Frederico Pernambucano

Os Sertões é livro que escancara dramaticamente aos olhos do País, da limitada opinião pública nacional, que ia pouco além do eixo Rio - São Paulo e de algumas das capitais mais antigas, a falha da colonização de interesse apenas litorâneo, com o abandono do sertão à sua própria sorte. Depois de séculos de ação colonial, litorâneo e sertanejo não se reconheciam como irmãos ao serem postos diante um do outro. Nesse sertão desconhecido e até misterioso, litorâneo Euclides da Cunha julgou fosse encontrar o espaço da incultura. Assim pensara quando escreveu os célebres artigos para o jornal O Estado de São Paulo, com o titulo de A nossa Vendéia.

Meses depois, ao finalmente pôr os pés no sertão, ele se surpreenderá ao encontrar ali, não a incultura que imaginara, mas uma outra cultura, tão consistente quanto a litorânea, e até superior, pelo ascetismo e pela adaptação radical ao meio físico hostil. Os passos de Euclides na busca de uma verdade turbada pela propaganda política de cunho florianista, visto que se constitui, em boa medida, o estofo de seu livro seminal. O mais é efeito do impacto emotivo do sertão e da guerra na alma do então ainda jovem Euclides da Cunha, como sublinhou Afrânio Peixoto, seu colega na Academia Brasileira de Letras.
Colaborador do trabalho Bonitas Marias, de Mônica da Rocha Carvalho, aluna de Relações Públicas da Unicap, principalmente com cessão do seu acervo sobre Lampião e Maria Bonita.