"Ser moderno é encontrar-se num ambiente que promete aventura, alegria, crescimento, transformação em si e do mundo.” Se a frase do escritor francês Charles Baudelaire, escrita em 1863, representava uma explicação exata sobre o processo de evolução no comportamento da humanidade a partir do século XVIII, hoje, ela ganha reafirmação e uma ótica otimista, por parte das religiões.

As alterações no formato e maneiras dos cultos religiosos vem levantando discussões dentro da Igreja Protestante e Católica. São pulos, assobios, danças, palmas e piruetas que, na opinião de muitos teólogos, são excessos e prejudicam a compreensão do evangelho de Cristo. Mas nem mesmo os mais tradicionais, como o pastor presbiteriano Sérgio Victalino, condenam a busca de novos meios para adequar a pregação ao ritmo das mudanças vividas no mundo. “ Os padrões morais e familiares mudaram; a Igreja precisa repensar como se fazer compreendida e como atingir as pessoas dentro da modernidade”. Foi esse pensamento que, segundo o pastor batista do movimento de renovação, Laédon Soares, fez surgir as bandas Gospel, os shows de musica evangélica e até blocos de carnaval. “É claro que isso pode escandalizar mas depende da espiritualidade dos componentes e da proposta de cada grupo, em particular”, afirma.

O impulso de modernização ganhou força com a chegada da Internet. Só de sites religiosos existem mais de 300 endereços eletrônicos. Um exemplo é o site “Pão Quente Diário”, da Igreja Presbiteriana das Graças, no Recife. O serviço devocional começou mandando mensagens bíblicas para 350 membros da própria igreja e hoje tem uma visitação diária de 2 mil pessoas. Uma equipe de educadores religiosos e pastores fazem toda a montagem e manutenção do site. O endereço terá, nos próximos meses, uma versão em inglês e em espanhol, com o objetivo de ser visitado pelos EUA, Canadá, México, Portugal e países da África.

Carismáticos - Engana-se quem pensa ser este é um fenômeno específico da Igreja Protestante. A Igreja Católica, instituição Cristã mais antiga do mundo, viu surgir nos EUA, em 1970, o Movimento de Renovação Carismática. Não demorou muito para ele chegar ao Brasil e virar um sucesso total comandado pelos padres pops, Marcelo Rossi e Zeca. O movimento carismático veio aquecer a fé católica, principalmente a dos jovens, e está conseguindo firmar os membros na Igreja. Para a coordenadora do grupo de oração da Renovação Carismática da paróquia da Torre, Maria das Graças Queiroz, os fiéis estavam perdidos e desanimados. “Não considero o Pe. Marcelo Rossi um fenômeno da modernidade mas ele teve coragem de se expor e despertar o sentimento cristão e o envolvimentos das pessoas com a Igreja”.

Foi o que aconteceu com Lúcia de Paula Gonçalves, 46. “ Eu ouvia falar das missas e do movimento, estava passando por um período muito difícil da minha vida e resolvi aceitar o convite de uma amiga. Quando a missa começou, achei que tudo aquilo era pecado, fiquei o tempo todo me perguntando se era permitido pular, dançar dentro do templo. Foi um impacto, dava medo, vontade de rir, mas acabei me acostumando”. Lúcia garante que para ela foi um reencontro. Em pouco tempo, envolveu-se nos trabalhos de oração, fez curso de cura interior e hoje torce para os filhos, sem religião fixa, se tornarem católicos carismáticos. “ Me envolver com o movimento aumentou minha fé. Eu via um Deus muito no alto, que castigava e passei a saber que Ele me amava. Hoje até minhas dificuldades agradeço”, diz emocionada.

Mas, se a modernidade prega alterações constantes na organização social, religiosa e individual, o que se pode esperar da chamada Pós-modernidade, corrente do pensamento contemporâneo onde a estética se sobrepõe à ética e a imagem toma lugar fundamental na política e relações sociais ? Resta aguardar para ver que rumo tomarão as religiões tradicionais. Uma coisa, porém, é certa, se depender do investimento na fé virtual, o tradicionalismo está com dias contados, pois já existe quem coloque até copo com água em cima do aparelho televisor para ser abençoado.

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