Rádios
investem pesado nos programas policiais
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Gino
Cesar e Joslei Cardinot são os líderes absolutos de audiência no horário matinal |
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O jornalismo policial e investigativo chegou às emissoras de rádio na década de quarenta. Desde a sua criação até hoje, esse tipo de programa chama a atenção não só pelo tipo de notícias que veicula mas também pela audiência que consegue atrair. Para o pesquisador e radialista Reynaldo Tavares, os jornais policiais sonoros dividem opinião. “Ou você ama, ou detesta. Não existe meio termo”. Um grande número de ouvintes prestigia esse tipo de trabalho. Eles são, em geral, homens, trabalhadores e de classe econômica inferior, que acompanham os programas pela manhã, na ida ao trabalho. Segundo o setor comercial das rádios, os espaços vendidos nos horários de transmissão desses noticiários são os mais caros. O horário nobre do rádio é o matinal. A partir das cinco horas, até as oito da manhã, emissoras investem pesado numa programação atrativa, e nesse quadro estão as inserções policiais. Destaques - Hoje, dois nomes se destacam em Pernambuco. Um deles é Joslei Cardinot, que, além do programa na Rádio Clube, às cinco da manhã, assina uma coluna no jornal Folha de Pernambuco e também passou a fazer na TV Guararapes uma versão de seu noticioso policial. Para ele, o reconhecimento do público se dá graças ao papel de defensor social desses noticiários. “O cidadão comum se sente seguro e representado por nós”, ressalta. Cardinot já ajudou a prender bandidos, desbaratar quadrilhas e tem várias ameaças de morte nas costas. Para ele isso é só uma conseqüência do bom trabalho que faz. “Não tenho medo. Sou respeitado no meio e faço o que gosto”, desabafa. Na emissora concorrente, a Jornal do Commercio, a voz marcante de Gino César lidera a audiência do país, entre todos os veículos radiofônicos, há mais de vinte anos. O ex-motorista de taxi é o autor do “Bandeira Dois”. Assaltos, assassinatos, estupros e outras mazelas são o combustível para duas horas de programa - das cinco às sete da manhã. Seu trabalho não se limita ao estúdio. Gino acompanha operações policiais e visita local de crimes. Além disso, carrega consigo uma espingarda calibre doze. Essa precaução foi tomada em consequência das ameaças de morte acumuladas, tanto de bandidos quanto de policiais. |
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Para conseguir boas notícias, profissionais arriscam a própria pele | |||||
Estar o mais próximo possível do local de ocorrência das notícias é o objetivo principal dos repórteres policiais. Eles trabalham mais do que qualquer outro jornalista com o perigo e a emoção. Podemos encontrá-los circulando pelas delegacias, hospitais, à procura de livros com registros das testemunhas dos fatos, de familiares das vítimas ou acusados, numa freqüente investigação para obter informações mais completas. “Não é fácil, estamos quase sempre correndo risco na apuração dos fatos. Às vezes somos chamados para fazer uma reportagem e de repente começa um tiroteio”, afirma a repórter da Folha de Pernambuco, Juliana Sampaio. “Os repórteres não têm proteção, não usam armas, raramente vamos acompanhados por policiais porque precisamos ter agilidade”, diz ela. A falta de investimento na área de Segurança Pública coloca em risco a vida não só dos que trabalham com esse segmento do jornalismo, mas dos próprios policiais. “O governo deveria estruturar melhor a polícia. Além dos baixos salários, os bandidos estão mais bem armados do que os policiais,” explica Paulo Dias, da Rádio 105 FM. Com grande experiência na área, o radialista denuncia a dificuldade na apuração dos fatos junto ao Secretário de Segurança, Ivan Pereira. “As informações vêm distorcidas pelas fontes da própria polícia. Às vezes um cidadão de bem é incriminado, por não ter recursos para se defender, enquanto um marginal, que paga propina é inocentado, sem que possamos investigar com maior profundidade,” diz. Missão - Apesar dos desafios, o sentimento que predomina entre os profissionais não é simplesmente o de produzir notícias mas também de ajudar a sociedade. “Nosso trabalho não se restringe às fotos de pessoas mortas que saem nos jornais, prestamos um serviço à população. Atuamos muitas vezes em parceria com os policiais na solução de crimes, através da investigação,” afirma Juliana Sampaio. O radialista da Rádio Jornal Eliel Alves, concorda e acrescenta que o povo quer saber o que está acontecendo, como forma de se proteger. “A violência está aumentando e as pessoas precisam ser alertadas contra o perigo por meio da informação. Este é o dever do comunicador do rádio”, conclui. O que é questionado entre os profissionais de comunicação são os valores éticos na hora de publicar matérias e fotos. Elas afetam emocionalmente familiares de envolvidos em crimes ou, simplesmente, vítimas de acidentes. “É uma exposição e isso é perigoso. Na verdade, não deveria ser assim, o repórter divulga nomes, com fotos de pessoas acusadas, às vezes, de assassinato, estupro etc. Geralmente eles negam, mas nós publicamos assim mesmo. Depois, se o acusado for inocentado, por exemplo, não há mais como reparar o prejuízo,” pondera Juliana Sampaio. O repórter Eliel Alves acredita que para o público ouvinte é mais fácil retificar o fato se houver engano. “Na rádio nós dizemos simplesmente que o elemento é suspeito, diferente do jornal que mostra a foto, comprometendo mais a pessoa,” diz. O agente de polícia da delegacia do Espinheiro, Ismael Bezerra, também considera positiva a atuação dos repórteres na divulgação dos crimes. Ele diz que o índice de criminalidade é o resultado da crise no país. “A violência é motivada pela fome, desemprego, analfabetismo, não pelas notícias.”. |
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