Negro contribui para a cultura brasileira
 
 
           
 

Com suas origens em Portugal, na África e nas Américas, a Terra Brasilis é um país basicamente miscigenado. Desta maneira, os integrantes dessa pátria contam com uma cultura diversificada. Embora viva em eterno conflito por definições, o povo brasileiro começa a perceber a riqueza de uma terra sem rótulos: não é índio, nem negro, nem português. É exatamente a mistura de todos eles, ou seja, brasileiro.

Os negros nos transmitiram seus costumes. Desta raça herdamos, dentre vários itens, parte de nosso vocabulário, concepções estéticas, literatura, mitologia e a arte das dramatizações. Mas foi na religião, sobretudo, onde adquirimos sua visão de mundo, a alma da cultura negra. Não há dúvidas que eles participaram efusivamente da formação tupiniquim.

Durante vários séculos, o mercantilismo e o colonialismo europeu se encarregaram da transferência de grandes contingentes humanos, vindos de diversas regiões da África, para as Américas. Povos escravizados e embarcados nos portos do Golfo da Guiné, em sua maioria, provenientes da Costa Ocidental, foram constituintes da base da população no Brasil.

Os três primeiros séculos da história dos negros em terras brasileiras foram marcados pelo trabalho escravo. Pessoas culturalmente desenvolvidas eram perseguidas pelos comerciantes portugueses e, consequentemente, forçadas à submissão.

Os africanos vindos de áreas de cultura mais adiantada foram um elemento ativo e criador, quase nobre na colonização do Brasil, embora degradados pela condição escravocrata. Segundo o sociólogo Gilberto Freyre, no livro Casa Grande e Senzala, ao contrário do que ensina a história oficial em muitas escolas brasileiras, os portugueses não encontraram na África “um bando de negros, selvagens, seminus” e sim uma civilização adiantada e rica.

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Poucos superam preconceito social
 

Apesar do preconceito vivido pela raça negra no Brasil, existe uma parcela da população que rompeu os limites sociais e chegou à classe média. Dentro das famílias negras, algumas mudanças podem ser notadas. É o caso da família Sena da Silva: O pai, engenheiro; a mãe, professora de português com pós-graduação em andamento. Dos cinco filhos, duas já se formaram, um está na faculdade e os mais novos estudam em bons colégios.

A filha mais velha, a enfermeira e professora Geysa Sena, 28 anos, afirma que o preconceito sempre foi tratado às claras em casa. “Essa questão da cor da pele sempre foi tema de conversas entre eu, meus irmãos e meus pais. Tudo foi mostrado sem qualquer hipocrisia e até mesmo brincamos com isso.”

Para a irmã, a mestranda em Engenharia Gisele Sena, 26, até nas brincadeiras existe o preconceito: “Depende de como ela é. Se for ofensa, eu reajo na hora!”, afirma. As duas dizem que não sofreram discriminações na escola ou na faculdade, mas que na hora da diversão, o preconceito aflora. “Quando eu ia na boate com minhas amigas brancas, os rapazes ficavam paquerando-as e eu sobrava. Tenho pele clara, mas meu cabelo é muito crespo e minhas origens não podem ser negadas. Isso me trouxe irritações e hoje prefiro freqüentar ambientes mais populares, como pagodes e forrós”, declara Geysa.

 
     
     
     
     
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Dois personagens branqueados
na literatura brasileira

Quem estuda Literatura Brasileira sabe que a questão dos negros está sempre presente, desde o retrato da vida escravocata no Brasil até o quesito social dos pós-libertos. Dois famosos personagens para serem melhor aceitos pelos leitores dos folhetins foram branqueados, apesar da origem africana: a romântica Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães e o real-naturalista Raimundo, personagem principal do livro O Mulato, de Aluísio Azevedo.

Isaura era uma mestiça, filha de um feitor com uma escrava, também mestiça. Após a morte da mãe, ela foi criada pela patroa, com todos os finos tratos que uma sinhazinha da época tinha direito, como tocar piano e falar francês.

Raimundo também era mestiço. Filho de um comerciante português com uma negra escrava, ele tinha traços predominantemente brancos, até olhos azuis. Ele é vítima das próprias origens, porque ao se apaixonar pela prima Ana Rosa (branca e filha de portugueses), vê sua união com ela ser rejeitada e encontra a morte por causa de seu “sangue negro”.

Além do branqueamento , os dois personagens têm outros pontos em comum: são instruídos, falam idiomas europeus (em especial o francês) e despertam paixões em brancos. As semelhanças acabam aí. Isaura,
uma heroína romântica, acaba feliz nos braços do Álvaro. Já o Raimundo é o típico herói romântico que vê os seus sonhos desmoronarem numa história do
real-naturalismo, em que suas origens determinam o seu destino.

     
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