O grande armário da traição
 
 
O que você faria se descobrisse que o seu parceiro tem um relacionamento homossexual?
 
 
Karina Rocha
 
           
 

"Saiu do armário”. Esta é a expressão usada no meio G.L.S. ( Gays, Lésbi cas e Simpatizantes), para falar sobre alguém que assumiu a sua homossexualidade publicamente. Mas isso é bem raro, pouca gente consegue deixar um relacionamento heterossexual, uma família tradicional, para viver sua sexualidade. Resta então a temida infidelidade. O que você faria se descobrisse que o seu par romântico na verdade está curtindo ficar também com alguém do mesmo sexo dele ou dela ? A maioria dos nomes de entrevistados a seguir são fictícios, o objetivo é proteger o segredo ou o “orgulho ferido” de muitos deles.

“Você tem que estar acima de qualquer suspeita”, argumenta Pedro, pequeno empresário do ramo das confecções. Pedro é casado há 15 anos, tem três filhos, e pretende nunca revelar seus casos com homens. “Desde sempre tive atração por homens, mas era uma coisa amena, saí algumas vezes com outros homens e, mesmo após o casamento, continuei, mas não assumirei isso pra ninguém, tenho 40 anos e até hoje estou no armário”.

Pedro não acredita que descubram seu segredo, ele sempre toma muito cuidado em suas escapadas. “Esse meio é muito discreto entre os não assíduos, uma regra básica é, mesmo que eu adore, nunca repito um parceiro, nunca sabem meu nome verdadeiro tudo que eu falo pra eles é imaginação”, conta.

OUTRO LADO

“Eu simplesmente quis morrer”, afirma Bruna, uma secretária de 25 anos, que descobriu os casos do seu namorado assim que ele acabou o relacionamento com ela. “Quem me falou foi a minha tia, no dia em que acabamos. Liguei pra ela, chorando muito. Foi quando ela me contou que ele me traía com um cara que trabalhava com uma colega dela”. Bruna passou muito tempo se recuperando, ficou quase dois anos sem querer namorar, mas conseguiu dar a volta por cima. “Estou com outro namorado há sete meses, mas hoje acho que tudo é possível, não acredito mais em ninguém”.

Sheila, 30 anos, estudante de jornalismo, não precisou que ninguém lhe contasse nada. O próprio namorado lhe fez a confissão. “Quando estávamos com oito meses de namoro, ele me disse que tinha tido uma experiência com um professor dele e que estava apaixonado”. Sheila diz que a sua mãe chegou a
alertá-la quanto ao “Jeitinho” do seu namorado, mas ela imaginava que isso se devia a educação e inexperiência do rapaz. A reação de Sheila foi acabar imediatamente o relacionamento. “Não foi preconceito, eu tinha certeza que ele continuava me traindo com o professor, e estava me usando para dar satisfação à sociedade”. Mesmo muito magoada, ela preferiu a sinceridade do namorado. “Eu achei legal o fato dele ter confiado em mim, ter me dito diretamente, melhor do que eu ser a última a saber”.

ENTRE ELAS

Ana Maria, uma recifense de 22 anos, estudante de odontologia, vive uma história de traição há quase três anos. “Eu tinha apenas quatro meses de namoro quando conheci Camila. Foi numa festa na casa de uma amiga, nós acabamos ‘ficando”. Ana Maria não pensou que o seu pequeno deslize tivesse maiores conseqüências, sobretudo, porque Camila morava em São Paulo e dificilmente elas se veriam novamente, mas Camila estava apaixonada. “Ela ligava pra mim todo dia, mandava poesias, cartas, flores, ligava inclusive para o meu trabalho”.

Ana continuava com o seu namorado e não conseguia dispensar Camila. “Eu estava confusa, gostava muito do meu namorado, ele é um cara legal e é louco por mim”. Ela não pensou duas vezes antes de tentar conciliar os dois relacionamentos. “O que aconteceu foi que Camila veio para o Recife de novo, isso começou a acontecer com uma certa periodicidade, e eu sempre arranjava uma desculpa para adiar escolher um dos dois”.

A decisão realmente não veio. Este ano Ana Maria comemorou três anos de namoro com Fernando, e dois anos e oito meses de encontros com Camila. “Adoro estar com ela, mas nunca vou deixar o meu namorado, quero casar e ter filhos com ele”. Segundo ela, ninguém desconfiou da sua traição, e o fato de ter acontecido com uma mulher facilita a discrição. “Se ela ligar eu posso dizer que é uma amiga, nós parecemos duas amigas quando estamos juntas. Quem é doido de pensar algo além disso ?”

Iêda, 31 anos, jornalista, sempre teve diversos relacionamentos hétero, antes de ir morar com
Júlia, 26, com quem vive há quatro anos. “Costumo ser fiel, não preciso sair por aí pulando cerca, mas não que isso nunca tenha acontecido”. Segundo Iêda, o que leva muitas mulheres à traição é a curiosidade. “Mulheres casadas que sabem ou souberam de minhas preferências têm se insinuado, não pensei que fosse fazer tanto sucesso, elas querem só curtir,
saber qual é”.

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