GÓTICOS
 
Cemitério é lugar de inspiração e lazer
 
 
Apesar da tendência ao mórbido, os góticos encontram na cena cultural uma grande fonte de sabedoria
 
 
Por Kátia Carvalho
 
           
 

O “mundo dos góticos” é uma mistura de morbidez, horror, música e arte. Os adeptos da filosofia gótica adoram caminhar, à noite, em cemitérios e ir à bares e boates decorados com caixões, velas, caveiras, crucifixos, correntes, facas, e outros objetos relacionados com tortura e morte. A cor predileta de suas vestimentas é o preto e é a que prevalece nos adornos e móveis dos locais freqüentados por esses “filósofos da arte mórbida”.

É no cemitério que eles encontram momentos de paz e partilhas. Ao contrário do que pensam muitas pessoas esses personagens noturnos são ligados à cultura e apreciam a leitura variada, principalmente de poesias e livros, compartilhando entre si, diversos pensamentos e conceitos. O local onde se enterram os mortos parece uma grande casa acolhedora, eles se sentam, conversam, perambulam e se perdem em pensamentos e sonhos. “Não temos medo da morte. Nós convivemos com isso naturalmente, e encaramos essa passagem como algo curioso e tranqüilo. O cemitério também é a nossa morada e gostamos de ir lá à noite, curtir o silêncio e o mistério”, diz Edu, guitarrista, 23 anos.

O termo gótico existe há milhares de anos e os seus adeptos também. Esse termo nasceu na história dos Godos, tribo Germânica, a primeira a se converter ao cristianismo e que invadiu Roma no século III d.C. (depois de Cristo). Os Italianos, que apreciavam a arte clássica, acreditavam que a mesma estava corrompida pelo povo cristão, na idade média, e passaram a chamar, de forma pejorativa, a arte produzida, nesta época, de Gótica.

Os góticos são pessoas atraídas pelo mórbido e que convivem com o que a psicologia transcendental chama de sombra da personalidade, que são aspectos ocultos e escuros do indivíduo. Está relacionado com a tristeza e o sadismo. A figura do vampiro é um dos alicerces dessa filosofia e é o modelo de liberdade idealizado por essa tribo. “Os vampiros voam para qualquer lugar e enxergam bem na escuridão da noite. Eles tem a clareza do sol negro”, diz um adepto, 29 anos, formado em Letras.

Cultura - O estilo cultural gótico nasceu após a carnificina da primeira guerra mundial na Alemanha. A partir daí o horror gótico começou a produzir filmes como “O Gabinete de Dr. Caligari” e “Nosferatu”.

Essas obras tem como personagens vampiros e cadáveres sonâmbulos. Um outro mercado bastante influenciado foi o fonográfico, com o surgimento de muitas bandas como a Bahaus e Siouxies Sioux, de temática gótica. Com o sucesso do gênero surgiram casas noturnas para abrigar esta cultura. A Bat Cave, em Londres, e a Treibahus, em São Paulo, ficaram famosas.

Atualmente essa filosofia de vida continua dando lucros ao mercado. Existem grupos espalhados pelo Brasil, mas sem dúvida é em São Paulo que se concentra o maior número de góticos e, consequentemente, uma boa quantidade de locais para os adeptos. Madame Satã, bar e boate, Grind, Plastic-Alternative Bar, The Bloody Coven Bar, são os mais frequentados. As bandas mais conhecidas e curtidas aqui no Brasil são The Cure, New Order, Pixies, Front 242, Lacrimosa, Sisters of Mercy, Stale Bread, Mercylands, entre outras.

Em Recife a cena é bem diferente da paulista. É difícil encontrá-los reunidos em algum lugar. “Por aqui não tem locais específicos para os adeptos desse pensamento. Acredito que os poucos que existem caminham por toda parte e geralmente vão a bares alternativos”, diz o músico pernambucano Izac Cristóvão, 36 anos.

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A Visão da Morte

PLASTIFICADOS A gravura ao lado faz parte de uma exposição de cadáveres autênticos plastificados, intitulada “Mundos do Corpo - a fascinação da superfície”, mostrada em Colônia, cidade alemã. Técnica desenvolvida pelo anatomista alemão Gunther von Hagens. Os góticos apreciam bastante este tipo de arte.

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