Um texto profundo e bem escrito, traz, inevitavelmente, o enquadramento filosófico e a contemporaneidade de grandes pensadores. O artigo “Fascínios e temores: desafios éticos às novas tecnologias midiáticas”, escrito por Pedrinho Guareschi foi publicado no Dossiê Culturas Urbanas e Teologias da Fronteiras – Revista de Teologia da UNICAP (v.3, n.1, p.14-39). Neste dossiê, também são discutidos: religião e política, movimentos sociais e processos de democratização, ações evangelizadoras e uma abordagem sobre os desafios da cidade sob a ótica do Journal of Adventist Mission Studies.

O autor leva-nos a uma reflexão instigante sobre os avanços tecnológicos, novas formas de comunicação, inteligência artificial e condicionamento algorítmico e as questões éticas. Com elegância, o autor realça a ausência de um debate sobre ética no acompanhamento da inovação digital suscitando a necessidade de um senso de responsabilidade compartilhada entre empresas, governo, políticos e a sociedade. Embora citada apenas uma vez no final esperançoso do texto, Hannah Arendt esteve presente na minha leitura, principalmente pela “banalidade do mal” que pode, eventualmente, estar inerente aos sistemas de mercantilização da vida humana.

Contudo, o que mais me trouxe na leitura deste texto, foi o mundo líquido de Bauman. Embora não citado no artigo, eu pude identificar passagens importantes que me fizeram aproximar a pós-verdade de Guareschi da pós-modernidade de Bauman. No manuscrito, vemos a perda das rotinas e padrões das instituições, a separação do poder e da política e a solidez dos laços inter-humanos. Este último, claramente ameaçado pelas redes sociais, pelo poder midiático e pela vulnerabilidade de manipulação da chamada, inteligência artificial e os algoritmos.

Tomei a liberdade de exercitar meu lado Freriano ao ler este texto. O resultado foi o diálogo da pós-modernidade com a pós-verdade. Seria esta a ética da contemporaneidade em tempos onde a busca pelos limites esbarra no ilimitado poder da tecnologia? Sugiro ao leitor que embarque como eu neste artigo de importância determinante e que não julga o avanço tecnológico em si, mas (a) clama por ética (Call for an IA Ethics), (b) a descrição de um novo tipo de capitalismo e (c) a educação para uma consciência crítica.

Link de acesso ao Dossiê da Fronteiras: http://www.unicap.br/ojs/index.php/fronteiras/issue/view/124/showToc

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