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20/09/2005
Professor de Letras apresenta trabalho sobre obra de ex-aluno

Jorge de Assis

A UNICAP pôde acompanhar, na última sexta-feira (16), como a pesquisa de um ex-aluno virou objeto de estudo de seu professor, durante a mesa-redonda Contos Negreiros, promovida pelo Departamento de Letras, no auditório G1. O professor de Teoria Literária, Janilto Andrade, apresentou o início dos estudos sobre as obras do contista e ex-aluno Marcelino Freire. A chefe do Departamento, professora Rachel Hollanda, deu início aos trabalhos definindo o papel humanístico e comunitário da Universidade.

Emocionada com o reencontro entre os professores e o ex-aluno, a professora Rachel ressaltou que os personagens de Marcelino Freire são porta-vozes das injustiças sociais, dos desníveis culturais e da poesia encontrada na simplicidade dos que catam lixo.“Marcelino escolheu dentro de Letras a produção literária como sua contribuição na construção de uma sociedade melhor”, destacou a docente.

Em sua apresentação, o professor Janilto Andrade explicou como foi difícil o início dos estudos pelo fato de não haver nenhum trabalho acadêmico sobre o contista. “Eu quase desisti. Por ser um trabalho pioneiro, tive que tratar com cuidado”, disse o docente, enquanto mostrava seu dossiê de trabalho inicial, composto por recortes de periódicos, livros e artigos. “Fuçar, procurar, perguntar se as pessoas conhecem também faz parte da pesquisa”, brincou o professor, que também fez uma breve biografia do autor e seus trabalhos publicados.

Formado em Letras pela UNICAP no final da década de 80, o autor foi para São Paulo em 1991. Lá começou a luta para publicar suas obras. Na opinião do professor Janilto, o autor escreve com bom humor sobre temas polêmicos como o preconceito, a homossexualidade e o conflito de classes. “Os contos são breves, mas não sacrificam as características da narrativa. Boa parte deles emprega o que a tradição moral chama de palavrão”, analisa ele.

Mas os palavrões, de acordo com o professor, representam um recurso essencial para retratar a realidade das minorias. Trata-se de um estilo chamado literatura feia. “Não pode ser um texto belo, pois não fala sobre nenhum objeto de grife. Ele escancara o que a cultura de massa prefere esconder. Não há outro jeito de expressar o sentimento das personagens”, completa.

O professor convidou um dos alunos a dramatizar um dos contos do autor para o público. A apresentação se baseava em um homem pobre que pretendia se suicidar se jogando do alto de uma ponte. Para falar como se sentia, ele usava palavras de baixo calão. Outros dois contos também ganharam dramatização na interpretação dos alunos do Departamento. Em um deles, ficou clara a musicalidade presente nos textos de Marcelino Freire. “Ele se tornou bailarino da linguagem. E a inquietação dos personagens se soma a isso como algo necessário para viver em meio a tantos desníveis sociais. É desnudando o presente que analisamos a realidade e construímos um futuro melhor”, conclui Janilto Andrade.

Ao assumir o microfone, Marcelino Freire se revelou espantado. Ele comparou a sensação de presenciar seu ex-professor falando de sua obra com a que sentiu na primeira aula de literatura dentro da UNICAP na década de 80. “Estou emocionado, espantado. Na minha literatura tem muita influência de Manuel Bandeira, teatro e, não é média não, mas a participação de Janilto foi fundamental”, afirma o autor, que ainda ressaltou a forma livre com a qual procura escrever. “Isso eu devo muito à minha mãe que sempre foi uma mulher lutadora e corajosa. Hoje eu posso exercer outra profissão para ter o que comer no final do mês, mas eu sou um escravo da literatura”, completa.

Sobre as dificuldades de publicar as obras, o contista revela que elas funcionam como estímulos. “Às vezes o que precisamos para correr atrás é um desafio. Eu dava uma de doido para poder tocar os inúmeros projetos. Levei muito ‘não’”, revela. Mas Marcelino Freire também conta que procura canalizar essas lutas através de suas personagens. “Eu passo muito essa urgência para eles. As forças vão nos chamando para a briga e a gente precisa brigar. Não há alternativa”, conta ele, que também ficou grato pelo convite da Universidade. “Ter voltado aqui foi uma das grandes emoções de minha vida”, frisou.

 

 

       
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