Gerenciar bem as finanças desafia sacerdotes
 
  Como qualquer instituição, igrejas devem se adaptar
à nova economia mundial
   
 
 

Para muitos devotos que pagam um dos impostos mais antigos do mundo -o dízimo-, o retorno pode vir em forma de conforto espiritual, saúde e, até mesmo, financeiro. Na Bíblia, lê-se no capítulo 3, de Malaquias, que o cidadão deve contribuir com as finanças da igreja. “Ordeno que tragam todos os seus dízimos aos depósitos do templo, para que haja bastante comida na minha casa. Ponham-me à prova e verão que eu abrirei as janelas do céu e farei cair sobre vocês as mais ricas bênçãos”. Mas, e as Igrejas? Como elas aplicam, hoje, o dinheiro dos fiéis? Assim como nas instituições econômicas convencionais, o mundo religioso também enfrenta a ciranda financeira. Enquanto algumas igrejas constroem verdadeiros impérios, outras lutam com dificuldade para manter as portas abertas.

De todas as fontes de renda das instituições religiosas, o dízimo e as ofertas são os responsáveis pela maior renda dos cofres sagrados. Na paróquia do Espinheiro, arrecada-se por mês, uma média de R$ 25 mil, sendo 80% correspondente ao somatório das duas taxas. Nas reuniões da Universal do Reino de Deus, os pastores chegam a estimular a prática da doação. “Quem seria capaz de doar R$ 10 mil? Mostre para Deus a sua fé, e ele te retribuirá em dobro.” esbraveja o pastor Ricardo Medeiros.

Mas não é só dessas taxas que sobrevivem financeiramente os templos. Nas Igrejas Católicas mais tradicionais da cidade, além do batizado e das missas, a principal receita vem dos casamentos e dos aluguéis dos salões. Na paróquia da Madre de Deus, no Recife Antigo, a agenda está lotada até janeiro de 2001. O casamento mais barato custa R$ 755,00. Por mês, são realizados, no mínimo, 16 casamentos, o que corresponde a R$ 12.080,00. A locação dos imóveis das igrejas também gera grandes dividendos. Na paróquia do Espinheiro, 10% do que se arrecada vem do aluguel de duas clínicas médicas e três apartamentos, o equivalente a R$ 2.170,00. Já o economista da Arquidiocese de Olinda e Recife (AOR) contabiliza, por mês, uma média de R$ 50 mil com os foros e laudêmios.

Outro fator importante é a economia da mão-de-obra. Os representantes religiosos não têm carteira assinada pois as profissões não são regulamentadas no Ministério do Trabalho. Isso é, um gasto a menos com as “possíveis” ações trabalhistas contra a Igreja.

Imóvel - Na relação dos principais gastos das igrejas está o da construção civil. Com exceção dos católicos que estão implantados há mais tempo na cidade, igrejas como Universal do Reino de Deus, Renascer em Cristo e Deus é Amor são as que mais investem na construção de megatemplos. “A meta é ter igrejas a uma distância de no máximo 1km das casas dos fiéis.”, garante o engenheiro da Assembléia de Deus, José Luiz. Outro exemplo é a igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias contruída, no bairro do Parnamirim, o segundo maior templo do país. A obra custou US$ 10 milhões. Ao contrário dessa tendência, a Associação das Igrejas Adventistas do 7º dia, prefere construir unidades menores a grandiosos locais. “Nas igrejas menores, as pessoas se tornam mais conhecidas umas das outras”, afirma o tesoureiro, José Domingos.

Abaixo dos investimentos da construção civil, gasta-se mais na tarefa de levar a palavra do Senhor até os confins do mundo. A evangelização e as obras sociais consomem 40% da arrecadação da Assembléia de Deus. Na igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, já foram liberados, este ano, R$ 156 mil com os projetos humanitários.

Crise - Ao contrário dessas, a Igreja Católica de São José de Ribamar, no bairro de São José, há um ano, funciona apenas com uma missa mensal e com celebrações, aos sábados, de catequese, crisma e estudos bíblicos. “O único dinheiro que entra são das vendas dos jazigos, mesmo assim não dá para pagar todas as despesas.”, explica o administrador, Luiz Vieira, da igreja Nossa Senhora da Penha que atualmente responde pela São José do Ribamar.

A crise financeira também atingiu a paróquia de São Sebastião, no Alto do Pascoal, na periferia da cidade. A igreja de São Sebastião e o abrigo de idosos ainda sofrem as conseqüências das fortes chuvas do último inverno. Parte do telhado do abrigo de idosos foi danificado e a coberta corre o risco de ruir. A receita de R$ 1200,00 vem dos 600 membros da comunidade, além da ajuda de custo da AOR. Com o dinheiro arrecadado, o padre Vicente Celestino tem a difícil tarefa de distribuir com os gastos de manutenção, obra missionária e o social. “Tem pessoas que contribuem com
R$ 1,00. Pode até parecer pouco, mas, para quem ganha
R$ 40,00!”, dispara.

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