INVENÇÃO
José Carlos Mélo

 

.: CASUAIS

.: FANTASIAS



Movimento Armorial pretende realizar uma arte brasileira erudita
a partir das raízes populares de nossa cultura”, assim prega Ariano Suassuna
e assim seguimos na criação desta coleção, buscando trazer dos contextos populares
os elementos significativos para agregar valores ao modo de vestir, especialmente da mulher.

Serviram-nos de fonte de inspiração quatro tendências ou conceitos: a heráldica medieval;
os folguedos e costumes do folclore nordestino;
a gravura de Samico e os têxteis e adereços populares.

Nosso ponto de partida foi o nome do movimento: “armorial”, que está associado à heráldica, melhor dizendo, a arte de formar e descrever brasões.
Tão vigente na Idade Média, a heráldica está presente em nossa arte popular desde os ferros
de marcar boi aos estandartes do maracatu e as bandeiras das cavalhadas.

Mesclamos o exagero do Barroco com as artes decorativas e teocêntricas e com os elementos da heráldica para elaborarmos peças que privilegiam aspectos como os brasões, as insígnias,
o cavaleiro, a corte real, o clero. Trouxemos à tona tendências peculiares de outros séculos, predominando os longos, a sobreposição de roupas, os emblemas, a estola, as coroas e tiaras e cores como o vermelho, o preto e o dourado.

Dos folguedos e costumes do nosso folclore, buscamos no Bumba-Meu-Boi, no Pastoril, no Bacamarte, no Cangaço, no Vaqueiro e na Camponesa, elementos para ilustrar o vestuário.
O colorido, a modelagem vernacular, os traços da tradição popular predominam nesta parte da coleção.

A exoticidade, a simetria e o mistério das gravuras de Samico ilustram e tecem as curvas nas roupas, em sua maioria de algodão cru, dessa terceira tendência. Optamos pelas cores puras como o azul, amarelo e vermelho, os traços geométricos,
as listas, a estamparia e as aplicações em tubilhos
e lantejoulas.

Por fim, recorremos aos coloridos e enfeitados acessórios e tecidos populares. A chita com seu estampado berrante compõem vestidos e saias que recebem aviamentos como fitas de cetim, sianinhas, passa-fita, galões, bicos de renda, lantejoulas. As estampas florais e com folhagens dão o caráter alegre e genuíno, típico das mulheres do Nordeste.

Ah! Escolhemos esse nome, homônimo à peça
de Ariano Suassuna, “Uma Mulher Vestida de Sol” (1947), para batizar a coleção, porém optamos por pluralizá-lo para englobar as diversas mulheres do Nordeste.