S1 - O Melodrama revisitado
Coordenação: Alexandre Figueirôa, UNICAP

Ismail Xavier, USP
As vicissitudes da eloqüência: voz over e melodrama em Lavoura arcaica, de Luiz Fernando Carvalho

A comunicação visa analisar a incidência da voz over do protagonista em Lavoura Arcaica (2001), de Luiz Fernando Carvalho, adaptação do romance de Raduan Nassar. A análise se concentra na questão do tom impresso pela voz, em sua interação com as imagens na condução do drama de família, explorando a questão da eloqüência (a tendência do melodrama ao excesso e ao "dizer tudo") e de sua forma de traduzir o texto de origem.


João Luiz Vieira, UFF

Uma estética e uma ética do excesso: A causa secreta, de Sérgio Bianchi

Adaptado de um conto homônimo de Machado de Assis, A causa secreta, longa metragem dirigido por Sérgio Bianchi em 1995, confronta, choca, interpela e provoca o espectador em busca de entretenimento ao tematizar, cinicamente, tragédias nacionais recentes e/ou endêmicas - a miséria urbana, a corrupção política, o sofrimento físico, as humilhações sexuais, a burocracia e a ineficiência dos hospitais públicos, dentre muitas outras, numa postura que oscila entre o distanciamento interior fechado de uma encenação teatral e a urgência e necessidade de um exterior quase documental. Um estilo de grande instabilidade e excesso que carrega um potencial expressionista pós-melodramático, presente também nas intenções e em quase todos os filmes desse realizador singular. Tal estilo seria marcado pela tensão de forças que atraem e repelem a melodramaticidade.


Leandro Rocha Saraiva, USP

A prisão como palco: Carandiru e O prisioneiro da grade de ferro - auto-retratos

Análise comparativa de Carandiru (Hector Babenco, 2003) e de O prisioneiro da grade de ferro - auto-retratos (Paulo Sacramento, 2004). A análise estará especialmente atenta às formas de representação da experiência individual dos presos e sua articulação para a composição de um representação da instituição carcerária, tanto em seu aspecto organizativo cotidiano quanto em sua dimensão política mais geral. Ambos os filmes tem um interesse "humanista" nos sujeitos encarcerados, criando modos de apresentá-los em sua singularidades, a contrapelo do dispositivo repressivo e estigmatizador a que estão submetidos. As mise-en-scènes de "verdades subjetivas" que resistem à opressão institucional evocam o teatro da autenticidade, típico do melodrama. Cabe examinar, comparativamente, as formas de encenação mobilizadas nos filmes em questão. A análise lançará mão de categorias tanto do campo da narratologia quanto de estudos sobre a enunciação documental, com o objetivo de determinar como funcionam, na versões ficcional e documental do presídio, a orquestração dos vários narradores auxiliares, e como esses olhares particulares sobre a experiência subsumem-se a uma instância narrativa geral. A partir desta atenção à fatura narrativa dos dois filmes será caracterizado o modo de cada um deles construir a posição do espectador em relação ao Carandiru.


Mariana Baltar, doutoranda UFF

Auto-performance musical como o excesso que inscreve a intimidade

Esta comunicação pretende analisar como as 'auto-performances' musicais de alguns personagens, nos três últimos filmes de Eduardo Coutinho (em especial em Babilônia 2000 e em Edifício Máster), constituem-se uma estratégia de inscrição da intimidade, reforçando um vínculo, nesses documentários, da estética melodramática.



S2 - Fantasmas, anjos e outros estranhos
Coordenação: Denilson Lopes, UnB

Wilton Garcia, Unicamp
Corpo e homoerotismo no filme O fantasma

Estratégias discursivas articulam procedimentos enunciativos no filme O fantasma (1992), direção João Pedro Rodrigues. Fetiche e desejo são abordados como debates contemporâneos, que tematizam essa narrativa. O espectador testemunha caminhos secretos do protagonista. Este trabalho explora o corpo, a partir da imagem homoerótica. Utilizo teorias críticas contemporâneas para apoiar essa leitura.


Rogério Ferraraz, FIZO/SP

Para sempre, nos sonhos: Lynch, Freud, Hoffmann e o estranho

Dentre os aspectos intrigantes dos filmes de David Lynch, um deles é o incômodo causado a partir de cenas cotidianas. Lynch transforma o familiar em estranho. Portanto, é inevitável que se retome um dos conceitos de Freud, o unheimlich, definido a partir do conto O homem da areia, de Hoffmann.


Luiz Antonio Mousinho, UFPB
Adaptação: Uólace e João Victor

O seriado Cidade dos Homens teve dois episódios inspirados no livro infanto-juvenil Uólace e João Victor. Pretendemos investigar os processos de adaptação da obra literária e como a linguagem da obra audiovisual vai trabalhando, em sua estrutura, aspectos temáticos como a representação da violência, o etnocentrismo e a alteridade.


Tadeu Capistrano, doutorando UERJ

A câmera dos suplícios: dor e abjeto no cinema de inícios do século XX

A estética do horror e suas transformações culturais operadas pelo cinema nas primeiras décadas do século XX, como nos filmes de Tod Browning, são o ponto de partida da investigação na qual percebe-se uma diversidade de mudanças epistêmicas propagadas pela modernidade industrial e por seus regimes de espetacularização da violência.



S3 - Cinema digital
Coordenação: André Brasil, PUC/MG

Mauro Baptista, PUC/SP
A imagem digital, o teatro e sua influencia na estética do cinema contemporâneo de baixo custo

O objetivo é estudar o cinema digital de baixo custo e suas mudanças estéticas. Analisar como os novos equipamentos leves e baratos podem liberar os cineastas do padrão de cinema de alto custo e "qualidade", impostos nos anos 80 e 90, permitindo uma maior liberdade de criação.


Maurício Hirata

A câmera na mão em Festa de família: revitalização do naturalismo cinematográfico e da dramaturgia clássica

Analisar como o uso da câmera na mão em Festa de família, de Thomas Vintenberg, resignificou este recurso formal, de origem eminentemente moderna, encaixando-o em uma dramaturgia clássica e transformando-o em um mecanismo revitalizador do naturalismo cinematográfico.


Newton Guimarães Cannito, Faculdade Casper Libero/SP

Vertov e o digital: relação entre teorias da montagem e tecnologias digitais

O objetivo é relacionar a obra do cineasta russo Dziga Vertov com as possibilidades surgidas com as novas tecnologias digitais de edição, manipulação da imagem, captação e distribuição audiovisual. Analisaremos propostas de Vertov como a teoria do intervalo e a captação da vida em improviso.


Afonso de Albuquerque, UFF

Digihad: o videoclipe e as tecnologias digitais a serviço da Jihad islâmica

Tendo por referência o videoclipe Dirty Kuffar, de Sheik Terra e Soul Salah Crew, o trabalho pretende analisar algumas questões relativas à apropriação, por proselitistas da Jihad islâmica, de formatos estéticos geralmente imaginados como "genuinamente ocidentais", como o videoclipe e das tecnologias digitais de produção e distribuição de material audiovisual.


S4 - Análises textuais: drama, literatura, cinema
Coordenação: Mariarosaria Fabris, USP

Antonio João Teixeira, Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR
Rei Lear na adaptação de Peter Brook - o bárbaro e o civilizado

A adaptação cinematográfica Rei Lear, de Peter Brook, realça o mundo bárbaro de Lear; o mundo civilizado de Gloucester se manifesta nas referências ao teatro elisabetano e nos recursos fílmicos que aludem ao cinema de arte dos anos 60. Dessa combinação, surgem significados ligados à questão da identidade nacional britânica.


Eliana Pibernat Antonini, PUC/RS

Ouvindo vozes - uma releitura de Vírginia Woolf

O filme As Horas tenta incorporar a angústia existencial de três mulheres e as redimensiona a partir de um tecido discursivo inaugural. Questionar este percurso de produção de sentido, desconstruindo-o a partir das teorizações de Umberto Eco e Jacques Derrida, é o objetivo deste ensaio que recupera em Walter Benjamim a idéia do narrador e da história. Articulando planos, revelando intertextos, subjugando o receptor e convidando-o a um passeio inferencial, o filme realiza, com precisão, um jogo de significações interditas e se projeta como um metatexto original sobre a obra Mrs. Dalloway, de Vírginia Woolf.


Genilda Azerêdo, UFPB

O País das Maravilhas de Michael Winterbottom:um diário da cidade e da solidão urbana

O filme Wonderland (1998), traduzido no Brasil como Encontros e Desencontros, e dirigido pelo inglês Michael Winterbottom, chama a atenção, de imediato, pelo uso que faz de uma série de recursos estilísticos de linguagem fílmica. Dentre tais recursos, destacam-se o movimento de câmera - o filme faz uso de câmera na mão - e enquadramento nada convencionais, produzindo imagens que refletem não só a desestabilização emocional dos personagens, mas também a atmosfera frenética e alienante do espaço urbano de uma grande metrópole (a cidade de Londres). Além disso, o uso de iluminação natural (com ênfase em cenas noturnas), aliado à constante chuva e ao drama vivenciado pelos personagens, imprime um caráter documental ao filme e solapa todo o glamour geralmente associado a Londres.


S5 - Exibição, recepção
Coordenação: André P. Gatti, FAAP

Fernando Mascarello, Unisinos/RS
Procura-se a audiência cinematográfica desesperadamente, ou Como e por que os estudos de cinema permanecem textualistas

O presente estudo propõe um mapeamento histórico-teórico dos trabalhos em torno à espectatorialidade cinematográfica realizados sob a inspiração dos estudos culturalistas de audiência, buscando compreender as razões para a tímida e insuficiente assimilação da moldura teórico-metodológica contextualista pelos estudos de cinema.


Mahomed Bamba, Faculdade de Tecnologia e Ciência - FTC/BA

Proposta para uma abordagem crítica do trailer

O objetivo deste estudo é propor uma aproximação teórica do filme promocional ou trailer e re-avaliar de forma crítica as incidências dos paratextos de caráter comercial sobre a recepção fílmica. Assim sendo, nosso estudo se insere na perspectiva de uma teoria da recepção cinematográfica extensiva, isto é, que leva em conta tanto as determinações provenientes do próprio texto fílmico quanto aquelas decorrentes dos discursos sobre o filme, a fim de chegar a uma compreensão mais ampla do processo de constituição do(s) público(s) cinematográfico(s) e dos percursos de produção do sentido no filme.


Josimey Costa da Silva, UFRN

O cinema e os vínculos sociais

Cinema como filme exibido publicamente é evento complexo inserido no contexto das práticas humanas. A sessão de cinema mobiliza o imaginário e exige a presença. Os projetos Cinema na Rua, Cinema Mambembe e Cinema BR em Movimento realizam sessões comunitárias abertas que propiciam a vinculação social significativa do encontro autêntico.


Aletéia Selonk, doutoranda PUC/RS

Distribuição cinematográfica no Brasil - um estudo comparado da distribuição da cinematografia nacional e estrangeira

Através de um estudo comparado da distribuição da cinematografia nacional e estrangeira, buscamos compreender quais são os principais agentes, práticas e políticas do setor de distribuição no Brasil. O mapeamento histórico, que é a base desta pesquisa, compreende o período de 1896 a 2002, e foi organizado a fim de proporcionar um olhar panorâmico.