Traição não tem explicação na sociedade
Em busca de respostas, traidores e traídos ocupam divãs de consultórios terapêuticos
Mariana Camaroti e Ondine Bezerra
         
 

O que leva homens e mulheres a trair seus companheiros? Desejo, sedução, auto-afirmação, vingança? Ainda não se sabe, mas, em busca dessa resposta, muitos traidores e traídos vêm ocupando cada vez mais os divãs dos consultórios terapêuticos, com um dos assuntos mais delicados da raça humana.

O fotógrafo P.L.M., 53 anos de idade e 30 de casado, confessa manter um caso com uma moça de 19 há dois anos. P.L. diz que, hoje em dia, ele e sua mulher vivem como dois amigos e que não considera traição o que faz, já que o que mantém com a amante é apenas uma vida sexual. “Traição seria se eu tivesse outra além dessa moça”, justifica. Para o fotógrafo, o compromisso de manter a aparência do casamento é maior do que a vontade de dividir a mesma casa com a amante.

Pesquisas realizadas pelo Núcleo de Família, Gênero e Sexualidade da Universidade Federal de Pernambuco revelam que a amante corrige as falhas internas do homem dentro de um matrimônio e reforça a situação de prestígio dele diante de uma relação conjugal. As pesquisas apontam que os homens vêem nas amantes a possibilidade de fuga da rotina familiar.

“Não é fácil ser traída após 20 anos de casada”, diz a empresária S.R., 47 anos, que descobriu recentemente que o marido tem um caso. “Dói, porque é o rompimento unilateral de um pacto de cumplicidade. Você se sente roubada, ludibriada, desprezada e desrespeitada. Tiram dos seus pés a coisa mais sólida de um casamento: a confiança”.

A traição, na maioria das vezes, está ligada ao tipo de compromisso existente entre o casal. Para o professor de educação física F.J., uma relação extra-oficial é fruto da falta de novidade de um namoro ou de uma atração antiga. Porém, professor confessa trair mesmo quando está gostando da namorada. “Muitas vezes, nem tenho um motivo justo. Quando percebo, já estou envolvido com outra pessoa”. Ele diz que, provavelmente, aceitaria ser traído. “Se eu posso, porque ela não pode?”, justifica.

 

ADULTÉRIO FEMININO

A maioria das adúlteras da história não recebeu tanta condescendência quanto os homens. Para elas, as punições variavam desde a morte imediata e da exposição do corpo nu em locais públicos até as surras, que ainda resistem como castigo nas mais variadas camadas sociais de todo o mundo.

A gravidade do adultério feminino em tempos passados era tão alta que, na Idade Média, o homem que flagrasse sua mulher num ato de traição era obrigado a matá-la, com direito a acabar também com a vida do amante. Caso o traído se recusasse a matar a esposa, era condenado à morte, porque estava se negando a defender a honra masculina.

Já exemplos de adultérios masculinos impunes ao longo da história são fáceis de serem encontrados. É o caso do gênio da física Albert Eistein, que espancou, traiu e abandonou duas esposas. Sem falar no atual presidente americano Bill Clinton e seu famoso caso com uma estagiária em plena Casa Branca. Ou ainda o maior nome do cinema mudo, Charles Chaplin, um mulherengo incurável.

 

INFIDELIDADE É CRIME

De acordo com a última pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 70 % das separações litigiosas são motivadas pela traição. Nas varas de família, esses desencontros amorosos quase sempre são causados pela infidelidade por parte dos maridos. A novidade é que hoje em dia as mulheres não têm mais um comportamento passivo diante da infidelidade, já que, em cada quatro dessas separações, três foram requeridas pelas esposas traídas.

Os processos de separação motivados pela traição são citados no Código Penal, pois são tidos como bigamia, crime previsto em lei com pena de dois anos de reclusão. Contudo, é um desejo popular que o adultério deixe de ser considerado um crime. Pesquisa realizada na Internet revela que 63,5% dos entrevistados são contra a exclusão da bigamia no Código Penal. O ex-ministro da Justiça, José Carlos Dias, defende a exclusão dos crimes de adultério e sedução do Código Penal. “Não vejo sentido na manutenção desses artigos nos tempos de hoje”.

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