremente” (COMBLIN, J. O povo de Deus. Paulus, 2002, p.412).
Pois bem, uma vez Comblin chegou e me sussurrou: “Olha, eu tou pensando em morrer e quero que você ajude a deixar minha biblioteca resguardada e a serviço do povo”. Dessa conversa, em uma assessoria conjunta que fizemos às CEBs em João Pessoa, surgiu o projeto de doação dos livros do Padre José à Universidade Católica de Pernambuco, que foi ratificado por ele mesmo em um Café Teológico no ano de 2009. Os livros começaram a chegar desde então e mais ainda após o seu falecimento, em março de 2011. Com a colaboração dedicada da Irmã Mônica Muggler, secretária e cuidadora de Comblin, com a ajuda do nosso Mestre em Ciências da Religião, Paulo César Pereira, pastor batista que defendeu dissertação sobre Comblin e acabou seu amigo, bem como com o apoio da diretora da nossa biblioteca, Jaíse Leão, temos já mais de três mil livros catalogados e à disposição de pesquisadores e da comunidade. Atendendo ao desejo do próprio Comblin, à exceção das suas obras mais raras, os livros estão disponíveis no acervo público, para serem manuseados pelos frequentadores da Biblioteca Central da UNICAP. Mais ainda: pelo sistema informatizado, qualquer um pode acessar com um clique a “Coleção Pe. José Comblin”, na íntegra ou por autores, títulos ou temáticas específicas. Isso pode ser feito mesmo de casa, através da internet.
Por aí é possível começar uma pesquisa e desmistificar as coisas: já podemos comparar, por exemplo, o que Comblin leu sobre Marxismo (veja aqui: 96 livros) com o que ele leu sobre Bíblia (veja aqui: 456 livros). E assim, sobretudo se a gente vai depois aos livros mesmo e analisa as notas e observações aí deixadas pelo padre José, vamos compreendendo melhor as influências que recebeu a sua obra com mais de 60 livros escritos e acima de 300 artigos publicados – muitos deles também disponíveis na nossa biblioteca. Todo esse acervo já está atraindo pesquisadores: Adriana Thomé, que escreve uma dissertação sobre Comblin na Universidade Metodista de São Paulo, veio fazer estágio de quatro meses aqui, para aproveitar do “tesouro”; Alzirinha Souza, que faz doutorado sobre Comblin na Universidade Católica de Louvain, está vindo para ver os livros e arquivos do mestre… Outros certamente chegarão, seduzidos por uma obra monumental (ainda mais se considerarmos as condições em que Comblin viveu), tanto quanto pouco compreendida e/ou abrigada pela sua própria Igreja.
Penhorados, agradecemos à comunidade dos jesuítas da UNICAP e sobremaneira ao nosso reitor e professor do Mestrado, Padre Pedro Rubens, pela teologia aberta e visão de futuro na acolhida dessa biblioteca emblemática. Temos muita satisfação em ter ajudado a prestar esse serviço público ao direito de uma fé mais esclarecida, ao mesmo tempo em que resguardamos a memória do profícuo e íntegro mestre do cristianismo, nosso amigo padre José, que ficou feliz em vislumbrar as suas ideias discutidas criticamente e os seus ideais atualizados e encarnados no campus da gente – onde aos poucos vai surgir um núcleo de estudos do seu pensamento. De 25 a 27 de maio de 2011, durante a Semana de Teologia da Universidade, que tratou do tema “O Cristianismo em diálogo”, já aconteceu no hall da Biblioteca Central a exposição “Padre Comblin: o teólogo da enxada“, com mostra da sua obra. Agora, no dia 30 de janeiro próximo, com solenidade no Seminário de Olinda às 17h, estará se formando a “Turma José Comblin” do Bacharelado em Teologia da Católica, nome que foi votado pelos estudantes. Foi-se o homem, multiplicam-se os seus pensamentos – porque a vida e os livros que deixou trazem uma inquietação libertária e tão humanizante, que só pode ser divina! Resultam de uma inculturação tão regionalizada e encarnada do cristianismo, que se torna universal!
Gilbraz.
Acesse aqui os livros,
selecionando “Col. Pe. José Comblin” na opção Localização Interna.