Velhos hábitos sobrevivem nas religiões
 
  Apesar do progresso científico, fiéis seguem,
à risca, princípios das Escrituras Sagradas
   
 
 

Sexo, só em dias permitidos. Nada de festas, maquilagem ou unhas pintadas. As mulheres não devem cortar cabelos, nem depilar pernas e axilas. Procurando a “salvação”, fiéis passam dias em jejum, privam-se de todos afazeres em busca de louvação a Deus e até enfrentam a Medicina, não permitindo a seus doentes a utilização de métodos modernos por serem considerados “pecaminosos”. Avançam ciência e tecnologia, mas, para algumas religiões, tudo parece continuar no mesmo. Palavras de escrituras consideradas sagradas são interpretadas ao pé da letra, trazendo para os dias de hoje costumes do início dos tempos.

O jornalista Enéas Alvarez, colunista de religião do jornal Diário de Pernambuco, afirma já estar acostumado com “estranhos” hábitos ligados à fé. Para ele, nada se compara aos judeus ortodoxos. Não comem porco e crustáceos. No sábado, dia sagrado, passam 24h em contemplação. Se tiverem de abrir uma lata de sardinha, isso é feito no dia anterior. “Até o papel higiênico a ser usado no banheiro é picado para evitar qualquer esforço. Sexo, apenas nos quatro dias do mês em que a mulher está fértil. As relações devem ser feitas apenas para a reprodução. Tem rabino bem novinho com oito filhos”, revela.

Com trechos bíblicos do Antigo Testamento, os adeptos da Testemunhas de Jeová justificam a proibição de transfusão de sangue em qualquer circunstância, mesmo para salvar a vida. A proibição é polêmica e, em alguns casos, a justiça teve de ser acionada. Mesmo não admitindo a troca de sangue, a religião já permite o transplante de órgãos. “É uma opção pessoal doar ou receber. Como também fica para cada pessoa decidir se usa batom, brincos, pinta as unhas, veste saia ou calça comprida. Mas a transfusão não é permitida”, afirma categórico o assessor de imprensa da igreja, José Soares.

Cada crença tem seu dia sagrado. A grande maioria das religiões guarda o domingo como dia de adoração ao “Senhor”, outros O reverenciam aos sábados. Os muçulmanos, param na sexta-feira e rezam olhando em direção a Meca, a cidade sagrada. Os Adventistas do Sétimo Dia contam as horas do sábado de uma maneira diferente. Para eles, o dia começa no pôr do sol da sexta-feira e vai até o mesmo momento do dia seguinte. O mais interessante é que, nesse prazo, os fiéis não desenvolvem qualquer atividade.

Sexo, só após o casamento é uma concordância de grande parte das religiões. Algumas até interferem na vida íntima do casal. Os Hare-Krishna devem manter relações apenas nos quatro dias férteis da mulher e, para isso, utilizam a tabela – método inversamente usado pelos católicos como contraceptivo – para saber os dias da ovulação feminina. “Nós temos de ter disciplina e agüentar sem mulher para nos purificar”, diz o monge, Bakla Belar.

As religiões influenciam até na alimentação. Os Mormons não tomam café, álcool ou qualquer outra bebida estimulante. Dentre os preceitos da boa alimentação, está comer pouco chocolate e carne. “O corpo são abriga melhor o espírito”, lembra a diretora de assuntos públicos da igreja no Recife, a arquiteta Ana Márcia de Oliveira, citando a Palavra de Sabedoria, um livro escrito em 1800. Os Adventistas e os Hare-Krishna são vegetarianos, enquanto os adeptos da Umbanda sacrificam animais e os comem durante as cerimônias.

O casamento já não é indissolúvel e os divorciados também têm onde se abrigar. A religião Anglicana se iniciou na Inglaterra por causa do divórcio do Rei Henrique VIII e mantém o preceito até hoje. Mas até rigorosos protestantes já aceitam casar pessoas mais de uma vez. O pastor Giovani Gomes, da Assembléia de Deus, admite ter realizado cerimônias unindo casais separados. Mas quem imagina ser ele uma pessoa liberal, pode ir desconsiderando a idéia. Diplomado em Direito, chegou a dispensar o baile de formatura. “O crente não freqüenta certos ambientes”, sentencia.

O catolicismo condena o homossexualismo. O papa João Paulo II disse recentemente que “o homossexual vai contra as leis naturais de Deus”. Por outro lado, neopentencostais tentam recuperar gays e lésbicas. Outras religiões não fazem restrições, como é o caso da Umbanda, onde há vários pais-de-santo homossexuais. Para o espírita, a sexualidade também é uma provação. “Quando o indivíduo abusa, pode reencarnar-se no sexo oposto , correndo o risco de não se aceitar e tornar-se um homossexual”, acredita o médium kardecista Severino Barbosa.

Topo