ARGUMENTO

Colóquio Internacional Sobre Metapsicologia da Perversão

Usos Sociais da Perversão

Sob o tema da “perversão” agregam-se vários quadros clínicos, desde as psicopatias, passando pelos desvios sexuais e morais, até as personalidades narcísicas. A tonalidade moralista que esse termo tem, desde a sua origem, imprimiu nele uma marca que os séculos não conseguiram apagar. O verbo latino pervertere significa defeituoso, vicioso, desregrado e dele deriva também o termo pejorativo “perversidade” que justifica a tendência a vincular a perversão a atos de crueldade e violência. A metapsicologia da perversão, desde Freud, tomou diversas direções: a perversão polimorfa (como predisposição natural da sexualidade infantil), a perversão como desvio (quando adquire o caráter de exclusividade e fixação), a perversão como modelo estrutural da fantasia. Ao associá-la ao fetichismo, Freud distingue seu mecanismo – a Verleugnung (desmentido) – dando a ela um estatuto metapsicológico. Lacan a insere na lógica fálica, mostrando que o objeto fetiche vem no lugar do phallus materno, desmentido da falta na mãe. A vertente ética de discutir a perversão como imperativo categórico de Sade – de fazer gozar – abre caminho para se pensar a perversão como laço social, como uma montagem e como uma possibilidade de discurso próximo ao discurso capitalista. Perversão generalizada, perversão ordinária são termos frequentes mostrando sua presença no laço social contemporâneo, quase uma espécie de ideal identificatório que permeia as relações sociais e os usos que o sujeito faz do objeto, sempre de usufruir, de gozar sempre mais.

Quais são, então, os usos sociais da perversão? Como discuti-los metapsicologicamente, considerando seus efeitos nas organizações subjetivas hoje?