Censura econômica é a nova vilã da imprensa
 
  Interesse dos anunciantes sobrepõe-se à censura política
e limita ação dos jornalistas
   
 
 

Se a censura política praticamente acabou no Brasil, a econômica fica mais forte a cada dia, nas redações. O jornalista apura e tenta escrever a notícia na íntegra, mas isso nem sempre é possível. O comercial precisa de espaço para publicidade. Limita matérias e corta outras quando são contrárias aos interesses dos anunciantes. Acontecendo algo fora dessas regras, as cabeças podem rolar. O dinheiro, público ou privado, manda na maioria das redações.

Há algumas tentativas de se mudar essa realidade, mas, na virada do século, o profissional de imprensa, comprometido com a verdade, continua no “fio da navalha”, como define o editor-geral da Folha de Pernambuco, Henrique Barbosa. E quando uma matéria é cortada, as opções são poucas: brigar e ser demitido ou simplesmente não reclamar. “Tentaram me tolher no Diário de Pernambuco, muito chateado falei o que eu pensava, chutei o pau da barraca, e acabei na rua”, lembra o repórter Paulo Emídio, hoje na Gazeta Mercantil.

No linguajar da televisão, quando uma reportagem não tem condições de ir ao ar, fala-se em “derrubar a matéria”. O termo é válido para as ingerências freqüentes do setor comercial da empresa. “Trabalhei numa emissora onde não podia colocar no ar nada contra supermercado. Era um assunto proibido”, define o gerente de produção da TV Guararapes, Ivan Júnior.

Mas há diferenças entre as empresas de comunicação? A editora-chefe da TV Jornal, Leda Barros, afirma que não. “Todas têm interesses políticos e econômicos”, garante. E a tal liberdade de imprensa passa sempre pela triagem desses “interesses”. A publicação ou não da notícia fica à mercê de quem paga os salários e as contas no final do mês.

O editor-geral do Diário de Pernambuco, Ricardo Leitão, já se acostumou em ter sua “cabeça” solicitada. “Quando denunciamos o esquema de licitação fraudulenta de uma empresa de segurança com o Governo do Estado, chegaram a publicar uma nota contra mim em todos jornais”. Mesmo assim, ele permaneceu no cargo. “A nossa redação está profissionalizada. O nosso principal faturamento vem de pequenos anunciantes e o limite aqui é o fato”.

Esta é a esperança do jornalista Carlos Cavalcante, diretor da Associação de Imprensa de Pernambuco (AIP). Quando trabalhava no Diário, tomou um susto ao ver uma reportagem de uma página, sobre o assassinato praticado por um grande empresário, dar lugar a um anúncio enorme. Pior: a direção do jornal se negou a comentar o assunto. “Sumiço e corte de textos são freqüentes quando os envolvidos são poderosos”, comenta.

Algumas matérias saem da tela do computador do jornalista para serem editadas na diretoria e nem sempre voltam para a publicação. “Aqui na Folha de Pernambuco o dono atua, conversa, faz, desfaz e pauta. É ele quem paga, não é ?”, pergunta Henrique Barbosa. Enquanto as vendas avulsas, classificados e de assinaturas não cobrirem as despesas de um jornal, é quase certo o “sacrifício” de algumas notícias.

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Jornais ainda apresentam irregularidades trabalhistas
O presidente do Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco, Rossini Barreira, em conversa com nossa reportagem, alerta sobre a necessidade de os profissionais de jornalismo participarem ativamente da entidade.
 

Berro - Qual a necessidade de o jornalista se sindicalizar?

Rossini - Muita, pois o jornalista precisa saber que o Sindicato o representa legalmente, perante a empresa. Portanto, toda a relação entre o veículo de comunicação na questão de salário, qualidade de trabalho, negociação, contratos (tanto individual como coletivo) que seja feita entre o jornalista e instituição é intermediada pelo Sindicato. Hoje estamos voltados para a luta pelas condições de trabalho do jornalista sindicalizado. Estamos intermediando um desacordo com a diretoria do Diário de Pernambuco. Paramos a redação do jornal por dois dias, reivindicando os direitos dos colegas. Queríamos a elaboração do “banco de horas” (que é você trocar horas extras trabalhadas por folga). Conseguimos um bom acordo. No entanto a diretoria determinou a extensão da jornada e mais horas extras. Foi uma greve vitoriosa onde não teve penalização nem demissão.

Berro - Como vai a situação trabalhista nos jornais pernambucanos?

Rossini - Razoável. Mas ainda existem jornais que não dão a mínima garantia trabalhista e exploram os seus repórteres. Um exemplo especifico é a Folha de Pernambuco. Uma das redações que tem a pior remuneração de Pernambuco, tanto em condições de trabalho quanto em salário. Para se ter uma idéia, ela é aproximadamente ¼ dos concorrentes. Lembro-me que, para se implantar um relógio de ponto, foi uma luta de meses com os dirigentes.

Berro - Em relação aos estagiários, a exploração também acontece?

Rossini - Infelizmente eles são os únicos que sofrem com essa exploração. Aproximadamente 10% das redações são de estagiários. As empresas contratam mão-de-obra barata, ou seja, chama o estudante de jornalismo e manda-o fazer o mesmo trabalho de um profissional. Ele pega a pauta, vai para rua, ninguém acompanha o trabalho dele, não ensina, e depois paga uma miséria. Essa forma de estágio, eu abomino..