“Apiteiros” oferecem proteção e desconfiança
 
  Seguranças comunitários atravessam a madrugada
percorrendo bairros do Recife
   
 
 

Vestidos quase sempre de coletes pretos e com o inseparável apito, os seguranças informais – também chamados de “apiteiros” - podem ser considerados uma versão mais atualizada dos antigos guardas noturnos, pessoas remuneradas por uma determinada comunidade para vigiar as residências, durante a madrugada. Todas as noites, de segunda a sábado, os vigilantes informais circulam pelas ruas de uma determinada área, comunicando-se através do apito. O pequeno objeto, aliás, é a única arma de defesa utilizada por eles, para alertar quando a situação é de perigo.

O apiteiro, Gilson Gomes, 43, toma conta da rua João Pereira de Melo, em Campo Grande. O seu serviço começa às oito da noite e termina às cinco da manhã. “Eu já trabalho aqui há oito meses e, sempre quando chego, percorro toda a rua. Para avisar que estou na área, apito uma vez”, explica. Gilson conta ainda que, três apitos fortes e altos são sinal de que alguma coisa está errada. As opiniões da população se dividem sobre a atuação dos vigilantes informais e a eficácia do serviço. Se, para muitos, eles são uma ameaça, para outros oferecem a segurança cuja responsabilidade deveria ser do Governo Estadual.

O economista Ricardo Dantas (34), por exemplo, não confia nos apiteiros que circulam perto de sua casa, no Cordeiro. “Não sei quem são, as eles sabem tudo sobre a gente: que horas chegamos e saímos, se estamos viajando, nossos hábitos... Podem ser até ladrões disfarçados”, conta. Já uma moradora de Campo Grande vai mais longe. “Eles nos intimidam a pagar o preço que eles querem”, denuncia. Porém, há também quem ache o trabalho eficaz. A estudante Milena Saraiva, de 28 anos, também moradora de Campo Grande, acredita que os apiteiros trazem segurança ao bairro. “Quando vou caminhar, de manhã bem cedinho, vou mais tranqüila porque sei que tem alguém por perto. De qualquer forma eles espantam os assaltantes, que vão preferir assaltar outras ruas menos seguras”.

Como os seguranças informais fazem parte de um contingente de mão-de-obra não especializada, não têm salário fixo. Eles batem de porta em porta, principalmente durante os finais de semana, cobrando o serviço aos moradores. Não estipulam preço fixo, por isso a renda é incerta. Quem paga dá o dinheiro por medo, confiança ou até mesmo pena.

O “guarda” Gilson Gomes, por exemplo, recebe R$ 10,00 por semana de 15 moradores da rua, na qual trabalha. “Nem todos reconhecem meu trabalho. Muitos acham caro e outros só dão o dinheiro quando querem”, revela. Gilson confirma saber tudo ou quase tudo dos seus “clientes”. Para aprimorar o serviço, o apiteiro conta agora com o celular. “Sei o número de todos os moradores. Quando acontece alguma coisa, ligo para eles ficarem em alerta e, se for preciso, chamar a polícia”, afirma.

Mesmo gostando do que faz, Gilson não quer trabalhar como apiteiro pelo resto da vida. “Trabalho à noite porque é a única opção, pois, quando se chega numa certa idade, não há mais emprego para todo mundo. Além disso, o trabalho com apito é uma faca de dois gumes. Tanto pode me defender, como pode ser um perigo”, diz. O apiteiro conta ter conseguido evitar um assalto. “Eram dois homens que tentavam invadir a casa de um dos meus clientes. Quando vi, me escondi atrás de uma árvore e apitei várias vezes. Assustados com o barulho, os bandidos foram embora. Ainda bem que eles saíram, senão poderia ter sobrado para mim, pois não ando armado”, relembra.

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