Índios enfrentam massacre e resistem
 
 
           
 

Há 500 anos, desde que os portugueses chegaram na “Terra Brasilis” os índios foram aos poucos sendo dizimados num processo lento e sofrido. O último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que em todo território nacional, os índios se resumem a apenas 300 mil, boa parte já aculturada. Desses, 30 mil se encontram nas cidades e periferias das capitais, distantes da sua cultura e do seu povo em busca de uma melhor qualidade de vida. A gravidade dos números fica ainda mais nítida se compararmos com a realidade existente antes das chegada dos “caras pálidas”.

Em 1500, existiam aproximadamente 10 milhões de nativos espalhados pelo País e a diversidade das etnias acumulava cerca de 1.300 línguas faladas. Hoje, os 210 povos existentes são responsáveis pelas cerca de 170 línguas restantes. As aldeias representam apenas 12% do território nacional, localizadas a maioria no Amazonas, Mato Grosso do Sul e Roraima.

Mas esses dados não representam a realidade atual. A quantidade de povos e línguas que existe é imprecisa. Informações precárias e livros didáticos controversos prejudicam um conhecimento mais profundo dos “donos da terra”. Não existe também registro histórico com opiniões dos índios sobre a inesperada visita lusitana. A história é contada, na maioria das vezes, pelos próprios colonizadores e a versão ensinada é sempre a dos dominantes.

Terra - Os índios ignoravam o conceito de propriedade privada, tão elementar para os brancos. O cacique Chicão, da tribo Xucuru, antes de ser assassinado em 1997, explicava bem essa relação: “Quando Deus criou a terra não pensava em comércio. Ele criou para dar subsistência aos povos que nela iriam morar. A terra não pode ser vista como objeto de negócio”, ensinava.

Sua mulher, Zenilda Araújo, acusa os fazendeiros pela morte do marido. “Eles eram os únicos interessados que o líder de Xucuru morresse. Assim, a briga pelos 4 mil hectares de terra ficava ainda mais fácil de ser vencida por eles. Eles calaram a voz de Chicão, mas não conseguiram calar a do povo Xucuru. Nós continuaremos a lutar pelos nossos direitos”, afirma.

Tribos - A comunidade de Xucuru é uma das tribos que ainda resistem no Brasil. Em Pernambuco, por exemplo, - considerada a quarta maior população indígena do País depois do Amazonas, Mato Grosso e Pará, habitam cerca de 20 mil índios distribuídos entre oito povos. A maioria das tribos sobrevive da agricultura de subsistência e da venda de artesanato. Alguns se destacam também em outras atividades, como os Kambiwá, entre os municípios de Ibimirim, Inajá e Floresta, que exercem a caça e a extração do mel de abelha, como forma de aumentar a renda da comunidade. Os próprios Xucurus, situados na Serra do Ororubá, em Pesqueira, somam cerca de 6,3 mil índios e são conhecidos na região pelas confecções de bordados em renascença.

Os Funi-ô são os únicos índios do Nordeste que ainda preservam sua língua, o yaathê, do tronco lingüistico macro-jê. A aldeia, no município de Águas Belas, vê a tradição como meio de defesa da sua cultura.

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A visão dos descobridores portugueses
   
 

Não foram só os brasileiros que se empenharam em comemorar os 500 anos de descobrimento. Portugal também está preparando eventos festivos para lembrar como os aventureiros portugueses desbravaram oceanos para descobrir as terras de além mar.

“Acho muito bom que os dois países se encontrem, afinal, somos considerados irmãos culturais. Ainda não conheço o Brasil, mas tenho planos de este ano conhecê-lo”, disse o jornalista Rui Antunes, 27 anos , de Lisboa. “O Brasil merece muito mais do que essa festa. A imagem veiculada deste país é só sobre samba, futebol e mulheres bonitas. Penso que as duas celebrações estarão representando a todo o mundo, que o Brasil é muito mais do que isso que é mostrado”, relata o economista Jorge Pinto, de 25 anos, do Porto.

Tratando-se de discutir a função representativa do termo “descobrimento”, os portugueses demonstram receio em dar sua opinião, revelando pouco conhecimento, dificultando assim alguma conclusão. “Aprendemos muito pouco em sala de aula sobre o descobrimento do Brasil. Só me lembro que foi no ano de 1500 e por Pedro Alves Cabral. Talvez, com esta festa, este fato seja divulgado de forma mais detalhada pela mídia”, revela a jornalista Maria Cordeiro, de 29 anos, residente da Vila Mafra, a cerca de 30km de Lisboa.

“Acho que os brasileiros não gostaram de terem sido descobertos por nós, portugueses. Não saberia explicar o motivo para isto. Penso que é pelo fato de carregarmos o título de “descobridores”. Eu já me questionei sobre este título algumas vezes. Como houve um descobrimento, se já havia sido elaborado antes o Tratado de Tordesilhas?”, pergunta o corretor João Cabral, de 30 anos, da cidade de Coimbra.

E no meio destas dúvidas, há aqueles que, talvez seguindo a veia poética de Pero Vaz de Caminha, encontram soluções românticas como forma de finalizar a polêmica. “A história aqui é ensinada de forma natural, como sempre foi. Portugal descobriu um novo mundo. Acredito que este novo mundo era tão maravilhoso e impressionante, e por termos sido os primeiros estrangeiros a pôr os olhos naquele paraíso, percorremos o mundo informando que fomos nós quem o descobrimos”, informa o analista de sistemas Raul Nunes, 28 anos, de Lisboa.

 

   
     
     
     
     
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