HISTÓRICO
E OBJETIVOS
O problema do menor abandonado e o aumento da violência em crianças têm levado o Estado e a sociedade, de um modo geral, a pensar maneiras de reverter tal quadro e uma das propostas tem sido o incentivo à adoção, através da criação de programas de seleção e orientação de casais que desejam adotar crianças. Com isso a prática da adoção tem aumentado nesta ultima década, fazendo-se não só por casais como por homens e mulheres solteiros. A preocupação daqueles que lidam com crianças abandonadas, deve ser com o bem estar da criança. Se a adoção é vista como um dos caminhos possíveis, é preciso que se dê maior atenção aos candidatos a pais, pois neste ato estão implicadas várias razões subjetivas que nem sempre acompanham as razões objetivas. Sabemos que o ato de adotar não é prerrogativa somente daqueles que tomam por filho uma criança que não tenha a mesma herança genética, neste sentido, todo pai e toda mãe, mais cedo ou mais tarde, terá que fazê-lo, ou seja, adotar seu filho biologicamente gerado. Aqueles que não o fazem, também abandonam. As clínicas psicanalíticas/psicológicas estão repletas de exemplos desse tipo, pois o que garante uma filiação não é somente a condição de consangüinidade, também a perfilhação. Entretanto,
a prática da adoção de crianças não
pode estar associada a um caráter assistencial ou filantrópico,
nem tão pouco servir a fins egoístas tais como: preencher
solidões ou minimizar o luto pela perda de entes queridos ou qualquer
outro tipo de falta subjetiva. É preciso interrogar o lugar que
a criança irá ocupar e que tipo de filiação
irá se estabelecer. Sabemos da importância e da pertinência
desta pergunta, pois dependendo do lugar que se reserva à criança,
poderão advir conseqüências desastrosas, do ponto de
vista psíquico. Porém, não podemos negar que os pais adotivos lidam com a questão da filiação de modo particular, muitas vezes carregadas de ambigüidades. Eles têm dúvidas quanto ao lugar que ocupam perante seus filhos, gerando posturas inadequadas, que pouco ajudam na consolidação deste lugar, um lugar que também precisa ser outorgado pelo filho adotivo. As atitudes mais freqüentes são as de se sentirem "menos pais", com menos direitos. O imaginário popular, por sua vez, corrobora isto na medida em que mantêm mitos que falam de taras genéticas, atribuem nomenclaturas discriminatórias tais como "ele(a) não é pai ou mãe verdadeiros" o que dá margem a supor que estão ocupando um lugar falso, usurpado. Evidentemente que isso não ocorre por negligência ou desamor. O lugar dos pais dado pelo patrimônio genético, nesses casos, fica separado do lugar outorgado pela cultura. Nas famílias cujos filhos são naturais, a figura dos genitores e a dos pais coincidem, enquanto que na situação de adoção, genitores e pais são distintos, gerando muitas vezes, nestes últimos, dificuldades no lidar com a história anterior da criança e com essa divisão. No entanto, a inserção num grupo familiar também se faz através da herança do nome e da tradição. Esta questão precisa ser elaborada por cada um envolvido nesse ato. Uma preparação emocional prévia torna-se de suma importância na medida em que tal ato traz, em si, inúmeras implicações psicológicas que merecem atenção. A criação de um serviço de orientação a pais adotivos e a candidatos a adoção requereu estudos e levantamentos prévios, junto à associações de pais adotivos e ao Setor de Adoção da 2a Vara da Infância de da Juventude. Nosso interesse, ao criar tal serviço, se atém, principalmente, à prevenção, ou seja, a uma orientação anterior à decisão de adotar. Acreditamos que a orientação preventiva facilitará a instalação da filiação com repercussões positivas na relação pais e filhos. A prevenção hoje, é uma demanda insistente, significa, segundo Rohenkohl, que deve-se intervir a tempo para evitar o indesejável. No meio psicanalítico esse tipo de atitude produz controvérsias, pois, segundo a mesma autora, não se têm garantias sobre o efeito de uma intervenção psicanalítica, trata-se, portanto de uma aposta. Dolto, por exemplo, considera que "prevenir é atender alguém quando este precisa" e com isso ela justifica a não necessidade de uma ação preventiva na primeira infância. Laznik, trabalhando com autismos e psicoses infantis, considera a prevenção como uma intervenção na relação do Outro com a criança e, nesse sentido, torna-se pertinente falar de prevenção em Psicanálise. Trata-se de uma antecipação, de intervir antes do gozo se tornar sintoma. Não há garantias nem adivinhações, mas dar ouvidos à relação sujeito/outro que no nosso caso significa fazer com que cada um - pais e filho - ocupe seus lugares, sem medos nem temores além daqueles que acompanham todos pais quanto à incerteza do futuro dos filhos. Também não significa desconsiderar a singularidade desta forma de filiação. O
silêncio sobre a origem, a não circulação da
palavra sobre adoção, sobre esterilidade e rejeição,
no meio familiar, longe de proteger e cuidar desorganiza a vida relacional.
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