Ignorância sobre reutilização gera desperdício
 
  Aumento na produção de lixo revela o descaso
quanto a responsabilidade do cidadão
   
 
 

A questão do lixo começa bem antes de ele ser produzido. Na verdade, ele começa em quem o produz. Para a grande maioria, o lixo se caracteriza por ser algo sem utilidade. Entretanto, as possibilidades de aproveitamento tanto na reciclagem industrial como na artesanal revelam que o desperdício, o esbanjamento é, sobretudo, fruto da ignorância (desconhecimento)da maior parte da população acerca de como utilizar os recursos ao máximo e o que fazer com as sobras.

De acordo com Euse Vieira, 45, Assessora da Coordenação dos Programas de Coleta Seletiva da Emlurb Recife, uma pessoa produz em média diariamente de 1 a 1 ½ Kg de lixo. “Procuramos, através de projetos junto a escolas, condomínios, órgãos públicos e empresas, despertar para a diferença entre o que pode ou não ser reaproveitado e como. Além de irmos aos locais, também dispomos aqui, na Emlurb, de uma oficina de papel que funciona como uma escola modelo de reciclagem. Nossas palestras educativas sobre como separar o lixo e o que fazer com ele, além de como reutilizá-lo, são coordenadas por psicólogas e arquitetas. Elas ensinam sobre o que chamam de “3 Rs” reduzir, reaproveitar e reciclar“.

“O meio ambiente começa no meio da gente, é preciso estimular uma mudança de hábitos. As pessoas só se incomodam com o lixo a partir do momento em que ele começa a se acumular na frente de suas portas” alerta Fernando Lucena, Chefe do Departamento de Apoio Operacional da Diretoria de Limpeza Urbana do Recife. E mais, segundo Lucena “quase 60% do lixo no Brasil é composto de restos de alimentos e grande parte deste desperdício é consciente. Muita coisa é jogada fora, inclusive em feiras. É um abuso ver alimento inutilizado virar lixo numa região onde tantos passam fome”.

Topo

 



 

 

 

 

           
 
Lixo, resultado do supérfluo

O lixo, nas proporções ameaçadoras encontradas hoje, é algo novo. Ele pode ser considerado mesmo fruto do luxo excessivo. Segundo o Dicionário Aurélio, luxo significa “vida que se leva com grandes despesas supérfluas e o gosto do conforto excessivo e do prazer”. Dessa forma podemos considerar o acúmulo desmedido de dejetos como um reflexo do pensamento descartável de nossa época. É fruto ainda da abundância de recursos e do desperdício consciente ou não. Euse Vieira observa que o lixo é também resultado do aumento da industrialização que nos fez entrar na era dos descartáveis. Um produto é usado uma única vez e jogado fora. Mesmo grande parte dos materiais descartáveis sendo recicláveis ou reutilizáveis, acabam inutilizados pela maior parte da população, que não leva esse aspecto em conta por uma ausência de consciência global. “O descartável representa nossa mentalidade de jogar fora ,desperdiçar ou reduzir o consumo do que poderia ser (re)utilizado.”

Fernando Lucena admite que a falta de instrução da população sobre o que fazer com os dejetos, mais os problemas de saneamento e de coleta domiciliar contribuem para o aumento do lixo. No entanto o fato de no Brasil 60% do lixo ser composto de restos de alimentos (diferente de países mais organizados ou com menos recursos) mostra a falta de atenção em relação a tal assunto. Mais de 30% dos alimentos perecíveis que chegam à Ceasa são perdidos por transporte e armazenamento inadequado. Outra grande parte é desperdiçada nas residências pela ignorância e não necessidade de descobrir utilidade para todas as partes das frutas e verduras, por exemplo. Uma coisa é certa, a necessidade é a reveladora da utilidade, como mostram os moradores dos lixões, tirando deles tudo o que precisam: roupa, comida, material para vender nos ferros velhos e para construir seus barracos. Além disso ver artistas criando obras de material encontrado no lixo, ONGs recolhendo objetos quebrados ou antigos para renová-los e repassá-los para comunidades carentes por preços simbólicos é sinal de que outro enfoque para a questão está sendo procurado.