O Serviço de Orientação à Filiação Adotiva – SOFIA surgiu a partir do acompanhamento clínico a crianças e pais adotivos, pacientes da Clínica de Psicologia, da Universidade Católica de Pernambuco.

Sabemos que a filiação adotiva não repousa sobre o tripé da filiação jurídica, da filiação biológica e da filiação psíquica. A ausência do vínculo biológico abala a certeza narcísica de ser pai e mãe. A consolidação dos fundamentos legais da adoção tem assumido um papel importante de compensação desta ausência, mas é preciso também favorecer, nesse contexto, a re-apropriação da ficção parental por meio da elaboração de uma cena primitiva familiar originária da criança, do contrário a criança será sempre endereçada à sua origem e o vínculo pais-filho será sempre frágil, por isso pode ser destituído, quebrado. Isso nos mobilizou a empreender uma investigação sobre o desejo de adotar.

Então, a partir de 2002, juntamente com o Laboratório de Psicopatologia Fundamental e Psicanálise, da UNICAP, que dá suporte ao Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica, empreendemos a primeira pesquisa e, desde então, nos dedicamos ao estudo da adoção.

As pesquisas desenvolvidas pelo SOFIA revelaram que a adoção é ainda um tema tabu; quem opta por ela como forma de constituir uma descendência se vê lançado em um turbilhão de dúvidas, incertezas e questionamentos sobre a própria aptidão de ser pai e mãe e ansiedades quanto à índole da criança. Os mitos presentes no imaginário popular alimentam os medos das famílias em relação à possibilidade de uma descendência não consangüínea. As fantasias sobre a herança genética da criança atravessam silenciosamente a relação entre pais e filhos como uma verdade velada e responsável pelos possíveis infortúnios, razão pela qual a decisão de adotar é protelada.

Tais evidências deram sustentação para a criação do SOFIA, vinculado à Clínica de Psicologia da UNICAP. O Serviço passou efetivamente a funcionar a partir de 2005, e atualmente, a equipe é constituída de profissionais de psicologia: professores; doutorandos; mestrandos; estagiários de psicologia e voluntários.

O SOFIA se consolida, desenvolvendo atividades que integram o ensino, a pesquisa e a extensão em prol da causa da adoção:

• atendimento psicológico a candidatos à adoção, pais e filhos adotivos;
• palestras e grupos de estudo sobre temas pertinentes;
• campo de estágio obrigatório aos alunos do curso de Psicologia, com prévia preparação teórica para trabalhar com a especificidade dessa clínica;
• prática clínica especializada para profissionais egressos de Psicologia que se engajam no Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica e no Serviço como voluntários;
• desenvolvimento de projetos de pesquisa e orientação de projeto de tese de doutorado, dissertação de mestrado e monografias de conclusão de curso;
• trabalho colaborativo com algumas Comarcas do Estado de Pernambuco e apoiada na nova legislação da adoção.

O SOFIA busca uma integração permanente sociedade-universidade, contribuindo para as políticas públicas sobre adoção. Suas ações tendem a se multiplicar sempre sustentadas num caminho ético com fundamentação teórica consistente que só a investigação poderá fornecer.