GONZAGA EMPREENDEDOR

23 de dezembro de 2012
By
 GONZAGA EMPREENDEDOR

Prestei consultoria ao SEBRAE-PE durante 4 meses para preparar os textos e fundamentos conceituais e teóricos para o PAVILHÃO LUIZ GONZAGA EMPREENDEDOR da FEIRA DO EMPREENDEDOR realizada no CENTRO DE CONVENÇÕES DE PE na semana de 17 a 20 de outubro passado. .Foi um trabalho muito interessante e contei com a colaboração de Rafael Leite, historiador, Heledelane Nascimento Santos e  Gleudson Trajano de Menezes, auxiliareis de pesquisa.Trata-se de um olhar da vida e obra de Gonzaga sob o prisma empreendedor. A seguir, imagens do pavilhão, nossa visita e artigo que escrevi sobre o tema. Durante a pesquisa evidenciamos a influencia de L. G. sobre a gastronomia, dança, artes gráficas,  grupos musicais, entre outras áreas da economia criativa. Nas imagens abaixo, vê-se a estilista Celinha do Cariri ao meu lado.  
o

A OUSADIA EMPREENDEDORA DO SANFONEIRO LUIZ GONZAGA

LUÍS CARVALHEIRA DE MENDONÇA (*)

               

A obra de Luiz Gonzaga é uma das mais festejadas da música popular brasileira. Inseriu na alma brasileira a crônica da vida sertaneja nordestina, desde a vivência do semi-árido até a diáspora dos migrantes nas cidades grandes do Brasil.Sua contribuição é comparável à de Pixinquinha, Noel Rosa e tantos outros. Há, porém, na história de sua vida momentos relevantes de audácia empreendedora presentes em suas quase 20 biografias  que não foram ainda realçados talvez porque não houvesse esse olhar empreendedor, mas que merecem ser apreciados nas comemoracões de seus 100 anos de nascimento.

O ponto que defendemos é que ele foi tudo que foi, fez tudo que fez e realizou tudo que realizou porque sua trajetória foi marcada por ousadias empreendedoras. Somente esta postura explica por que e como uma pessoa negra, que experimentou a seca do Nordeste, era semi-analfabeta, migrou para o Centro- sul do país, tentou a sorte na cidade do Rio de Janeiro, tocou vários ritmos, foi impedido de cantar suas canções e sofreu humilhações nas rádios, conseguiu dobrar tudo e superar-se, transformando-se no maior sucesso de disco do pais na década de 50, conforme Gil proclamou: o baião passa a se constituir no principal gênero da nossa música popular, depois do samba.

Na área dos estudos empreendedores, seu perfil pode ser enquadrado em diversas óticas conhecidas do empreendedorismo desde Schumpeter à McClelland, de Drucker à Fillion, de Dolabella à Souza até a mais recente corrente de ação empreendedora via mobilização e integração do capital social do migrante no Sudeste do pais.

Já a linha do tempo de sua vida a partir da fuga do Exu, a carreira militar, a trajetória de dificuldades e sucesso no Rio de Janeiro, a volta a Pernambuco em busca simbolicamente de suas raízes inspiradoras, indica tal audácia empreendedora. Na verdade, sua obra foi genuinamente brasileira. Não buscou o mote de suas canções nos tangos, nas valsinhas, nem nos fados ou nas composições maviosas americanas do pós-guerra embora conhecesse todos esses gêneros. Foi na sanfona, na zabumba e na delicadeza do triângulo que ele esculpiu suas canções, cumprindo o rito da inspiração poética no dizer do poeta Fernando Pessoa ao valorizar o Rio Pajeú que banha a sua aldeia ao invés dos Rios Capibaribe e Beberibe da capital do seu estado ou a Baia da Guanabara da cidade maravilhosa. Por isso Ricardo Cravo Albin, diz que, em 1945, ele surgiu para o sucesso como uma figura de raríssima importância. (…) que teve decisiva participação histórica dentro da afirmação de uma cultura nacional mais ligada às fontes telúricas do próprio Brasil.

À luz dos comportamentos do EMPRETEC (McClelland) /SEBRAE, o enquadramento dele é paradigmático. Explorou a temática da geografia física e humana do Nordeste; adotou estratégia de focalização nesta temática nunca a abandonando; gravou músicas baseadas nos códigos simbólicos das raízes melódicas dos códigos dos migrantes nordestinos do Rio e de São Paulo e usou a era do rádio como o veículo para divulgar suas criações pelo país a fora. Inseriu-se na indústria fonográfica, com base no Rio de Janeiro, utilizando-a como vetor da logística de vendas de sua obra nas capitais do Nordeste e pelo Brasil. Graças a um bom círculo de relações tornou-se um dos músicos que mais gravou na famosa RCA Victor, produtora dos discos de vinil de então; soube, ainda, colocar, teimosamente depois de vencer várias resistências, sua voz em suas canções e protagonizou o papel de Rei na corte que inventou. Em virtude deste carisma convidou parceiros a dedo, conhecidos e novatos e associou-se a coautores fundamentais como Humberto Teixeira e Zé Dantas. O tiro certeiro dessas duas escolhas diz tudo. Um advogado e um médico, homens formados e brancos, tornariam a sua presença mais palatável aos padrões da sociedade preconceituosa de então contra nortistas pobres, escuros e analfabetos como era seu estigma, observa a pesquisadora Sulamita Vieira em obra interpretativa da produção dele. Aliás, como descobridor de talentos, a revelação   do então jovem Dominguinhos dispensa comentários.

Soube criar, também, em torno de sua produção uma cadeia de fornecedores, acompanhantes, seguidores e admiradores e inventou a fidelização de seguidores ao doar sanfonas. tendo atravessado o Brasil de norte a sul sob patrocínio de uma grande empresa em iniciativa pioneira à epoca. E mais, quando do lançamento do BAIÃO, revelou-se marketólogo (expressão de hoje) porque fez o evento acontecer, dentro de uma estratégia mercadológica comercial planejada, como assinala sua biografra, Dominique Dreyfus: contava Humberto Teixeira, a ideia de Luiz Gonzaga era fazer uma grande campanha para lançar a música do Nordeste (…) no caso do baião houve um real planejamento, uma intenção de lançar no Sul, e, portanto, para todo o Brasil, e isso tudo partiu da cabeça de Luiz Gonzaga, e só da cabeça dele.

 Não há dúvida, em um ambiente histórico onde a boemia predominava, sua audácia fez com que ele harmonizasse ócio (mundo das artes) com negócio (mundo da economia) transformando-se em pioneiro da economia criativa, resultado da autoconfiança, da perserverança e do comprometimento, lastros da ousadia do seu espírito empreendedor  singularmente genial.

(*) O autor é professor da UNICAP, pesquisador de empreendedorismo e consultor credenciado do SEBRAE-PE. Este texto resume pesquisa produzida para esta instituição, durante o primeiro semestre de 2012.

As pessoas interessadas em aprofundar o assunto posso disponibilizar slides da apresentação acima. Pedir por mensagem. Ab LCM

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

Tags